8/19/2011

Para Ana: Ausências com espíritos...
(por Gonçalo Luís Barra, Julho de 2011 )




Meu Amor, se eu te tivesse ouvido hoje, que bem me saberia este sono que me impele, mas não escutei a tua brisa fresca, a tua voz de mel..., envio-te um beijo apenas, um pássaro de desejo, que pouse à tua beira esta noite e te segrede, que mais do que te querer, te sofro em mim, cada momento que não te abraço, cada momento sem fim...




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Se de manhã abrisse a janela e te visse ao meu lado, era porque o Sol tinha vindo morar comigo, se eu te pudesse acompanhar, nesse ardente instante, olhar para ti e perder o equilíbrio no estar brilhante, dir-te-ia a arder e todo eu suor, que tu na minha vida és tudo, tudo o que vivi que foi melhor, por isso se adorar-te é perder-me, desaparecerei de encontro a ti, brilhante luz, calor perene...




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Esta noite se sonhares comigo lembra-te
De me dares a mão e subirmos a avenida
De deixares o sorriso iluminar-me a vida
De me levares ao jardim à flor escondida




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Hoje fiz tremer a terra com a minha mão
Semeei uma tempestade no meu ventre
Desci mar numa onda de espuma quente
Num lampejo de céu e estertor de trovão




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A noite vem hoje, mais breve que ontem, e o estio deixa a secura das acácias verter a sua goma, e nessas cápsulas de sol, ficam pérolas douradas do que fomos, fragmentos de vida, fixados na tela onde a pintamos, o que seremos, depois do Verão, depende do que se lembrar a nossa mão, da alquimia posta na têmpera com que revelarmos os dias, sonhemos, pois, com formas fortes, e cores reais, para nos pintarmos aos dois.




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O dia apareceu menos que perfeito, um lobisomem que acordou ainda com malhas de pelo de lobo no peito, com pedaços de noite e amanhecer a pender do azul, mas tu amanheceste em mim límpida e corrente, e banhaste fresca a minha face, abri os olhos em ti e vi, no teu espelho de água, apenas o céu, e a infinita vida que te enfeita, meu amor, meu mar do Sul




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Hoje para mim o dia nem começou, vivi à luz da noite toda a manhã, não dormi..., e nem sequer já vivo estou sem te ouvir, sinto a tornar-me num boneco de cortiça, indiferente à temperatura do ar, ao bater do dia-a-dia, e detenho-me como um relógio exausto, sem o fôlego dos teus dedos que o anime, num torpor desidratado de pinha caída à beira da vida.




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Se hoje à noite viste cair uma estrela, devia ser a minha alma derrubada pelo frio celeste. No festival das ilusões cadentes, o gelo pega-se-me à boca, aos olhos, fere-me o nariz e já nem sei bem respirar, arrasto apenas o ar que tenho nos pulmões, e vou a pique, enrolado, aos trambolhões, sem a tua mão que me ampare, sem o teu olhar que no meu fique.




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Hoje não teve manhã, e não terá noite, todo foi entardecer, numa gruta ensombrada de livores e palidez, cortada de espasmos invisíveis no espelho que o meu olhar já não suporta, e a mão já morta não segura, apenas pende dela escrita a profecia, de que o amor é morte, e a morte é cura, já que a vida, sem te ter, é bem mais dura.




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Vieste pétala de rosa, colar-te com o vento à minha boca, e como te sinto perto e olorosa, pétala de vida e sangue, vem depressa que já estou exangue, flor inteira, cobrir-me o corpo num abraço, e faz-me, leve como pena, e voa, leve como pássaro.




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O teu olhar feito de contas de vidro e avelãs, passou a fina nesga entre nós, e acastanhados ficaram dois mais dois acasalados, quatro olhos abraçados, como beijos, perguntas respondidas com memórias e desejos, de vidas separadas ver meãs, as mãos os gestos, as palavras, numa esperança dois olhares, a sonhar acordados.



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Quando amanhecer e te apressares, sorri, e nem por um momento penses no trabalho, pensa nas folhas ternas salpicadas de orvalho, lembranças daqui a pouco amanhecidas, ali, nas ramagens onde juntos fomos vidas, e pegadas somos, pela areia e pelos ares.




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Esta noite é a do gato, caçarei nos sete sonhos, sete noites sem te ver, sete setas que me matam, manhãs tantas que me acordam, sete vidas sem viver, garras que me penduram, à tortura de não ter o teu pecado por dia, sete beijos feitos notas que não toco, sete luas de magia que naufragam neste dia.





8/17/2011

CASSIDER, Ernst. Ensaios Sobre o Homem. Lisboa: Guimarães Editores, 1995 (ca. 190 pp. e 3 euros)

"esforçar-se a trabalhar por causa do divertimento parece estúpido e nitidamente infantil"
Aristóteles, (cit. pág. 139)

"É o começo de toda a poesia - disse Frederich Schlegel - abolir a lei e método da razão que procede racionalmente e mergulhar-nos uma vez mais na arrebatadora confusão da fantasia, o caos original da natureza humana" (p. 32)


"Pois, o artista dissolve o duro material das coisas no cadinho da sua imaginação e o resultado deste processo é a descoberta de um novo mundo de formas poéticas, musicais ou plásticas. É certo que um grande número de obras de arte ostensivas estão muito longe de satisfazer esta exigência. Compete ao juízo estético ou ao gosto artístico distinguir entre uma obra de arte genuína e os produtos espúrios que são na verdade brinquedos ou quando muito a "resposta à exigência de entretenimento"

(...)

Alguns estetas modernos acharam necessário distinguir nitidamente entre dois tipos de beleza. Um, a beleza da «grande arte», o outro, o que é descrito como a beleza «fácil». Porém, falando com rigor,  a beleza duma obra de arte nunca é «fácil». O prazer da arte não se origina num processo de abrandamento ou relaxamento mas numa intensificação de todas as nossas energias. A diversão que encontramos num jogo é o oposto da atitude que é pré-requisito necessário para a contemplaçao estética e o juízo estético" (p. 143)

8/14/2011

 "A ÚLTIMA..."
Santana Lopes provedor da Misericórdia.
Ah! Ah!

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