12/04/2008

POEMA 12 Gonçalo Barra

Segredo


Pousei nas tuas mãos uma rosa rara

Deixei cair certa mentira pura e cara

A dura côdea que me sustem a alma

Morna jaze na concha da tua palma

 

Guarda bem esse pão que é meu tesouro

Afaga no teu regaço essa rosa minha dona

E dona minha te suspiro que silêncio é ouro


















Urgência


Como se eu pudesse adivinhar entre as dobras da tua pele

Um coração que vê o mar e sente a brisa afagar-lhe o rosto

Como se as minhas mãos fossem água e a minha boca mel

Docemente a imergir até o ventre te estalar cheio de mosto

 

Estou dentro de ti, sem começo, permeio nem acabamento

Uma andorinha na busca eterna do sol a brilhar na tua alma

Serei em ti sempre nada mais do que a brisa dum momento

Um doce beijo no veludo do teu seio ao final da tarde calma

 

Festejo o calor do vento que te lambe o corpo a alma e as entranhas

A força do fantasioso ritmo que te entontece os pés e levita o desejo

Que tua boca amor reencontre fome de colher da andorinha um beijo


















Butterflies


Do sangue vermelho surgem borboletas de todas as cores,

Como se o teu magenta fosse o branco eterno e completo,

Um Sol a desvendar em si o espectro do cabo além dores,

A Boa Esperança enfeitada por asas de cromático dialecto.

 

Não vejo drama na borboleta pousada no cerejo fontanário,

Nem a vergonha brota dos vulcões sob o leito onde se esvai,

Onde a coragem ordenou lavrar sobre a pele o seu glossário,

Sílabas de fogo guardadas pelos Deuses quando a noite cai.

 

Não pedem meu perdão as marcianas borboletas que o teu rio enfeitam,

Não escuto o prenúncio da azáfama sanguinosa dos abutres em festim,

Só ouço o mensageiro vento a passar por nossas vidas e à vida dizer sim.

 

12/01/2008

PORTUGAL 6


FIGUEIRAS, Rita, O Comentário Político e a Política do Comentário, Lisboa, Paulus Editora, 2008 (ca. 542 pp. e 25 euros)

 

“Rita Figueiras vem levantar uma questão muito actual e pertinente para a avaliação do estado da democracia portuguesa: estará o espaço de opinião (…) nos media portugueses a contribuir para uma asfixiante (…) politização da opinião publicada? (…) Estas páginas merecem leitura atenta pois como eu própro penso o espaço publico português é actualmente uma babilónia de fabricadores de opinião que de tanto falarem entre si, anulam-se uns aos outros.  (J.M.P.Oliveira in Prefácio, pp. 8,9)

 “Nesta obra analizamos a democraticidade do espaço ”Opinião” e pretendemos aferir a qualidade  do debate que se trava nas colunas de opinião sobre a política portuguesa” (p.13)


“Sob o ponto de vista de muitos indicadores tem-se assistido a uma rápida aproximação do país a padrões médios das sociedades desenvolvidas (…)  O sector dos media tem acompanhado as tendências internacionais (…) O core do universo do comentário de imprensa de referencia parece denunciar os vestígios de uma sociedade mais arcaica. (…) o universo dos comentadores tem-se mantido relativamente imune às profundas mudanças ocorridas na sociedade portuguesa ao longo destes 26 anos sobre os quais existem dados sobre o espaço “Opinião” (1980-2005). (...) esta secção tem conseguido recriar-se através de um processo de selectividade e sem precisar de se abrir verdadeiramente ao exterior. (…) A persistência destas características tende, de certa forma, a dificultar algumas das transformações em curso no país, nomeadamente a autonomização do espaço “Opinião” dos referidos círculos de maior concentração de autoridade e poder, dificultando a possibilidade de ser uma instância promotora de debate público esclarecedor e o aprofundar da democracia (pp.483,4)

Nota de Kriu: O livro de RF contém vinte e cinco páginas de bibliografia relacionada com o tema dos media (pp.507,732)

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