5/25/2008

EUROPA 1

SLOTERDIJK, Peter, Se a Europa Acordar, Reflexões Sobre o Programa duma Potencia Mundial no Termo da sua Ausência Política, Lisboa, Relógio d’ Água, 2008.

“Hoje a “intelligentsia” europeia deve a si própria um exemplo de que a política praticada em grande é possível para lá do império e do desprezo imperialista. O poder que se exerce a partir de Bruxelas sobre a grande Europa encontra-se agora perante uma escolha. Ou quer passar para um imperialismo mais ou menos aberto, nomeadamente sob influencia de cenários sugestivos que profetizam uma guerra económica entre os Estados Unidos, o Japão e a Europa, bem como uma guerra mundial por infiltração do Sul contra o Norte. Ou compreende que a sua oportunidade reside na translação do Império para um não-império, uma nova união de entidades políticas. Se se decidir por um novo Império, perde o resto da sua alma e provoca o seu próprio desaparecimento por depravação nas três gerações futuras. Apenas com a herança da ambição e do cinismo, nenhuma cultura percorrerá nem que sejam cem anos suplementares. Só a recusa de todo e qualquer tipo de desprezo dará à nova Europa o fôlego longo da verdade que anima as mais íntimas pretensões ao êxito. Uma coisa é, porém, inegável: se acordar, a Europa virá a si própria numa época de tempestades. Os nossos contemporâneos que espreitam o futuro poderão sentir que folheiam um catálogo de misérias anunciadas. Podem animar-se com o dito do herói do mar Vasco da Gama que correu o mundo em barcos à vela e, uma vez, gritou para a tripulação desesperada durante uma tormenta no oceano Índico: “Avante, homens, treme o mar de nós!” Para nós, a nova política começa com a arte de criar palavras que designarão o horizonte aos homens que vogam no navio do real” (p. 60)

ATTALI, Jacques, Europe, Paris, 1994
“Será então necessário que a(s) Europa(s) se aceite(m) não já como um clube cristão mas como um espaço sem fronteiras, da Irlanda até à Turquia, de Portugal à Rússia, da Albânia à Suécia; que privilegie culturalmente o nómada relativamente ao sedentário, a generosidade relativamente ao recolhimento sobre si próprio, a tolerância relativamente à identidade, em resumo, a multipertença relativamente à exclusão. Os debates recentemente abertos sobre o direito de ingerência humanitária e sobre o direito de voto dos estrangeiros, sobre a cidadania e sobre o direito de asilo abrem caminho para essas mutações” (pp. 196-197)


VALERY, Paul, La Crise de l’ Esprit, Varités I, Paris, 1924
«Onde quer que domine o espírito europeu, vemos aparecer o máximo de necessidades, o máximo de trabalho, o máximo de capital, o máximo de rendimento, o máximo de ambição, o máximo de modificação da natureza exterior, o máximo de relações e de intercâmbio.
Este conjunto de máximos é Europa ou imagem da Europa.
Por outro lado, as condições desta formação e desse desequilíbrio espantoso radicam evidentemente na qualidade dos indivíduos, na qualidade média do Homo Europaeus. É notável que o homem da Europa não seja definido pela raça, nem pela língua, nem pelos costumes, mas sim, pelos desejos e pela amplitude da vontade…”

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