GOLGBERG, Rosellee, A Arte da Performance, Lisboa, Ouro Negro, 2007
"A performance passa a ser reconhecida como meio de expressão artístico independente na década de 1970. Nessa época, uma arte que não se destinasse a ser comprada ou vendida estava no seu apogeu e a performance, frequentemente uma demonstração, ou execução, dessas ideias, tornou-se assim a forma de arte mais visível deste período. Surgiram espaços dedicados às artes da performance nos maiores centros artísticos internacionais, os museus patrocinavam festivais, as escolas de arte introduziam a performance nos seus cursos e fundavam-se revistas especializadas."
(...)
"Afinal os artistas não se serviam de performance para pura e simplesmente atrair publicidade sobre si próprios, mas com o objectivo de pôr em prática diversas ideias formais e conceptuais na base da criação arística."
(...)
"Devido à sua postura radical, a performance tornou-se um catalisador na história da arte do século XX; cada vez que determinada escola - quer se tratasse do cubismo, do minimalismo ou da arte conceptual - parecia ter chegado a um impasse, os artistas recorriam à performance para demolirem categorias e apontar para novas direcções. Além do mais, no âmbito da história da vanguarda - refiro-me aqui aos artistas que, sucessivamente, lideraram o processo de rutpura com a tradição - a performance situou-se, ao longo do século XX, no primeiro plano dessas actividades: uma vanguarda de vanguarda.
(...)
Os manifestos de performnce, desde os futuristas até aos nossos dias, representam a expressão de dissidentes que têm procurado outros meios de avaliar a experiência artística no quotidiano. A performance serve para comunicar directamente com um grande público, bem como para escandalizar os espectadores, obrigando-os a reavaliar os seus conceitos de arte e a sua relação com a cultura. O interesse recíproco do público por tal meio de expressão artística, sobretudo na década de 1980, provém de uma aparente vontade de ter acesso ao mundo da arte, de se tornar espectador dos seus rituais e da sua comunidade diferenciada, de se deixar surpreender pelas criações inusitadas, sempre transgressoras, destes artistas. A obra pode ter a forma de espectáculo a solo, ou em grupo, com iluminação, música ou elementos visuais criados pelo próprio performer ou em colaboração com outros artistas e ser apresentada em lugares como uma galeria de arte, um museu, um "espaço alternativo", um teatro, um bar, um café ou uma esquina. Ao contrário do que acontece na tradição teatral, o performer é o artista, quase nunca uma personagem, como acontece com os actores, e o conteúdo raramente segue um enredo ou uma narrativa nos moldes tradicionais. A performance pode também consistir numa série de gestos íntimos ou numa manifestação teatral com elementos visuais em grande escala e durar apenas alguns minutos ou várias horas; pode ser apresentada uma única vez ou repetidas vezes e seguir, ou não, um guião, tanto pode ser feita de improvisaçao espontânea como dar lugar a meses de ensaios. (in Prefácio)
"É a própria presença do artista performativo em tempo real, a "suspensão do tempo" pelos performers ao vivo, que confere a este novo meio de expressão uma posição central.
(...)
A expressão "arte de performance" tornou-se um signo abrangente que designa todo o tipo de apresentações ao vivo - desde intalações interactivas em museus a desfiles de moda altamente criativos ou a apresentações de DJs em clubes nocturnos - obrigando o público e os críticos a deslindarem as respectivas estratégias conceptuais, verificando se estas se enquadram melhor nos estudos de performance ou numa análise mais convencional de cultura popular."
(...)
"No passado a história da arte de performance assemelhava-se a uma sucessão de vagas: ia e vinha (...) Desde a década de 1970, porém esta sua história tem sido mais constante; en vez de de desistirem da performance, após um breve período de envolvimento activo (...) inúmeros artistas (...) têm trabalhado exclusivamente com a performance. (Págs. 281,2)