6/07/2008

CAPITALISMO 1

SHUTT, Harry, O Declíneo do Capitalismo - Poderá um Sistema de Lucros Auto-Regulado Sobreviver?, Cascais, Produções Culturais, Ldª, 2008
(…) “mesmo quando a escada do cadafalso financeiro que se desenrolou se está a tornar insustentável, não há nenhum reconhecimento por parte dos partidos políticos dominantes ou órgãos de opinião no mundo ocidental de qualquer uma das fraquezas fundamentais do modelo de organização existente. A razão para não se confrontar a realidade do fracasso económico não é, deve ser claro, fruto de uma incapacidade por parte dos líderes mundiais em compreender a verdadeira natureza do problema subjacente. É sim, porque qualquer reconhecimento aberto da realidade conduziria à inevitável conclusão de que o sistema capitalista dominante, baseado na primazia do lucro, é agora, não só cada vez mais instável e destrutivo mas desesperadamente obsoleto relativamente às necessidades económicas modernas e aos desenvolvimentos tecnológicos. E que uma alternativa mais funcional iria inevitavelmente acabar gradualmente com o desvio ruinoso de valor económico acrescentado para os bolsos de uma pequena minoria que (através da sua riqueza desproporcionada) exerce largamente um poder político inexplicável.”
(…)
”Além disso está a tornar-se dolorosamente claro que os governos dos que supostamente são os países mais avançados do mundo estão agora tão permeados com elementos corruptos, os quais parecem ter perdido qualquer sentido de responsabilidade pelo interesse público” (pp. 7,8)

Tal como na França do séc. XVIII, a élite de hoje percebe (com muita justificação) que quaisquer iniciativas para enfraquecer os seus maiores privilégios iriam tender a levar ao fim efectivo de estruturas – particularmente as dos mercados financeiros – em que o seu poder essencialmente parasítico se baseia” (p. 114).

“Da mesma forma que se torna habitual entre empresas e instituições financeiras envolverem-se em fraudes contabilísticas descaradas com o objectivo de pintar um quadro positivo do seu desempenho financeiro, os governos também recorreram à falsificação dos registos do desempenho económico com o objectivo de evitar o surgimento do pessimismo público – e um correspondente colapso de confiança do mercado. Tais distorções (…) por razões óbvias são raramente expostas nos meios de comunicação social. Se de facto há razão para duvidar de que as modernas instituições políticas são comprovadamente mais flexíveis do que as do passado autoritário, tal pareceria ser atribuível a
a) enorme poder que os interesses dos ricos adquiriram para influenciar o processo “democrático” – ao ponto de efectivamente comprarem a totalidade dos partidos políticos ou governos e
b) a capacidade relativa (muito ajudada pela tecnologia moderna) para doutrinar o público com uma ideologia irracional, através dos meios de comunicação social (inevitavelmente dominados pelos mesmos interesses dos ricos)” (p. 113)

“O modelo de capitalismo auto-regulado, maximizador do lucro já não é compatível com as prioridades das democracias modernas (…) tem de ser abandonado em favor de crescente ênfase na redistribuição do rendimento e de riqueza baseados em princípios de equidade e cooperação (…)
Uma parte significativa do PIB poderia ser desviada da satisfação dos accionistas e especuladores para servir outras prioridades” (pp. 135 a 138)

“mesmo que aceite pelos líderes ocidentais que o problema do agravamento do caos global não pode ser ignorado, a sua resposta parece ser totalmente incoerente e irrealista – na medida em que não é possível identificar qualquer estratégia (…) neste mundo de fantasia a actual questão da desordem global é definida como um problema de “Estados fracassados”. (…) A solução sugerida agora passa por impõr de novo, de alguma forma, a hegemonia dos Estados-nações mais fortes sobre os mais fracos ou em colapso. O mais surpreendente nestas novas propostas (…) é o facto de que não só constituem uma rejeição dos princípios fundamentais das relações internacionais mais modernas mas que relembram a era europeia do absolutismo do séc. XVIII. Assim, a análise por detrás desta visão:
- prevê um retorno a uma ordem tal que teria sido aprovada por Maquievel ou Hobbes, na qual o poder e a autoridade pertencem àqueles que possuem a maior força militar, tendo os pequenos mortais de se submeter aos ditames dos fortes
(…) a (…) tese é surpreendentemente consistente com a presente estratégia norte-americana de procurar simplesmente subverter toda a ideia de princípios de Direito internacionais (pp. 146 a 148).

6/01/2008

ANARQUISMO 1

QUEIROZ, Clara, Se Não Puder Dançar Esta Não É a Minha Revolução – Aspectos de vida de Emma Goldman, ed. Assírio e Alvim, 2008.
“Um aspecto que impressiona ao estudar o seu percurso é que muitas das lutas que travou durante a vida continuam actuais. O imperialismo e as suas guerras, a precariedade da liberdade de expressão, o poder dos meios de comunicação na formação da opinião do público, a liberdade das mulheres (…) o poder manipulador e discriminatório da escola, o desemprego e, até, o direito às oito horas de trabalho
(…) Durante a sua vida Emma Goldman foi aperfeiçoando a definição de anarquismo (…) já no fim da sua vida era a seguinte:
ANARQUISMO: Libertarianismo como oposto ao autoritarismo.
O ideal de liberdade igual para todos em oposição à regra invasiva pela violência ou força, exercida por indivíduos, grupos ou governos.
“Uma filosofia do mundo, de uma nova ordem social, proposta por aplicação prática generalizada em que a liberdade igual para todos não é restringida por leis invasivas feitas pelos homens”
“Uma teoria de que a lei exercida por um grupo de homens sobre outros é o resultado de compulsão invasiva, baseada na ideia de que o Poder faz o Direito, é errada, devastadora, prejudicial e desnecessária” (pp. 98,99)

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