7/20/2008

ALTERNATIVA 7

SINGER, Peter e MASON, Jim, Como Comemos - porque as nossas escolhas alimentares fazem a diferença, Dom Quixote, 2008 (ca. 390 pp./ca. 19 euros)

« Normalmente não pensamos naquilo que comemos como uma questão de ética. (...) Tentem pensar num político cuja ambição fosse prejudicada por revelações acerca do que ele ou ela come.
Muitos caçadores-colectores têm códigos sobre quem pode matar que animais e quando. Alguns têm rituais em que pedem perdão aos animais por terem de os matar. Na Grécia e Roma antigas, as escolhas éticas em relação à comida eram consideradas pelo menos tão importantes como as escolhas ética em relação ao sexo (1). Sobriedade e comedimento na dieta, como em tudo o resto na vida eram considerados virtudes. » (p.17)

« A maioria das pessoas concorda fortemente que devemos evitar infligir sofrimento desnecessário aos animais. Resumindo a investigação recente sobre as vidas mentais dos frangos e outros animais de criação Christine Nicol, professora de Bem-Estar animal na Universidade de Bristol (...) disse : « o nosso desejo é ensinar aos outros que cada animal é um indivíduo complexo e ajustar a nossa cultura agrícola de acordo com esse facto. (8). Estamos prestes a ver até que ponto a nossa cultura agrícola teria de mudar para alcançar isso ». (p.40)

« Se entrarem num pavilhão de criação de frangos típico, sentirão uma sensação de queimadura nos olhos e nos pulmões. É o amoníaco – vem dos excrementos das aves, que são simplesmente deixados a amontoar-se no chão sem serem limpos (...) tipicamente durante o ano inteiro, e por vezes durante vários anos (...) Níveis elevados de amoníaco provocam doenças respiratórias crónicas nas aves, feridas nas patas e jarretes e bolhas no peito. Faz os seus olhos lacrimejarem e quando é verdadeiramente mau, muitas das aves ficam cegas. À medida que as aves, que são alimentadas para terem um crescimento extremamente rápido, ficam mais pesadas, torna-se doloroso estarem sempre de pé, por isso passam grande parte do tempo sentadas no meio da cama cheia de excrementos – daí as bolhas no peito. (...) O professor John Webster da Faculdade de Ciencias Veterinárias da Universidade de Bristol, disse : « Os frangos para consumo de carne são os unicos animais de criação que sofem de dores crónicas durante, pelo menos, 20% das suas vidas. Não se mexem, não por estarem amontoados, mas porque têm muitas dores nas articulações ». Por vezes as vértebras estalam, causando paralisia. As aves paralisadas ou as aves cujas patas cederam não podem chegar à comida ou à água - e como os criadores não se dão ao trabalho, nem têm tempo de verificar as aves individualmente – morrem à sede ou à fome. Tendo em conta este problema de bem-estar e o vasto número de animais envolvidos – quase mil milhões nos Estados Unidos – Webster considerou que a produção industrial de frangos é « em magnitude como em gravidade, o exemplo mais sério e sistemático de desumanidade do Homem para com outro animal senciente. (17) » (.p. 42)

« Devido à grande velocidade da linha [de abate - N.de Kriu] até o corte de pescoço que se segue ao banho de água electrificada deixa escapar algumas aves que podem passar vivas e conscientes para a fase seguinte do processo – um tanque com água escaldada.
Virgil Butler, que passou anos a trabalhar para a Tyron Foods, na sala de abate de um matadouro em Grannis, no Arkansas, matando 80 000 frangos por noite, diz (...) : « Numa noite normal, diz ele, aproximadamente um em cada três frangos estavam vivos quando iam para o tanque com água a escaldar. Segundo Butler, as aves não atingidas [pela electrocussão – N, de Kriu] são « escaldadas vivas ». Elas « tombam, guincham, esperneiam e os olhos saem das órbitas ». Muitas vezes saem « com ossos partidos e desfiguradas, sem algumas partes do corpo, por se terem debatido tanto dentro do tanque » (pp. 44,5)
« Na Grã-Bretanha um juíz deliberou em 1997 que amontoar frangos desta maneira é cruel. (...) Depois de ouvir o testemunho de muitos peritos, o juíz Roger Bel deliberou que a acusação [contra a MacDonald’s - N. de Kriu] era verdadeira : « os frangos que são usados para produzir carne para a McDonald’s (...) passam os últimos dias de vida com muito pouco espaço para se movimentarem .» declarou ele. « A severa restrição de movimento naqueles últimos dias é terrível e a McDonad’s é culpada como responsável por essa prática cruel » (pp. 41 e 46)

« Os produtos locais não têm de percorrer grandes distgancias. Isto reduz as emissões de dióxido de carbono e os materiais de embalagem. Comprar alimentos locais também ajuda a tornar a agricultura mais lucrativa e a venda dos terrenos agrícolas para construção menos tentadora » (Texto de Food routes, citado p. 177)

« Alguns pensam que a agricultura industrial é necessária para alimentar a população crescente do planeta. (…) Criar animais com base numa alimentação de cereais continua a ser um desperdício. Muito longe de aumentar a quantidade de alimentos disponíveis para consumo humano, contribui para reduzi-la. (…) Nas explorações de engorda o gado é alimentado quase exclusivamente com cereais. (…) No seu clássico de 1971 Diet for a Small Planet, ela [Frances Moore Lappé - N. de Kriu] calculou que eram precisos 18 quilos de cereal para produzir um quilo de carne e que um acre de terra destinada ao cultivo de cereais podia produzir o quintuplo de proteína destinado à produção de carne. Desde então os produtores de bovino melhoraram a sua eficácia mas, quando temos em conta o facto de que apenas cerca de metade do peso de um novilho é carne sem osso, são precisos 10 quilos de cereais para produzir um único quilo de carne (…) Mas até estes números são losonjeadores. (…) porque um quilo de carne contém muito mais água do que um quilo de cereais. A criação de frangos é menos ineficaz. Segundo o National Chicken Council bastam 2 quilos de ração para produzir um quilo de frango mas a proporção considera o peso com o animal vivo. Após o abate, depois de o sangue, as penas e os orgãos internos serem retirados, um frango de 2.2 quilos não produzirá muito mais que 1.3 quilos de carne. Isso coloca a taxa de conversão cereal-para-carne em 3 para 1, incluindo ossos e água. Deste modo os próprios números do National Chicken Council provam que, se queremos realmente alimentar-nos de uma forma eficiente, será preferível consumirmos os cereais a dá-los [aos animais N.de K].
(…) Sabemos agora que não existem diferenças significativas na qualidade da proteína entre os rebentos de soja e a carne. (pp. 275,6)

Sob o título « O que deveríamos comer » :
« Temos o direito de saber como são produzidos os alimentos que consumimos. (…)
produzir alimentos não deveria impor custos a terceiros (…) Infligir grandes sofrimento a animais por motivo insignificante é errado. (…) os trabalhadores deveriam ter salários e condições de trabalho decentes. (…) A preservação da vida e da saúde é mais justificada do que outros desejos. (pp. 319,320)

« Vitela de produção industrial : a maioria das pessoas que pensa na ética alimentar já eliminou este item. As vitelas que são criadas para carne « branca » são retiradas de junto das mães no primeiro dia de vida, colocadas em engradados tão estreitos que não podem virar-se nem andar, privadas de palha ou cama, e mantidas deliberadamente anémicas, para que a sua carne macia e pálida – na verdade cor-de-rosa, não branca – possa ser vendida ao mais alto preço. Não é preciso dizer mais nada . » ( p.322)

« podemos ser éticos sem ser fanáticos » (p. 333)

(1) Michel Foucault, Histoire de la Sexualité 2 : L’ usage des Plaisirs, Paris, Gallimard, 1984)
(8) Jonathan Leake, « The Secret Life of Moody Cows », Sunday Times, 27 de Fevereiro de 2005
(17) Jonh Webster, Animal Welfare, A cool Eye Towards Eden, Blackwell Science, Oxford, 1995, p. 156.

Direcções citadas:

www.tryveg.com

www.vegCooking

www.Goveg.com

www.veganoutrach.org

www.fairtrade-federation.org

www.greenpeople.org

www.perm.org

cadeia de super-mercados de produtos orgânicos: www.wholefoodsmarket.com

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