8/19/2008

POEMA 10 "A ALEGRIA" de FERREIRA GULLAR, poeta do Estado de Piauí, Brasil

O sofrimento não tem

nenhum valor

Não acende um halo

em volta de tua cabeça, não

ilumina trecho algum

de tua carne escura

(nem mesmo o que iluminaria

a lembrança ou a ilusão

de uma alegria).

Sofres tu, sofre

um cachorro ferido, um inseto

que o inseticida envenena.

Será maior a tua dor

que a daquele gato que viste

a espinha quebrada a pau

arrastando-se a berrar pela sarjeta

sem ao menos poder morrer?

A justiça é moral, a injustiça

não. A dor

te iguala a ratos e baratas

que também de dentro dos esgotos

espiam o sol

e no seu corpo nojento

de entre fezes

querem estar contentes.

http://portalliteral.terra.com.br/ferreira_gullar/porelemesmo/poema_brasileiro.shtml?porelemesmo

8/18/2008

FACTA 12 FESTIVAL DE TEATRO LUSO, EM TERESINA, BRASIL, COM O TEATRO EXTREMO, AGOSTO 2008






Parto para Teresina, no Estado do Piaui, Brasil, a 22 deste mês, para interpretar o papel de Avô-Lobo, na peça “Pedro e o Lobo”, encenação de Fernando Jorge.
A peça exibe-se no Festival de Teatro Lusófono, organizado pelo Grupo Harém, daquela cidade brasileira.
A peça baseia-se numa fábula de Esopo. Nesta um pastor engana os outros gritando "Vem ai o Lobo! E quando o lobo lhe aparece mesmo, bem pode gritar que ninguém o acredita…
Música ao vivo de Tiago Pereira, membro do grupo "Roncos do Diabo", desenhos ao vivo de João Queiroz e no papel de Pedro, nesta digressão, João Vasco.
Estreada no Natal de 2007 "Pedro e o Lobo", peça para todos, já foi vista por cerca de oito mil pessoas.

POEMA 9 - Eugénio de Andrade

Abrir as mãos. Como se o vento fora a
maravilha. Acariaciar-lhe a crina, a lentíssima
garganta. Deixá-lo partir, jovem ainda com
as primeiras chuvas.

www.astormentas.com/andrade.htm

8/17/2008

FILOSOFIA 5

NIETZSCHE, Friederich, O Anticristo, Lisboa, ed. 70, 2006 (Ca. 108 pp. e 9.5 euros)
“O pressuposto do Budismo é um clima muito suave, uma grande gentileza e liberalidade de costumes, nenhum militarismo; e que seja nas castas superiores e até sábias que o movimento tenha o seu foco. Quer-se como fim supremo a serenidade, o silêncio, a ausência de desejo; e atinge-se o seu objectivo. O Budismo não é uma religião em que simplesmente se aspira à perfeição: a perfeição é o caso normal.
No Cristianismo, realçam-se os instintos dos servos e dos oprimidos: são as castas mais baixas que nele procuram a sua salvação. Exercita-se aqui como ocupação, como remédio contra o tédio, a casuística do pecado, a autocrítica, o exame de consciência; aqui se mantém invariável (pela oração) a emoção perante um poderoso chamado “Deus”: o mais elevado é aqui considerado como inacessível, dom, “graça”. Falta aqui também a publicidade: o esconderijo, o lugar obscuro é cristão. Aqui se despreza o corpo e se rejeita a higiene como sensualidade; a Igreja defende até da limpeza (a primeira medida dos cristãos, após a expulsão dos mouros, foi o encerramento dos banhos públicos, dos quais existiam, só em Córdoba, duzentos e setenta).
Cristão é um certo sentido de crueldade para consigo e para com os outros, o ódio aos que pensam doutro modo; a vontade de perseguir. (…) Cristão é o ódio de morte contra os senhores da terra, contra os “nobres” (…) Cristão é o ódio contra o espírito, contra o orgulho, a coragem, a libertinagem do espírito; cristão é o ódio contra os sentidos, contra a alegria dos sentidos, contra a alegria em geral.” (p. 35)

“Por outro lado, a violação selvagem destes almas inteiramente extraviadas [os apóstolos e acompanhantes de Cristo em sua vida – N. de Kriu] não suportou já a igualdade evangélica de todos quanto à filiação divina, que Jesus ensinara, a sua vingança consistiu em elevar Jesus de um modo extravagante, em separá-lo de si (…) O Deus único e o seu único Filho: ambos são criações de ressentiment” (p.62)

“Para que serviram os gregos? Para quê os Romanos? (…) O que hoje com indizível autodomínio – com efeito temos todos ainda de algum modo no corpo os maus instintos, os instintos cristãos – reconquistámos, o olhar livre perante a realidade, a mão circunspecta, a paciência e a seriedade no que há de mais pequeno, a total probidade do conhecimento – tudo isso já lá estava! Há mais de dois milénios! E mais ainda, o tacto e o gosto bom e apurado! (pp. 96,7)

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