7/22/2008

FILOSOFIA 4

POPPER, Karl R. , Em Busca de um Mundo Melhor, Lisboa, Editorial Fragmentos, Lda., 2ª ed., 1989. (244 pp)
“Todos os homens são filósofos. Mesmo quando não tem consciência dos seus problemas filosóficos, têm, em todo o caso, preconceitos filosóficos. A maior parte destes preconceitos são as teorias que aceitam como evidentes. (…) Uma justificação para a existência da filosofia profissional ou académica é a necessidade de analisar e de testar criticamente estas teorias muito divulgadas e influentes.
(…) Gostaria de referir alguns exemplos de preconceitos filosóficos muito divulgados e perniciosos.
Existe uma concepção filosófica da vida, de enormes repercussões, que defende que quando algo de mau (ou algo extremamente inoportuno) acontece neste mundo alguém deve ser responsável – alguém o provocou intencionalmente. Esta concepção é muito antiga. Em Homero a inveja e a cólera dos deuses (…) no pensamento cristão é o demónio o responsável pelo mal. E no marxismo comum é conspiração dos capitalistas ávidos (…) A esta teoria acrítica do senso comum chamei a teoria da conspiração da sociedade. (…) Desencadeou, na sua procura de um bode expiatório, perseguições e sofrimentos terríveis.

(…) Um outro exemplo de preconceitos filosóficos é o de que as opiniões de um indivíduo são sempre determinadas em função dos seus interesses. (…) Isto impede-nos de estar atentos a novas opiniões e de as tomarmos a sério, uma vez que podemos justificá-las através dos “interesses” de outrem.
Deste modo não é possível, pois, uma discussão racional. (…) Em vez da interrogação realmente importante “onde está a verdade nesta questão?” outra se impõe, de muito menor relevância: “Qual é o teu interesse, quais as razões que influenciam a tua opinião?” (pp.163/5)

Eros 3 Entretantos...

As viagens, os momentos de passagem onde o tempo é mais do que habitualmente uma ponte e, por fim, a chegada, o cais. Um ideal?
No entanto, no entanto sucede que, nesses entretantos algo por vezes ocorre e o que seria sem história, ou conto, torna-se excepcional e único. Assim, naquele percurso, naquele metro entre dois nadas, um rosto atraente, uns olhos mais expressivos, ou que aos nossos não fugiram, magoam para sempre o não feito, a palavra que se não dirigiu:
- Anda, tomemos um café. Ou… vamos já pr'à cama?

BUDISMO 2

LAMA, Dalai, Ética para o Novo Milénio, Lisboa, Presença, 2003

"Possa eu ser em todos os tempos hoje e sempre
O protector dos que não têm protecção
O guia dos que perderam o caminho
Um barco para os que têm de atravessar oceanos
Uma ponte para os que têm de atravessar rios
Um santuário para os que estão em perigo
Uma lâmpada para os que não têm luz
Um refúgio para os que não têm abrigo
E o servente de todos os que precisam."

ZEN 1

SHOSHANNA, Brenda, Zen e a Arte de Amar, ed. Presença, 2007"Fazer o que é necessário que se faça a seguir""O amor começa onde a ciência acaba" (p. 152)
"A única solidão real advém de nos abandonarmos a nós mesmos, de não sermos quem realmente somos. Então voltamo-nos para outra pessoa para nos preenchermos. Quando agimos desta maneira (...) sentimo-nos abandonados e sozinhos." (p. 96)
"Aprofundai uma verdade antes de falar dela. Quando se recebe uma verdade, deve-se começar por vivê-la antes de querer propagá-la à sua volta. (...) Ao passo que se começardes a falar a torto e direito de uma verdade que acabais de aprender é certo e sabido que ela vos deixará sós, pois expuseste-la na praça pública, ela já não vos pertence e em seguida ficais de novo infelizes".

“Nas relações sadomasoquistas, um dos parceiros é dominado e vítima de abuso, e o outro é quem domina. (Os papéis podem inverter-se de tempos a tempos). Aquele que aceita o mal aceita-o porque se fixou na ideia de que é uma vítima, que é inadequado e que não merece ser amado. A culpa que sente atrai o castigo, o qual alivia temporariamente a culpa. (…) É óbvio que não há nada de amoroso neste comportamento, nem para a própria pessoa nem para o outro.
Aquele que, por fraqueza e medo da sua própria vulnerabilidade, desempenha o papel dominador sente-se muitas vezes vulnerável e descontrolado. (…) Infligir dor aos outros torna-se uma protecção relativamente à dor que está a sentir. Isto constitui não só uma degradação do relacionamento, como também é o oposto completo de um coração amoroso.
Todas estas permutas de dor e lutas de poder nos relacionamentos são o resultado de não se saber como lidar com os golpes que a vida nos dá. A permanência em relacionamentos prejudiciais ou dolorosos deve-se ao facto de não desejarmos realmente sentir, compreender e finalmente soltar a dor. O Zen ensina-nos a nunca concedermos a outrema autonomia ou a autoridade sobre a nossa vida. Cada um de nós tem a sabedoria, a força e a beleza para cuidar de tudo.
Podemos decidir, em qualquer momento (…) que já chega de dor. Quando sentimos inteiramente a nossa dor, é mais fácil desistirmos dela e escolhermos o bem-estar. A escolha é sempre nossa. Quando originamos ou permanecemos em relações que são fundamentalmente prejudiciais e negamos os princípios fundamentais do amor, é inevitável que suceda o sofrimento, tal como a noite sucede ao dia. (pp.121,2)

Facta 11 "As Palavras" de Alberto Adelach. Enc. Adolfo Gutkin, Lisboa, Trindade, 1995


"Encontraste o personagem no primeiro dia!" - Disse-me o Adolfo Gutkin. E preveniu-me do perigo que representava ter de aguentá-lo dentro de mim mais dois meses. A estreia foi na sala grande do Trindade. "Se houvesse crítica ganharias um prémio de interpretação" - animava-me ele. E a seguir às representações comentava: "Foste sublime." E se acaso lhe desagradava "Foste uma merda!" logo perguntava: "Sabes porquê?" Eu dizia que sim e ele respondia: "Então não há perigo".

Aprendi o Teatro como ritual pelo qual se pode dar a vida com Adolfo Gutkin. E antes de mim foram seus alunos Eunice Munoz, Glicinia Quartim, Luis Miguel Cintra, Jorge Silva Melo, Manuela de Freitas, Mario Branco, João Mota, Rui Mendes, Irene Cruz e tantos, tantos outros.

Obrigado Adolfo Gutkin.

7/21/2008

RUA AUGUSTA 7



O Diamantino aos quatro anos quando foi posto na Rua Augusta a pedir.

Estava-se em plena "paixão pela educação" e quando eu chamava a atenção da polícia, cheguei a ouvir "Mas ele está a fazer o "dele"!" E a minha insistencia para todas as instituições infantis e mesmo para a presidência da República, para além de junto da PSP para que averiguassem quem explorava o infante foi tanta que cheguei a receber a visita de uma delegação de quatro PSPês em casa que me vieram explicar, e de certo modo pedir desculpa, pela sua impotência: não podiam prender a criança e as instituições infantis nada faziam.

Hoje, passados 11 anos, o Diamantino lá continua. Podem sempre vê-lo (entretanto apareceram também o Igor e o Rafael) mais os cãezitos de cesta na boca. As pessoas acham muitas piada, chegam a pousar para a foto junto do "grupo", eu pergunto-me a que tortura não deve ser submetido o animal (que muda com frequência) para suportar N horas de cesto na boca e também quanto já não fez quem arrecada em casa o dinheiro. Onde as instituições de apoio à infância? Onde as instituições de denúncia de mau trato animal? (A foto respeita a um evento que então organizava na Escola Secundaria Padre António Vieira)

EROS 1

Cerro-te em meus braços
Meu sexo em ti escondido
Enquanto de línguas presas
nos tornamos deleite.

EXPOSIÇÂO 2

COW PARADE
As vacas servem para tudo: usam-se por baixo, ao lado, de frente, entre os cornos, montam-nas, naturalmente, roubam-lhe os adereços mais vulneraveis – há vacas com brincos e uma veste lingerie – e tambem já vi um cidadão pôr no cachaço da cow o seu "lulu", dizendo-lhe com ar peremptório “Aguenta-te!” como num rodeo onde o animal – o mais pequeno – devesse ser o cow boy, e tudo para a indispensavel foto.
As vacas servem para tudo e ainda só não vi uma reflexão sobre esta coisa de pegar em estátuas do ancestral animal e dá-las a pintar a artistas da nossa praça. Ou mais concretamente, sobre o que a maioria dos convidados reflectem na forma com que tratam o material base: a escultura realista do dito mamífero.
Mas também não há muito por onde variar: grande parte das vacas surgem travestidas de burguesas, encarnando os valores da sociedade que promove a cow parade e, assim, há ruminantes de lingerie – como já citei – cobertos com cores psicadélicas e frases "poéticas" vaquinhas da cor da nação, outra que fixa com o focinho uma bola, algumas delas mascaradas de camponezas, e poucas, muito poucas mesmo, onde a dignidade do animal não surge camuflada por um desejo de pô-lo ao serviço do que lhe é alheio, pois que tem a natureza a ver com símbolos do consumo ou entreténs de massa? Assim, há uma de luto, com um sinal de perigo a assinalá-la, outra onde a cor que a cobre evoca a sua representação real e lembro uma terceira com duas galinhas em cima e letreiro ao pescoço “O campo está vivo!”
Nesta coisa da cow parade – e para abreviar – o problema é que ainda existe algum campo e restam uma tantas vacas, das que não são assassinadas pelo “fast food!” (leia-se Peter Singer e a agricultura industrial) e logo, esta mostra de vaca não sabe a carne nem a peixe. A certeza que muitas crianças, a quem os pais fotografam junto à “vaquinha”, nunca viram o dito animal, a não ser esquartejado no prato, podendo mesmo imaginar a sua inexistência, e a cow parade – que poderia evocar algo definitivamente exterminado pela sociedade burguesa – o campo, o camponês e uma quantidade colossal de seres vivos – surge como a gargalhada no cemitério, quando o morto – a vaca, o campo ou o camponês - ainda batem na tampa do túmulo que os sufoca.
Cow parade, o escárneo a coroar a extinção da natureza, o seu emburguesamento, simbolizado na vaca que veste lingerie.


7/20/2008

ALTERNATIVA 7

SINGER, Peter e MASON, Jim, Como Comemos - porque as nossas escolhas alimentares fazem a diferença, Dom Quixote, 2008 (ca. 390 pp./ca. 19 euros)

« Normalmente não pensamos naquilo que comemos como uma questão de ética. (...) Tentem pensar num político cuja ambição fosse prejudicada por revelações acerca do que ele ou ela come.
Muitos caçadores-colectores têm códigos sobre quem pode matar que animais e quando. Alguns têm rituais em que pedem perdão aos animais por terem de os matar. Na Grécia e Roma antigas, as escolhas éticas em relação à comida eram consideradas pelo menos tão importantes como as escolhas ética em relação ao sexo (1). Sobriedade e comedimento na dieta, como em tudo o resto na vida eram considerados virtudes. » (p.17)

« A maioria das pessoas concorda fortemente que devemos evitar infligir sofrimento desnecessário aos animais. Resumindo a investigação recente sobre as vidas mentais dos frangos e outros animais de criação Christine Nicol, professora de Bem-Estar animal na Universidade de Bristol (...) disse : « o nosso desejo é ensinar aos outros que cada animal é um indivíduo complexo e ajustar a nossa cultura agrícola de acordo com esse facto. (8). Estamos prestes a ver até que ponto a nossa cultura agrícola teria de mudar para alcançar isso ». (p.40)

« Se entrarem num pavilhão de criação de frangos típico, sentirão uma sensação de queimadura nos olhos e nos pulmões. É o amoníaco – vem dos excrementos das aves, que são simplesmente deixados a amontoar-se no chão sem serem limpos (...) tipicamente durante o ano inteiro, e por vezes durante vários anos (...) Níveis elevados de amoníaco provocam doenças respiratórias crónicas nas aves, feridas nas patas e jarretes e bolhas no peito. Faz os seus olhos lacrimejarem e quando é verdadeiramente mau, muitas das aves ficam cegas. À medida que as aves, que são alimentadas para terem um crescimento extremamente rápido, ficam mais pesadas, torna-se doloroso estarem sempre de pé, por isso passam grande parte do tempo sentadas no meio da cama cheia de excrementos – daí as bolhas no peito. (...) O professor John Webster da Faculdade de Ciencias Veterinárias da Universidade de Bristol, disse : « Os frangos para consumo de carne são os unicos animais de criação que sofem de dores crónicas durante, pelo menos, 20% das suas vidas. Não se mexem, não por estarem amontoados, mas porque têm muitas dores nas articulações ». Por vezes as vértebras estalam, causando paralisia. As aves paralisadas ou as aves cujas patas cederam não podem chegar à comida ou à água - e como os criadores não se dão ao trabalho, nem têm tempo de verificar as aves individualmente – morrem à sede ou à fome. Tendo em conta este problema de bem-estar e o vasto número de animais envolvidos – quase mil milhões nos Estados Unidos – Webster considerou que a produção industrial de frangos é « em magnitude como em gravidade, o exemplo mais sério e sistemático de desumanidade do Homem para com outro animal senciente. (17) » (.p. 42)

« Devido à grande velocidade da linha [de abate - N.de Kriu] até o corte de pescoço que se segue ao banho de água electrificada deixa escapar algumas aves que podem passar vivas e conscientes para a fase seguinte do processo – um tanque com água escaldada.
Virgil Butler, que passou anos a trabalhar para a Tyron Foods, na sala de abate de um matadouro em Grannis, no Arkansas, matando 80 000 frangos por noite, diz (...) : « Numa noite normal, diz ele, aproximadamente um em cada três frangos estavam vivos quando iam para o tanque com água a escaldar. Segundo Butler, as aves não atingidas [pela electrocussão – N, de Kriu] são « escaldadas vivas ». Elas « tombam, guincham, esperneiam e os olhos saem das órbitas ». Muitas vezes saem « com ossos partidos e desfiguradas, sem algumas partes do corpo, por se terem debatido tanto dentro do tanque » (pp. 44,5)
« Na Grã-Bretanha um juíz deliberou em 1997 que amontoar frangos desta maneira é cruel. (...) Depois de ouvir o testemunho de muitos peritos, o juíz Roger Bel deliberou que a acusação [contra a MacDonald’s - N. de Kriu] era verdadeira : « os frangos que são usados para produzir carne para a McDonald’s (...) passam os últimos dias de vida com muito pouco espaço para se movimentarem .» declarou ele. « A severa restrição de movimento naqueles últimos dias é terrível e a McDonad’s é culpada como responsável por essa prática cruel » (pp. 41 e 46)

« Os produtos locais não têm de percorrer grandes distgancias. Isto reduz as emissões de dióxido de carbono e os materiais de embalagem. Comprar alimentos locais também ajuda a tornar a agricultura mais lucrativa e a venda dos terrenos agrícolas para construção menos tentadora » (Texto de Food routes, citado p. 177)

« Alguns pensam que a agricultura industrial é necessária para alimentar a população crescente do planeta. (…) Criar animais com base numa alimentação de cereais continua a ser um desperdício. Muito longe de aumentar a quantidade de alimentos disponíveis para consumo humano, contribui para reduzi-la. (…) Nas explorações de engorda o gado é alimentado quase exclusivamente com cereais. (…) No seu clássico de 1971 Diet for a Small Planet, ela [Frances Moore Lappé - N. de Kriu] calculou que eram precisos 18 quilos de cereal para produzir um quilo de carne e que um acre de terra destinada ao cultivo de cereais podia produzir o quintuplo de proteína destinado à produção de carne. Desde então os produtores de bovino melhoraram a sua eficácia mas, quando temos em conta o facto de que apenas cerca de metade do peso de um novilho é carne sem osso, são precisos 10 quilos de cereais para produzir um único quilo de carne (…) Mas até estes números são losonjeadores. (…) porque um quilo de carne contém muito mais água do que um quilo de cereais. A criação de frangos é menos ineficaz. Segundo o National Chicken Council bastam 2 quilos de ração para produzir um quilo de frango mas a proporção considera o peso com o animal vivo. Após o abate, depois de o sangue, as penas e os orgãos internos serem retirados, um frango de 2.2 quilos não produzirá muito mais que 1.3 quilos de carne. Isso coloca a taxa de conversão cereal-para-carne em 3 para 1, incluindo ossos e água. Deste modo os próprios números do National Chicken Council provam que, se queremos realmente alimentar-nos de uma forma eficiente, será preferível consumirmos os cereais a dá-los [aos animais N.de K].
(…) Sabemos agora que não existem diferenças significativas na qualidade da proteína entre os rebentos de soja e a carne. (pp. 275,6)

Sob o título « O que deveríamos comer » :
« Temos o direito de saber como são produzidos os alimentos que consumimos. (…)
produzir alimentos não deveria impor custos a terceiros (…) Infligir grandes sofrimento a animais por motivo insignificante é errado. (…) os trabalhadores deveriam ter salários e condições de trabalho decentes. (…) A preservação da vida e da saúde é mais justificada do que outros desejos. (pp. 319,320)

« Vitela de produção industrial : a maioria das pessoas que pensa na ética alimentar já eliminou este item. As vitelas que são criadas para carne « branca » são retiradas de junto das mães no primeiro dia de vida, colocadas em engradados tão estreitos que não podem virar-se nem andar, privadas de palha ou cama, e mantidas deliberadamente anémicas, para que a sua carne macia e pálida – na verdade cor-de-rosa, não branca – possa ser vendida ao mais alto preço. Não é preciso dizer mais nada . » ( p.322)

« podemos ser éticos sem ser fanáticos » (p. 333)

(1) Michel Foucault, Histoire de la Sexualité 2 : L’ usage des Plaisirs, Paris, Gallimard, 1984)
(8) Jonathan Leake, « The Secret Life of Moody Cows », Sunday Times, 27 de Fevereiro de 2005
(17) Jonh Webster, Animal Welfare, A cool Eye Towards Eden, Blackwell Science, Oxford, 1995, p. 156.

Direcções citadas:

www.tryveg.com

www.vegCooking

www.Goveg.com

www.veganoutrach.org

www.fairtrade-federation.org

www.greenpeople.org

www.perm.org

cadeia de super-mercados de produtos orgânicos: www.wholefoodsmarket.com

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