ZIEGLER,
Jean, O Ódio ao Ocidente, Lisboa: Círculo
de Leitores, 2012 (ca. 328 pp. e 20 euros)
“Raramente
na História os Ocidentais deram mostra de uma tal cegueira, de um tal desinteresse, de um tal cinismo como este
que hoje demonstram. A sua ignorância das realidades é impressionante. E assim
se alimenta o ódio.” (p. 297)
“A
que se deve esta explosão dos preços das matérias-primas no mercado mundial? [No
primeiro trimestre de 2008 o arroz aumentou no mercado mundial 59% e os preços
do trigo, milho e milho miúdo em média 61% - Nota de Kriu] A sua causa assenta no acumular dos efeitos
de três estratégias, aplicadas pelos Ocidentais.
A 1ª é obra do FMI. Para conter a dívida externa acumulada dos países ditos em via de desenvolvimento, o FMI
impõe periodicamente aos mais pobres planos ditos de ajustamento estrutural. Na
prática todos estes planos privilegiam a agricultura de exportação à custa das
culturas alimentares. Por uma razão simples: só exportando algodão, soja,
acúcar de cana, óleo de palma, café, cacau, etc. o país devedor poderá obter
divisas. Ora nem os juros nem a amortização da dívida externa podem ser
financiados em moeda local. Por isso há que procurar divisas seja como for.
Deste ponto de vista o FMI funciona como guardião impiedoso dos interesses dos
grandes bancos de crédito das sociedades
multinacionais ocidentais.
Ao mesmo tempo o FMI contribui para aniquilar a agricultura
alimentar em imensos países do sul. Onde crescem o algodão ou a cana de açúcar
não crescem nem o arroz nem o milho miúdo ou a mandioca. (…)
A especulação desempenha um papel importante na
subida brutal dos preços (…) oito ou nove sociedades ocidentais controlam hoje
o essencial do mercado mundial dos bens alimentares.
(…)
A 3º estratégia em causa é a que implica a
conversão maciça dos alimentos de base em agrocombustíveis, sob pretexto de
luta contra as alterações climatéricas. (…) para encher o depósito de um automóvel
médio que funcione a bioetanol são queimados 358 kg de milho e 358 kg de milho
são suficientes para garanir a vida de uma criança do Méxivo ou da Zâmbia (onde o milho é a base de
alimentação) durante todo o ano. As sociedades agroalimentares ocidentais
realizam lucros astronómicos com o biodiesel e o bioetamol. E que rebentem os
pobres da metade do sul do planeta (pp. 297 a 300)