1/13/2008

POLÍTICA 1

WOLFSON, Adam, in AAVV Direita e Esquerda, Divisões Ideológicas do Sec. XXI, Lisboa, Univ. Católica, 2007.
“Se não tivéssemos perdido de vista os fins próprios da educação, se não começássemos a considerá-la como uma forma de expandir os campos da memória e da velocidade de processamento do pensamento, nunca aceitaríamos a engenharia genética como uma ferramenta legítima de educação”
“Nós não estamos a submeter as máquinas à nossa vontade, estamos a lançar-nos para os seus braços”

BIOLOGIA 3


RIDLEY, Matt,
Genoma, Autobiografia de uma Espécie em 23 Capítulos, Lisboa, Gradiva, 2001.
"A mente conduz o corpo (pág. 166)
”A serotonina encontra-se ricamente presente nos macacos dominantes e muito mais diluída nos cérebros dos subordinados. Causa ou efeito: parece razoável que o comportamento dominante resulte do produto químico, e não vice-versa. Acontece que é o contrário: os níveis de serotonina respondem à percepção pelo macaco da sua posição na hierarquia, e não vice-versa.” (p.180)
“O corpo humano contém, aproximadamente, 1000 biliões (milhões de milhões) de células, a maioria das quais têm menos de um décimo de um milímetro de diâmetro. Dentro de cada célula existe uma massa negra chamada NUCLEO. Dentro do núcleo estão dois conjuntos de genoma humano (com excepção dos óvulos e dos espermatozóides que têm uma cópia cada um, e dos glóbulos vermelhos que não têm nenhum). Um conjunto do genoma vem da mãe e o outro do pai. Em princípio cada conjunto inclui uns 60 000 – 80 000 GENES nos mesmos 23 cromossomas. Na prática existem diferenças pequenas e subtis entre as versões paternas e maternas de cada gene, diferenças que explicam, por exemplo, os olhos azuis ou castanhos. Quando nos reproduzimos, transmitimos um conjunto completo, mas apenas depois de termos trocado pedaços de cromossomas paterno e materno num processo conhecido como RECOMBINAÇÂO.
Imaginemos um livro chamado CROMOSSOMA.
Cada capítulo contém vários milhares de histórias, chamadas GENES.
Cada história é feita de parágrafos, chamados EXÕES, que são interrompidos por anúncios chamados INTRÕES.
Cada parágrafo é feito de palavras, chamadas CODÕES.
Cada palavra é escrita com letras, chamadas BASES.”
(págs. 13/14)

TESTEMUNHOS 4

TAMMET, Daniel, Nascido Num Dia Azul, Lisboa, ed. Estrela Polar, 2007
O relato de alguém diferente - um autista - que nos faz sentir melhores.

SOCIOLOGIA 1

CAMPEHOUDT, Luc van, Introdução à análise dos fenómenos sociais, Lisboa, Gradiva, 2003.
“Não existe uma concepção universalmente admitida de trabalho científico em ciências sociais, sendo que o único ponto de acordo, mais ou menos geral, é o de que a própria concepção do trabalho científico em ciências sociais deve ser objecto de um intenso debate. A acumulação científica não se encontra num armazenamento de verdades mas antes num progresso na capacidade de formular, sobre melhores bases teóricas e empíricas, os desacordos” (pág. 293)
Livro acessível e de divulgação, útil para ficar ao corrente das últimas correntes teóricas da sociologia.

PSI 1

ABREU, J. P., Como tornar-se doente mental , Lisboa, Dom Quixote, 2006.
“Se as pessoas se habituam a fazer aquilo que lhes apetece já não conseguem fazer o que querem.”
“Se não mentir a si próprio, descobrirá que é uma pessoa com limites e deixará de querer ir a todas, como fazem os fóbicos. Também não será dono da verdade nem tão importante como são os paranóicos. Não será o mais perfeito, o que fica para os obsessivos, nem tão brilhante ou poderoso como os histriónicos ou psicopatas. Não será uma pessoa muito original como os esquizofrénicos, nem um génio como os maníaco-depressivos. Será apenas uma pessoa comum que aceita os desafios e os paradoxos da vida, faz o possível por, em cada momento, dar o que pode e actuar em conjunto com os outros. No entanto, tem de assumir a responsabilidade completa pelas suas acções. Afinal, todos fomos expulsos do Paraíso e condenados à solidariedade. Fizemos de fraquezas forças e, uns com os outros, construímos coisas admiráveis. Convenhamos entretanto que tudo isto é muito complicado, pouco gratificante e difícil de fazer. Fácil, fácil é mesmo tornar-se doente mental. (do Epílogo)

POLÍTICA 2

NEGRI, António e SCELSI Adeus Sr. Socialismo, Porto ed. Âmbar, 2007.
“Como se consegue governar uma multidão? Procuro trabalhar esta questão maquiavélica para perceber consequentemente como pode a multidão revoltar-se. (p. 170)
Selci: Não te parece que não só estamos numa fase em que o interlocutor de amanhã é construído como, também, hoje, o do passado deixou de ter ligitimidade para falar e que entre estes cenários poderia existir uma tal destruição generalizada das garantias sociais que nos conduzisse a uma situação ao estilo de Dickens, a uma modernidade caracterizada por uma grande pobreza disseminada de megapólis compostas de plebes que vivem em situações incríveis?”
Negri: Acredito pouco na repetição destes cenários de miséria” (p. 170)

“A criança quando nasce é pobre, à volta dela investem-se discursos, afectos, relações; a criança é um discurso que nasce, a criança é o início do comum, mesmo se indesejada. O enjeitado sempre foi uma figura lindíssima deste ponto de vista” (P. 198)

“O fim do welfare deixa à autonomia social da multidão o enorme espaço para a reconstrução do comum: é face a estes problemas que as organizações da chamada esquerda já não sabem o que dizer ou fazer”

“A religião entra em campo para encobrir o vazio da política perante a plenitude da vida. É claro que a religião intervém de forma não democrática, que o fanatismo expresso à volta da intangibilidade divina do vital esconde, no nevoeiro do mistério, a possibilidade de práticas humanas de amparo e modificação do ser vivo. A religião mais uma vez situa-se contra a ciência. Mas tudo isso acontece precisamente porque a religião substitui a Democracia, reprimindo o saber e a alegria de transformar o mundo que só os laicos conhecem” (P. 198)

“O comum é a Rede, a série de bens materiais que permitem reproduzir-nos e produzir, movermo-nos e/ou fazermo-nos transportar de um lado para o outro da cidade, etc. Em suma, aquela série de coisas que nos permitem construir linguagem (bibliotecas, livros, tecnologia, informática open, instrumentos de comunicação enquanto tal). O comum +e a série completa de instrumentos de permuta entre sujeitos que se tornou rede de valor de uso, subsumido na liberdade. A Esquerda é nova e democrática quando se aplica à gestão do comum e na construção igualitária de redes de cooperação cada vez mais amplas. Enquanto isto não se consolidar como programa não pode haver nova Esquerda. De facto o que é hoje a Esquerda? Não é mais do que uma forma, entre outras, de gestão do capital e da estrutura capitalista do poder. (P. 133)

“As fronteiras que os migrantes atravessam são(-lhes) reconstruídas no interior dos países capitalistas” (p. 106)

“O problema (da Esquerda) é reinventar a produção em torno da livre participação do produtor. O produtor não pode senão ser livre e democraticamente capaz. O imigrado também. O problema grave reside em reinventar a produção projectando novas formas de cooperação e associação em torno de grandes projectos produtivos”.

ARTE 4

ECO, Humberto (dir.), História do Feio, Lisboa, Difel, 2007.
“A palavra kitsch remontaria à segunda metade do séc. XIX quando os turistas americanos, em Munique, querendo comprar um quadro, mas gastando pouco, pediam um esquisso (sketch. Daí o termo acabaria por indicar uma mercadoria vulgar para compradores de sejosos de experiências eséticas fáceis. Todavia, em dialecto meclemburguês já existia o verbo kitschen para “apanhar lenha na estrada”. Outra acepção do mesmo verbo seria “pintar móveis para parecerem antigos” enquanto também existe o verbo verkitschen para “vender barato”. Mas quem considera o kitsche pacotilha? A alta cultura define kitsche os anõezinhos do jardim, as pequenas imagens de devoção, os falsos canais venezianos dos casinos de Las Vegas, o falso grotesco do célebre Madonna Inn californiano, que pretende fornecer ao turista uma experiência “estética” excepcional. E kitsche foi definido, irremediavelmente, a arte celebrativa (que se queria popular) da ditadura estaliniana, hitleriana ou mussolínica que etiquetava como “degenerada” a arte contemporânea. (p. 394).
A essência do kitsche consiste na troca de categoria ética pela categoria estética, isto é, o artista impõe-se não um “bom” trabalho mas um “belo” trabalho, importando-lhe sobretudo o belo efeito” (Herman Broch, O Mal no Sistema de Valores da Arte (1933) citado p. 403)
“O sentimento do sublime nasce do facto de uma coisa decididamente hostil à vontade do homem se tornar objecto de pura contemplação (…) o atraente, ao contrário, faz com que o espectador desça da contemplação pura, necessária à compreensão do belo, seduzindo pela força a sua vontade com objectos que imediatamente a lisonjeiam (…) Na pintura histórica e na escultura, o atraente consiste em repreentar figuras nuas que, pelas poses, pelos meios vestidos e conjunto de composição, tendem a despertar a sensualidade no espectador; e isto destrói a contemplação estética e age em oposição ao fim da arte” (Arthur Schopenhauer in O mundo como vontade e representação” III, 40 (1819) citado p. 400)
“O camp é uma forma de sensibilidade que, mais que transformar o frívolo em sério (como poderia ter acontecido com a canonização do jazz nascido como música de postíbulo) transmuda o sério em frívolo. O camp nasce como sinal de reconhecimento entre os membros de uma elite intelectual, tão seguros do seu gosto refinado, que podem decidir a redenção do mau gosto de ontem, tendo por base um amor pelo inatural e pelo exagerado, cuja evacuação é o dandismo de O. Wilde para quem “ser natural é uma atitude tão difícil de manter” como escrevia em Um Marido Ideal. O camp não se vende pela beleza (…) mas pelo grau de artifício e de estilização e não se define tanto como estilo quanto como uma capacidade de olhar para um estilo alheio. No objecto camp deve haver algum exagero e alguma marginalidade (diz-se que “é demasiado bom ou demasiado importante para ser camp” e também alguma vulgaridade, mesmo quando pretende ser refinado. O elenco de coisas que Sontag define como objecto de olhar camp é heterogéneo e vai das lâmpadas Tiffany a Beardsly de “O Lago dos Cisnes” e das operas de Bellini às realizações de Visconti para Salomé, de certos posters fim-de-século a King Kong, das velhas bandas desenhadas de Gordon e roupas femininas dos anos 20 até aquilo que a critica cinematográfica mais refinada define como “os dez melhores filmes feios que já vi” (p. 408)

CAPITALISMO 9

SPAR, Debora L., O Negócio de Bebés, Coimbra, ed. Almedina, 2007.
“A tese central deste livro é que existe, não obstante, um mercado de bebés, um mercado que se estende a todo o mundo e envolve centenas de milhares de pessoas. (…). É um mercado repleto de tecnologia mas relutante em admiti-lo, um mercado em que os vendedores embrulham muitas vezes os seus artigos na linguagem da caridade.” (págs. 249/50)

“Um dos temas centrais deste livro é a afinidade entre todos os sectores do comércio de bebés. A adopção, o tratamento de fertilidade, a maternidade de substituição, até mesmo a engenharia genética – todos eles estão intimamente relacionadas entre si e com a promessa que encerram de providenciar filhos àqueles que desejam tê-los. (…) Enquanto sociedade temos, no entanto, de reconhecer estes meios como os substitutos que são. As analogias com o mercado podem ser desagradáveis aqui mas lançam uma luz de objectividade sobre aquilo que, de outro modo, se deixa colorir pela emoção. (…) Temos de considerar e, por último, regulamentar essas partes como um todo” (pág. 264)

A autora convida a uma visita de estudo ao site
www.rainbowkids.com

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