8/09/2008

PSI 3

HELLER, Eva, A Psicologia das Cores – Como actuam as cores sobre os sentimentos e a razão, Barcelona, Editorial Gustavo Gili, SL, 2007. (309 pp., ca.31 euros)

“Vestir-se de vermelho que era na Idade Média um privilégio dos nobres (…) enquanto de azul podia ir qualquer pessoa mas não em todos os tons de azul. O azul celeste luminoso era uma cor nobre, era o azul da nobreza.
Da Ásia importavam-se tecidos de seda tingidos com índigo (…) Desde o séc. XIII, os mantos de coroação dos reis franceses eram de um azul brilhante. No séc. XVII, na época de Luís XIV, quando legalizou o índigo, o azul era a cor na moda da corte. (…)
A lã e o linho coloridos, quando se tingiam com blasto, ganhavam uma cor azul turva, suja. Era a cor das classes baixas, que também usavam as criadas e os servos – algo muito prático, pois o azul é a cor em que menos se nota a sujidade.
Com o índigo veio também um novo material para as roupas toscas: o algodão. (…) os tecidos de algodão podiam-se estampar muito bem em azul. (…) Estes estampados ainda são apreciados para os trajes regionais. É que o azul sempre foi uma cor quotidiana. (…) A indumentária laboral acabou por se tingir de índigo no mundo inteiro (…) Na América e em Inglaterra chama-se aos operários blue-collar workers” (…)
Os desfiles das casas de alta-costura já não servem para vender os modelos exibidos mas sim a imagem de empresas que depois venderão produtos de massa, desde perfumes a porcelanas. (…)
Por volta de 1970 todos os tecidos se podiam tingir com tinta tão duradoura como nunca tinha acontecido: a roupa era mais barata que nunca (…) Iniciara-se a era do consumo. Os críticos da cultura falavam do “terror do consumo” e da “sociedade do esfarrapado”.
Nesta altura originou-se o movimento dos que rejeitavam o consumo, cujo símbolo eram as calças de ganga gasta” (pp. 42,4)

“Por que a Europa é azul? (…) O azul era a cor que se podia encontrar em todas as religiões mas em nenhum partido. Era a cor ideal da paz.” (p.48)

“Os antropólogos Brent Berlin e Paul Kay verificaram numa investigação sobre os nomes das cores, em 98 idiomas, que em muitas línguas simples não havia nenhuma palavra para a cor azul que se considera como um matiz do verde. Em todas as línguas aparecem primeiro as palavras para branco e preto, derivadas das utilizadas para o claro e o escuro, o dia e a noite. Depois vem a vez para o vermelho. E em seguida as palavras para o verde e o amarelo, pois o verde e o amarelo estão presentes na comida. Só em último lugar se formaram palavras independentes para o azul e para as outras cores (…) Também não temos uma palavra independente para todas as cores: “alaranjado” ou cor de laranja refere-se à cor da fruta” (p.49)

“O branco é a cor dos deuses: o deus Zeus aparece à Europa como um touro branco (…) o Espírito Santo apresenta-se como uma pomba branca (…) Não é por acaso que a residência do presidente dos Estados Unidos seja a Casa Branca” (p.157)

8/08/2008

POEMA 8

kriu agradece a Hugo Cristovão o envio deste poema de Gabriel Celaya (Cantos Iberos, Alicante, Verbo, 1955)

Cuando ya nada se espera personalmente exaltante,
mas se palpita y se sigue más acá de la conciencia,
fieramente existiendo, ciegamente afirmando,
como un pulso que golpea las tinieblas,

cuando se miran de frente
los vertiginosos ojos claros de la muerte,
se dicen las verdades:
las bárbaras, terribles, amorosas crueldades.

Se dicen los poemas
que ensanchan los pulmones de cuantos, asfixiados,
piden ser, piden ritmo,
piden ley para aquello que sienten excesivo.

Con la velocidad del instinto,
con el rayo del prodigio,
como mágica evidencia, lo real se nos convierte
en lo idéntico a sí mismo.

Poesía para el pobre, poesía necesaria
como el pan de cada día,
como el aire que exigimos trece veces por minuto,
para ser y en tanto somos dar un sí que glorifica.

Porque vivimos a golpes, porque a penas si nos dejan
decir que somos quien somos,
nuestros cantares no pueden ser sin pecado un adorno.
Estamos tocando el fondo.

Maldigo la poesía concebida como un lujo
cultural por los neutrales
que, lavándose las manos, se desentienden y evaden.
Maldigo la poesía de quien no toma partido hasta mancharse.
Hago mías las faltas.
Siento en mí a cuantos sufren
y canto respirando.
Canto, y canto, y cantando más allá de mis penas
personales, me ensancho.

Quisiera daros vida, provocar nuevos actos,
y calculo por eso con técnica, qué puedo.
Me siento un ingeniero del verso y un obrero
que trabaja con otros a España en sus aceros.

Tal es mi poesía: poesía-herramienta
a la vez que latido de lo unánime y ciego.
Tal es, arma cargada de futuro expansivo
con que te apunto al pecho.

No es una poesía gota a gota pensada.
No es un bello producto. No es un fruto perfecto.
Es algo como el aire que todos respiramos
y es el canto que espacia cuanto dentro llevamos.

Son palabras que todos repetimos sintiendo
como nuestras, y vuelan. Son más que lo mentado.
Son lo más necesario: lo que no tiene nombre.
Son gritos en el cielo, y en la tierra, son actos.

8/06/2008

ARTE 9


ARNHEIM,Rudolph, O Poder do Centro, Lisboa, ed. 70, s.d.

“Ao observar as realizações das artes ao longo dos tempos como uma tentativa colectiva da humanidade por explorar os modos incessantemente variáveis de dar forma a uma coisa – a Arte – convenci-me cada vez mais de que a composição, em qualquer estilo ou meio, deriva da intersecção de dois princípios visuais a que agora chamo os sistemas centricos e excêntricos” (p.12)

“Psicologicamente, a tendência centrica representa a atitude autocentrica que caracteriza a perspectiva e a motivação humanas (…) A criança vê-se a si própria como cento do mundo. (…) Muito cedo, contudo, o indivíduo ou grupo centrado em si próprio é compelido a reconhecer que o seu próprio centro é apenas um centro entre outros (…) Esta visão do mundo mais realista, complementa a tendencia centrica com a excêntrica (…) A tensão entre as duas tendências antagónicas tentando encontrar o equilíbrio, constitui o verdadeiro condimento da experiência humana e qualquer manifestação estética que não consiga responder a esse desafio parecer-nos-à deficiente. (pp.18,19)

“A moldura é a base em que está assente a composição de uma pintura. (…) a estrutura vazia estabelece o seu próprio centro simplesmente através da interacção dinâmica dos seus quatro lados (…) Este centro de estrutura é também o centro da composição, no sentido em que todos os pesos das formas e cores organizados pelo pintor se equilibram à volta do meio. Terá necessariamente de ser assim? Será o artista compelido a equilibrar a sua composição ou é livre de não o fazer? A resposta é, creio eu, que o equilíbrio é necessário para fazer que a afirmação do artista seja definitiva. Se a composição estiver desequilibrada, surgirá como um movimento interrompido, uma acção paralisada no seu trajecto em direcção ao estado de repouso. De forma semelhante ao que os músicos chamam a meia cadencia, tal estado intermédio fará o observador sentir que a solução necessária está ali próxima mas não foi verdadeiramente alcançada. Assim, se o artista desejar que o seu trabalho transmita preferencialmente a sua própria mensagem, em vez de estimular simplesmente o observador a encetar aquela actividade própria, a composição terá de ser equilibrada".

GESTÃO 12

DRUCKER, Peter F., O essencial de Drucker Uma selecção das melhores teorias do pai da Gestão, Lisboa, Actual Editorial, 2008.

“A sociedade de conhecimento tornar-se-á inevitavelmente muito mais competitiva do que qualquer outra sociedade pela simples razão de que, com o conhecimento acessível a todos, não existem desculpas para um fraco desempenho. Não existirão países “pobres”. Só existirão países ignorantes.
(…) “Os trabalhadores do conhecimento vão, por definição, ser especializados. O conhecimento aplicado só é eficaz quando é especializado. De facto, quanto mais especializado for, mais eficaz é.
Igualmente importante é a segunda implicação do facto de os trabalhadores do conhecimento serem, por necessidade, especialistas: a necessidade de trabalharem como elementos de uma organização. Só a organização pode proporcionar a continuidade básica que os trabalhadores do conhecimento necessitam para serem eficazes. Só a organização pode converter o conhecimento especializado do trabalhador do conhecimento num desempenho (…) A sociedade do conhecimento é uma sociedade de colaboradores."(pp. 333,4)

“Apenas no final do sec. XIX é que a fábrica, e não o proprietário, passou a ser o empregador. E só no séc. XX é que a empresa, e não a fábrica, se tornou o empregador. Só neste século é que o “amo” foi substituído pelo chefe que, ele próprio, 99 em cada cem vezes, é um colaborador que tem um chefe.” (p. 336)

8/04/2008

TESTEMUNHOS 6

SILVA, Vaz Salvador, Catedral. Primebooks, s.d.
[V.S.S, português de Lisboa, ao saber-se com um cancro múltiplo abriu um blog onde foi conversando sobre a sua experiência que, em príncipio, seria terminal… N. de Kriu]

“Foi nos seis meses que tinha pela frente que derrotei a doença, não cedendo às adversidades que representavam os inúmeros efeitos secundários ds tratamentos nem à radical alteração da minha vida diária. Estive praticamente cego, tornei-me diabético agudo devido às doses brutais de corticóides que tinha de tomar para o cérebro, estive à beira do coma, dias houve em que outras pessoas tiveram que me caarregar em ombros e amparar porque eu não tinha força para me levantar. Fui impedido de conduzir carro e moto, perdendo assim a autonomia a que estava habituado. Apesar de tudo isto, não fiquei voluntariamente na cama um único dia.
Venci a doença com todos os tratamentos sempre referidos e com centenas de Amgios a darem-me força todos os dias sem excepção, como est+a bem espelhado neste livro. Fiquei verdadeiramente impressionado com a enorme bondade e dedicação das pessoas com quem me relacionei estes meses passados, e essa realidade alterou completamente a percepção anterior que eu tinha da vida.
Ajudar desinteressadamente quem precisa de ajuda, levando junto de pessoas dedicação, atenção, força, fé e esperança é uma forma sublime de realização pessoal e de sermos úteis ao longo da vida, fazendo de nós parte do todo para contribuir para o avanço do mundo no sentido certo” (p.238)




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