10/04/2008

PORTUGAL 4



AAVV, Optimismo e Pessimismo Acerca do Futuro de Portugal, Lisboa, Ed. Colibri/Fundação Mário Soares, 2008 (154 pp. e ca. 8.5 euros)

Fernando Catroga:
“Seja na metáfora vintista da “pátria moribunda”, seja na concepção espiritualista e orgânico-historicista de Herculano, seja no organicismo centífico-metafísico de Antero de Quental e de Oliveira Martins, seja no organicismo historista e psicofisiológico (com a pretensão de ser cientifico) de Teófilo Braga e de republicanos positivistas, seja ainda naquele outro, nacionalista, essencialista e místico, de Pascoaes e da Renasceça Portuguesa ou, no plano politicamente oposto, de António Sardinha e seus companheiros do Integralismo Lusitano, detecta-se a omnipresença de um pano de fundo comum: a previsão (ao contrário) de que no passado existiu um momento de apogeu o qual, contudo, por culpas próprias e, sobretudo alheias, (Inquisição, Absolutismo, Napoleão, Inglaterra, etc.) virou em decadência a páginas tantas do livro da história (p.11)

(…) “diversos estudos têm detectado o peso dos vocábulos como “revolução”, “fundação”, “regeneração” no período vintista, utilizados num contexto de esperança. É sabido que, após o seu patente incumprimento, ao período que se pensou ser de consolidação de nova ordem se chamou “regeneração”, esse nome português do capitalismo (Oliveira Martins) No entanto, contra esta levantar-se-ão os jovens intelectuais dos anos 1860-1870, talvez o primeiro núcleo que tudo fará para se autoconsagrar como “geração” (veja-se o In Memoriam dedicado a Antero de Quental” (p.29)

António Pedro Pita:
"Um duplo circuito de optimismos e de pessimismos. Entre tradição e e novidade, o povo sofre o presente numa tensão não resolvida pois, por força das circunstancias imediatas, ora parece ser dominado pela força nostálgica da tradição (é o pessimismo), ora parece ser dominado pela força deslumbrada de novidades (é o optimismo) numa oscilação de expectativas e de frustrações elementares e superficiais. Entre tradição e novidade, as elites inscrevem (quer dizer, dissolvem) o presente, ora numa história como decadência, ora numa história como progresso, que supõem dominar. Mas por razões inerentes à sua própria história, oscilam entre expectativas e frustrações não socializadas, processos que se repetem sem consequências, inovações que permanecem factos sociais desenraizados.
O problema consiste em unificar esse duplo conceito: uma tarefa histórica por que espera o presente, rebelde à dissolução no passado ou num futuro. (p. 108,9)

José Gil:
"A Europa entrou numa enorme depressão. (…) durante mais de um século, gerações e gerações que se sucederam eram levadas por um movimento geral em que havia utopia, havia esperança, em que havia futuro e em que o futuro trabalhava intensamente o presente. A situação de Portugal como é que ela se pode perspectivar hoje através disto que aconteceu na Europa? Vive-se também um efeito do que aconteceu durante 48 anos, isto é, herda-se, há um consciente que se herda por gerações. Quer dizer que um jovem que nem sabe por exemplo, quem é Salazar, quem foi Salazar, e diz “Eu sou livre” não é nada livre. Ele tem ali marcado no corpo, no seu inconsciente uma série de estigmas que herdou necessariamente porque nós ainda não os varremos do nosso corpo e do nosso espírito” (p. 152)

TEATRO 15 Cartaz de "A Perca" na Fabula Urbis


9/29/2008

TESTEMUNHO 13

KURNAZ, Murat, O Meu Inferno em Guantánamo – O testemunho de um prisioneiro, Porto, Ed. Âmbar, 2008 (284 pp. e ca. 20 euros)

“Quando regressei à gaiola não acreditei nos meus olhos: havia um novo prisioneiro [Abdul - N. de Kriu] (…) teria dezanove ou vinte anos (…) já não tinha pernas. As feridas eram muito recentes. Sentei-me na gaiola e quase não conseguia olhar para lá. (…) os cotos estavam cheios de pus. (…) Foi levado para interrogatório. (…) Ergueram-no e arrastaram-no pelo corredor, os seus cotos balançavam no ar e Abdul dava gritos horríveis “ (pp. 106/08)

“Abdul não era o único a quem tinham amputado uma parte do corpo. Assisti a isso muitas vezes em Guantánamo. Sei de um prisioneiro que se queixava de dores de dentes (…) não apenas lhe arrancaram o dente doente mas também oito dentes sãos (…) Muitos [prisioneiros] tinham pernas, braços ou pés partidos porque eram frequentemente espancados com bordões. Os ossos partidos também ficavam sem tratamento. (…) Vi um homem ser levado para o interrogatório. Quando regressou tinha o braço pendente, imóvel, apenas mantido preso ao corpo pela pele e pela carne. Nunca vi ninguém com gesso. Isso sara por si, diziam os guardas. (p.109)

“Uma vez consegui descobrir uma coisa dentro daquela gaiola (…) consigo ver o corredor através de uma fenda estreita. Teria sido melhor não ter feito isso. Porque quando os guardas chegaram com a comida e eu os estou a ver através da fenda, vejo como eles cospem na comida, antes de abrirem a portinhola e estenderem os pratos! Eles cospem em todos os pratos (…) Até àquele momento eu tinha-me alegrado quando vinha a comida. (p. 163)

9/28/2008

ZEN 2

SCHILLER, David, Le Petit Livre da la Sagesse Zen, Ed. Robert Laffont, 1998 (ca. 11 euros)

Un moine demanda à Chao-choui: “Je viens d’ entrer au monastère: je t’ en prie, donne-moi um conseil.”
- As-tu mangé ton gruau de riz? – demanda Chao-choui.
- Oui, je l’ ai mangé, répondit le moine.
- Alors, va laver ton bol.

“Le Zen est le dernier mot de la philosophie, écrivit Suzuki [Daisetz Teitaro Suzuki, viveu entre 1870 e 1966, e iniciou gerações de Ocidentais no budismo Zen – N. de Kriu] le fait psychique ultime, que survient lorsque la conscience religieuse est developpée à l’ extrême (…) chez lez bouddhistes, les chrétiens, les philosophes”
(p. 263)

“Si un homme veut
être sur de son
chemin, qu’il ferme
les yeux et marche
dans l’ obscurité.
Saint Jean de la Croix



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