União Europeia
( Isabel Arriaga e Cunha, in jornal “ O Público” de 2/10/2012)
A crise da zona euro só se
resolverá com uma revolução que leve à criação dos Estados Unidos da Europa dotados
de instituições federais de suporte à moeda única e que permitam conciliar a necessária
disciplina orçamental com a indispensável solidariedade. Esta posição foi ontem
defendida pelos líderes dos grupos políticos liberal e verde do Parlamento
Europeu - Guy Verhofstadt, ex-primeiro ministro belga e Daniel Cohn-Bendit, ex-líder
do movimento estudantil francês de Maio de 1968 - no quadro de um grande
manifesto para a construção dos Estados Unidos da Europa.
Para os dois líderes a crise
do euro não é "nem económica, nem financeira, mas política" e resulta
de um "vício de construção" da moeda única que, se não for
rapidamente corrigido, lhe "poderá ser fatal". Este erro resulta, por
seu lado, da ausência de um Estado capaz de suportar a moeda única e defendê-la
e aos seus membros dos ataques especulativos.
Se, "os Estados-membros
continuam ainda hoje a pensar que poderão preservar o euro escapando a "um
avanço substancial na integração europeia - estão enganados".
(…) "Não conseguiremos preservar o euro sem
alterar os Estados nações, pelo menos na sua forma actual." E das duas
uma, defendem [os dois deputados]] : "Ou emerge um Estado
federal europeu, uma Europa política pós-nacional, ou o euro desaparecerá. Não existe nenhuma solução intermédia."
"(…) não são os governos que vão resolver o problema,
são os cidadãos", defende
Cohn-Bendit. A expectativa
dos dois autores é que o próximo Parlamento Europeu seja dotado de um mandato
constituinte para a elaboração de uma "lei fundamental" europeia que
substitua as centenas de páginas dos actuais tratados.
“as políticas de austeridade
não vão resolver a crise em Portugal, Grécia ou Espanha e [os deputados] defendem
duas medidas urgentes para os ajudar: o
reforço do orçamento comunitário (hoje limitado a 1% do PIB da UE) para
permitir a formulação de políticas de crescimento económico, e a criação de um mercado
único de obrigações que poderão fornecer
a liquidez de que os países mais frágeis necessitam para se financiarem a baixo
custo.
"Hoje quando os
governos [do euro] dizem a estes países que precisam de fazer esforços, não medem
o grau de frustração, angústia e medo que estão a criar nessas
sociedades", alerta Cohn-Bendit. Em sua opinião, aliás, "o futuro da
democracia europeia joga-se em Atenas, Lisboa, Madrid ou Roma", onde o
desespero ameaça reforçar os movimentos populistas e extremistas, podendo conduzi-los
a soluções do passado, como "o regresso dos coronéis" na Grécia.