AAVV, Optimismo e Pessimismo Acerca do Futuro de Portugal, Lisboa, Ed. Colibri/Fundação Mário Soares, 2008 (154 pp. e ca. 8.5 euros)
Fernando Catroga:
“Seja na metáfora vintista da “pátria moribunda”, seja na concepção espiritualista e orgânico-historicista de Herculano, seja no organicismo centífico-metafísico de Antero de Quental e de Oliveira Martins, seja no organicismo historista e psicofisiológico (com a pretensão de ser cientifico) de Teófilo Braga e de republicanos positivistas, seja ainda naquele outro, nacionalista, essencialista e místico, de Pascoaes e da Renasceça Portuguesa ou, no plano politicamente oposto, de António Sardinha e seus companheiros do Integralismo Lusitano, detecta-se a omnipresença de um pano de fundo comum: a previsão (ao contrário) de que no passado existiu um momento de apogeu o qual, contudo, por culpas próprias e, sobretudo alheias, (Inquisição, Absolutismo, Napoleão, Inglaterra, etc.) virou em decadência a páginas tantas do livro da história (p.11)
(…) “diversos estudos têm detectado o peso dos vocábulos como “revolução”, “fundação”, “regeneração” no período vintista, utilizados num contexto de esperança. É sabido que, após o seu patente incumprimento, ao período que se pensou ser de consolidação de nova ordem se chamou “regeneração”, esse nome português do capitalismo (Oliveira Martins) No entanto, contra esta levantar-se-ão os jovens intelectuais dos anos 1860-1870, talvez o primeiro núcleo que tudo fará para se autoconsagrar como “geração” (veja-se o In Memoriam dedicado a Antero de Quental” (p.29)
António Pedro Pita:
"Um duplo circuito de optimismos e de pessimismos. Entre tradição e e novidade, o povo sofre o presente numa tensão não resolvida pois, por força das circunstancias imediatas, ora parece ser dominado pela força nostálgica da tradição (é o pessimismo), ora parece ser dominado pela força deslumbrada de novidades (é o optimismo) numa oscilação de expectativas e de frustrações elementares e superficiais. Entre tradição e novidade, as elites inscrevem (quer dizer, dissolvem) o presente, ora numa história como decadência, ora numa história como progresso, que supõem dominar. Mas por razões inerentes à sua própria história, oscilam entre expectativas e frustrações não socializadas, processos que se repetem sem consequências, inovações que permanecem factos sociais desenraizados.
O problema consiste em unificar esse duplo conceito: uma tarefa histórica por que espera o presente, rebelde à dissolução no passado ou num futuro. (p. 108,9)
José Gil:
"A Europa entrou numa enorme depressão. (…) durante mais de um século, gerações e gerações que se sucederam eram levadas por um movimento geral em que havia utopia, havia esperança, em que havia futuro e em que o futuro trabalhava intensamente o presente. A situação de Portugal como é que ela se pode perspectivar hoje através disto que aconteceu na Europa? Vive-se também um efeito do que aconteceu durante 48 anos, isto é, herda-se, há um consciente que se herda por gerações. Quer dizer que um jovem que nem sabe por exemplo, quem é Salazar, quem foi Salazar, e diz “Eu sou livre” não é nada livre. Ele tem ali marcado no corpo, no seu inconsciente uma série de estigmas que herdou necessariamente porque nós ainda não os varremos do nosso corpo e do nosso espírito” (p. 152)