4/04/2009

HELEN LEVITT


Morreu Helen Levitt, a «poeta-fotógrafa» de Nova Iorque

Helen Levitt foi a «poeta-fotógrafa suprema das ruas e da gente de Nova Iorque», nas palavras de Adam Gopnik, da revista New Yorker, um dos poucos críticos a quem concedeu uma entrevista.

Avessa ao contacto com os jornalistas e sem interesse pelo fotojornalismo, a fotógrafa tornou-se conhecida em meados do século XX ao captar a preto e branco cenas fugazes nos bairros novaiorquinos de Harlem, Yorkville e Lower East Side.

Os protagonistas das suas fotografias são os transeuntes e, em primeiro lugar, as crianças.

Ficaram célebres duas fotografias a preto e branco que tirou em finais dos anos 30, princípios de 40: numa, três rapazes saem de casa para pedir rebuçados para a festa de Halloween e na outra quatro raparigas caminham pelo passeio com o olhar fixo em cinco bolas de sabão que sobem no ar. 

Teresa Palma Fernandes

FISICA 4


KLEIN, Stefan, Como o Acaso Condiciona as Nossas Vidas, Porto, Asa Editores, 2008 (Ca.430 pp. e 15 euros)

“Ao optarmos por aquilo que julgamos saber, subestimamos a importância do inesperado” (p.399)

“A natureza evolui através de passos casuais que não excluem o retrocesso. É assim que produz cada vez mais variantes. Ao contrário do que os mitos da Génese de inúmeros povos nos querem fazer crer, a vida não tem um objectivo, mas renova-se antes em constantes ramificações. E cada novo ramo conduz a um outro futuro. 

(…) Os planos podem-nos tornar cegos para a realidade (…) Enquanto sobrevalorizamos o nosso conhecimento do mundo, subestimamos o nosso talento para tirar proveito das surpresas (pp.400,1)

“O acaso obriga-nos a estar atentos” (p.402)

 

 

 

4/02/2009

FILOSOFIA 8


RUSSEL, Bertrand, A Conquista da Felicidade, Lisboa, Guimarães, ed.2009 (Ca. 230 pp. e 14.50)

“Foi na convicção de que muitas pessoas que são infelizes poderiam tornar-se felizes graças a um esforço bem dirigido que escrevi este livro” (Prefácio)

“Como tantos outros que tiveram uma educação puritana, eu tinha o hábito de meditar nos meus pecados, nas minhas loucuras e nas minhas imperfeições. 

(…) A pouco e pouco porém aprendi a ser indiferente em relação a mim próprio e às minhas deficiências: comecei a concentrar cada vez mais a minha atenção nos objectos exteriores: a situação no mundo, os vários ramos do saber, as pessoas pelas quais sentia afeição. 

(…) todo o interesse exterior incita a qualquer actividade, o que é óptimo preventivo contra a tristeza enquanto esse interesse permanece vivo.” (p.17) 




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4/01/2009

ALTERNATIVO 12

POLLAN, Michael, O Dilema do Omnívoro, Lisboa, Dom Quixote, 2009  (Ca. 432 pp. e 22 euros)

“O escritor inglês John Berger escreveu um ensaio intitulado «Why Look at Animals?» no qual sugeriu que a perda de contacto diário dos homens com os animais (…) nos deixou bastante confusos relativamente aos temas da nossa relação com outras espécies” (p. 313)

“A fábrica de animais dá-nos uma ideia dos horrores de que o capitalismo é capaz na ausência  de limites morais ou reguladores. (…) Nestes lugares desprezíveis a própria vida é redefinida – como «produção proteica» - e com ela a noção de «sofrimento». (…) as explorações de ovos são as piores (...) Esse destino está reservado para a galinha poedeira americana, que passa a sua breve vida presa, com outra meia dúzia de galinhas, numa gaiola de arame farpado cujo chão poderia ser coberto com apenas quatro folhas deste livro. Esta galinha vê todos os seus instintos naturais frustrados o que origina uma série de «vícios»  comportamentais como o canibalismo e o roçar o peito contra o arame até este ficar completamente depenado e a sangrar” (p. 324).

“Do ponto de vista de Joel [fabricante da cadeia Polyface Farm, empresa de criação de animais para alimentação onde as espécies expressam «plenamente as suas capacidades fisiológicas» N. de Kriu] a reforma começa com as pessoas que se dão ao trabalho e à despesa de comprar directamente a agricultores que conhecem (…) Joel acredita que a garantia de integridade só é possível quando comprador e vendedor se olham nos olhos (…) «Não acha estranho as pessoas preocuparem-se mais a escolher o mecânico ou o empreiteiro do que com a pessoa que lhes produz a comida?» (p.246).

«o funcionamento de uma quinta não se adapta a operações de grande escala pelas seguintes razões: diz respeito a plantas e animais que vivem, crescem e morrem» (cit. p. 220)

 

 

3/31/2009

TESTEMUNHOS 21


PHILLIPS, Adam, Monogamia, Coimbra, Angelus Novus editores, 2008. (Ca. 134 pp. e 12.80 euros)

“não é difícil aguentar o relacionamento, o difícil é manter a celebração” (p. 53)

“Nada mais escandaloso que um casamento feliz” (p.84)

“estou tão ocupado a manter debaixo de olho aquele que amo que não tenho tempo para ser livre” (p.128)



3/30/2009

CAPITALISMO 24


TODD, Emmanuel, Após  o Império – Ensaio sobre a decomposição do sistema americano, Lisboa, Ed. 70, 2002 (ca. 200 pp. e ca. 15 euros)

“Se os economistas do establishment universitário americano admitem, em geral, o aumento de desigualdades resultante do comércio livre, a estagnação da procura, em contrapartida, é assunto tabu, incluindo para falsos anticonformistas como Paul Krugman. Evocar este efeito de globalização é sinal de uma ruptura com a ordem estabelecida e só verdadeiros rebeldes  arriscam a denunciá-lo, como Chalmers Johnson (…) autor de Blowback: The Costs and Consequences of American Empire [Henry Holt and Company, New York, 2000, p. 197].

(…) A tendencia para a estagnação da procura resultante do comércio livre e da compressão dos salários é uma evidencia, o que explica a diminuição regular das taxas de crescimento mundial e as suas recessões cada vez mais frequentes. (..) Porque é realmente a estagnação da procura à escala mundial que permite aos Estados Unidos justificar o seu papel de regulador e de predador da economia “globalizada” e que os autoriza a assumir e reivindicar a função de um Estado keynesiano planetário.

(…) Esta evolução imperial da economia, que não deixa de lembrar a de Roma logo após a conquista da bacia mediterrânica, afectou de maneiras diferentes os diferentes sectores da sociedade e da economia americana. A indústria e a classe operária até então considerada integrada nas classes médias foram atingidas em cheio. A sua desintegração parcial lembra a do campesinato e do artesanato romanos, destruídos pelo afluxo dos produtos agrícolas ou dos objectos vindos da Sicília, do Egipto ou da Grécia.  No caso dos operários americanos doa anos 1970/1990 podemos falar de empobrecimento relativo e por vezes absoluto.

(…)O prodigioso aumento dos rendimentos da parte superior da sociedade americana não pode explicar-se sem o recurso ao modelo imperial, tal como a estagnação ou o crescimento muito modesto de rendimentos da maior parte da população.” (pp. 78 a 81)

3/29/2009

MENSAGEM DE TEATRO 2009, por Augusto Boal


 
Mensagem do Instituto Internacional de Tearo
por: Augusto Boal:
 
O diretor brasileiro de renome mundial é o autor, este ano, da mensagem do Instituto Internacional do Teatro (IIT) elaborada em comemoração ao Dia Mundial do Teatro, celebrado em 27 de março.  Inventor do Teatro do Oprimido e do personagem denominado “espect-ator”, Boal nos convida a subir no palco da vida para criar um mundo onde a dualidade opressores/oprimido será abolida.



Teatro não pode ser apenas um evento - é forma de vida! Mesmo quando inconscientes, as relações humanas são estruturadas em forma teatral: o uso do espaço, a linguagem do corpo, a escolha das palavras e a modulação das vozes, o confronto de idéias e paixões, tudo que fazemos no palco fazemos sempre em nossas vidas: nós somos teatro!  Não só casamentos e funerais são espetáculos, mas também os rituais cotidianos que, por sua familiaridade, não nos chegam à consciência. Não só pompas, mas também o café da manhã e os bons-dias, tímidos namoros e grandes conflitos passionais, uma sessão do Senado ou uma reunião diplomática – tudo é teatro.  Uma das principais funções da nossa arte é tornar conscientes esses espetáculos da vida diária onde os atores são os próprios espectadores, o palco é a platéia e a platéia, o palco. Somos todos artistas: fazendo teatro, aprendemos a ver aquilo que nos salta aos olhos, mas que somos incapazes de ver, tão habituados estamos apenas a olhar. O que nos é familiar torna-se invisível: fazer teatro, ao contrário, ilumina o palco da nossa vida cotidiana.


Verdade escondida  

Em setembro do ano passado fomos surpreendidos por uma revelação teatral: nós, que pensávamos viver em um mundo seguro, apesar das guerras, genocídios, hecatombes e torturas que aconteciam, sim, mas longe de nós, em países distantes e selvagens, nós vivíamos seguros com nosso dinheiro guardado em um banco respeitável ou nas mãos de um honesto corretor da bolsa quando fomos informados de que esse dinheiro não existia, era virtual, feia ficção de alguns economistas que não eram ficção, nem eram seguros, nem respeitáveis. Tudo não passava de mau teatro com triste enredo, onde poucos ganhavam muito e muitos perdiam tudo. Políticos dos países ricos fecharam-se em reuniões secretas e de lá saíram com soluções mágicas. Nós, vítimas de suas decisões, continuamos espectadores sentados na última fila das galerias.  Vinte anos atrás, eu dirigi Fedra de Racine, no Rio de Janeiro. O cenário era pobre: no chão, peles de vaca; em volta, bambus. Antes de começar o espetáculo, eu dizia aos meus atores: "Agora acabou a ficção que fazemos no dia-a-dia. Quando cruzarem esses bambus, lá no palco, nenhum de vocês tem o direito de mentir. Teatro é a Verdade Escondida".  Vendo o mundo além das aparências, vemos opressores e oprimidos em todas as sociedades, etnias, gêneros, classes e castas, vemos o mundo injusto e cruel. Temos a obrigação de inventar outro mundo porque sabemos que outro mundo é possível. Mas cabe a nós construí-lo com nossas mãos entrando em cena, no palco e na vida.  Atores somos todos nós, e cidadão não é aquele que vive em sociedade: é aquele que a transforma! 

 

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