1/09/2009

DESTAQUE 2 Texto da "Platafoma Gueto.

Nota do Destaque 

Kriu desconhece o que envolveu a morte do jovem Kuku. 
Publica o texto da denominada "Plataforma Gueto" porque, relate o texto a verdade dos factos, ou não, o seu teor merece uma reflexão. 
(Do texto retirou-se um parágrafo contendo a direcção para entrega de donativos. O sublinhado é do texto original)


"Mais um jovem negro e pobre assassinado pela polícia.
 
A plataforma Gueto não pode deixar de denunciar mais uma execução sumária, com pena de morte, dum jovem negro por parte da polícia, e um julgamento injusto feito no tribunal dos media, que condenou o nosso irmão e absolveu mais um assassino.
 
Uma perseguição policial do passado domingo, 4 de Janeiro às 21h, ditou a morte de Kuku, com apenas 14 anos.
Segundo a versão "oficial" de fontes policiais os agentes identificaram o carro furtado, onde seguiam 4 jovens, no bairro de Santa Filomena. Por não terem respeitado a ordem para parar, a polícia iniciou uma perseguição que só acabou no bairro da Quinta da Lage quando os jovens abandonaram o carro e continuaram a fuga a pé. Depois de terem disparado tiros para o ar, a polícia alega que Kuku, que foi o último a sair da viatura, apontou uma arma de calibre 6.35 a um agente, tendo este, em legítima defesa, disparado um tiro que o feriu mortalmente na cabeça. Outro irmão foi ainda atingido com uma bala na perna.
 
Ainda na sua versão oficial a polícia declara que o agente não atirou para a matar. Quem não quer matar não aponta uma arma à cabeça, portanto a intenção do agente era matar ou teria apontado a outra parte do corpo. 
 
Na manhã seguinte os media iniciaram a sua propaganda, usando apenas as fontes policiais, para sujar a imagem do jovem e legitimar a acção do polícia, alegando que se tratava de um jovem referenciado por crimes violentos.
Com esta propaganda os media conseguiram transmitir a ideia de se tratar dum jovem violento que era uma ameaça para os agentes, e para a sociedade, bem como glorificar a polícia por mais uma "missão cumprida": assassinar um negro.
 
Como se não bastasse a idade de Kuku, 14 anos, para que este não pudesse ser considerado um criminoso violento, o mesmo foi referenciado como tal apenas por furtos, dos quais não resultou nenhuma condenação. Ainda que tal tivesse acontecido, em nenhum dos casos houve uso de violência. Tendo em conta aquilo os media têm propagandeado nos últimos meses como "criminalidade violenta" só prova que esta usa e abusa de tais critérios sem nenhum rigor para operar a sua propaganda racista e continuar a fomentar o medo dos imigrantes seus descendentes na opinião publica.
 
Segundo os jovens envolvidos na fuga, o carro em que seguiam já tinha sido furtado anteriormente, tendo estes, sabendo que estava abandonado, aproveitado o facto para nele se dirigirem ao bairro de Santa Filomena onde iam ver um jogo de futebol. Os mesmos disseram ainda que Kuku não trazia nenhuma arma consigo.
Tal como os restantes ocupantes do carro, vários amigos que estiveram com Kuku naquele dia, negam tê-lo visto com qualquer arma, e acrescentam ainda que nunca viram Kuku armado quer com faca, quer com pistola, e duvidam bastante que ele fosse capaz de apontar uma arma a outra pessoa e muito menos a um agente "Kuku era um puto.. ainda que tivesse uma arma, jamais a apontaria a um bófia". Eles descrevem-no como "calado, tranquilo, talvez até um pouco tímido".
 
Estes afirmam ainda que Kuku estava marcado desde um episódio em que, logo após acordar, e tendo dormido em casa, foi abordado pela polícia na sua porta, alegadamente por ter sido visto a conduzir um carro roubado nessa madrugada. Indignado negou qualquer relacionamento com o que quer que fosse que tivesse ocorrido naquela madrugada e ao ser agredido e arrastado pelo chão Kuku resistiu à detenção apelando aos seus direitos. A sua resistência originou ainda mais agressividade da polícia. Kuku tentou resistir e só a intervenção da mãe e outros familiares demoveu os agentes de quaisquer que fossem as suas intenções.
 
Kuku foi julgado e executado pela polícia à semelhança de Angoi, Tony, Tete, Corvo, PTB, etc. Nos últimos meses vários irmãos foram perseguidos e agredidos nas ruas, nas carrinhas e dentro das esquadras. Este não foi um acidente, nem um acto isolado, foi o desfecho que já esperávamos. Destes assassinatos e agressões nunca resultou  uma única condenação. Pelo contrário a polícia têm sido aplaudida pelo Ministro da Administração Interna e pela opinião pública manipulada, pela propaganda racista dos media.  Resta uma conclusão: face a esta impunidade a polícia tem "luz verde" para matar jovens negros em Portugal. Já não acreditávamos que fosse feita qualquer justiça nos tribunais mas agora sabemos mais que isso.
Num país que nem aplica a pena de morte, até um "criminoso violento" teria direito a um julgamento antes de ser executada qualquer pena. Mas para nós negros, a pena de morte está em vigor e a "justiça" não é lenta, é veloz feita na hora pela polícia. O nosso julgamento é feito todos os dias na imprensa matinal e no noticiário das oito.
Apelamos à mobilização de tod@s os irm@s contra a violência policial, a propaganda racista e contra a opressão autoritária. Se a impunidade, o conformismo e o silêncio  continuarem os assassinatos continuarão também. 
 (...)
Plataforma Gueto. Sem Justiça não haverá Paz.
Plataforma.gueto@gmail.com"

1/08/2009

DESTAQUE 1 "Circunspecção de mau gosto" na revista "Visão"

por: Ricardo Araújo Pereira

Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009

Julgo que a opinião da directora da DREN, Margarida Moreira, segundo a qual a ameaça a uma professora com uma arma de plástico foi uma brincadeira de mau gosto, é uma brincadeira de mau gosto. Mais uma vez se prova que a crítica de cinema é extremamente subjectiva. Eu também vi o filme no YouTube e não dei pela brincadeira de mau gosto. Vi dois ou três encapuzados rodearem uma professora e, enquanto um ergue os punhos e saltita junto dela, imitando um pugilista em combate, outro aponta-lhe uma arma e pergunta: «E agora, vai dar-me positiva ou não?» Na qualidade de apreciador de brincadeiras de mau gosto, fiquei bastante desapontado por não ter detectado esta antes da ajuda de Margarida Moreira.

Vejo-me então forçado a dizer, em defesa das brincadeiras de mau gosto, que, no meu entendimento, as brincadeiras de mau gosto têm duas características encantadoras: primeiro, são brincadeiras; segundo, são de mau gosto. Brincar é saudável, e o mau gosto tem sido muito subvalorizado. No entanto, aquilo que o filme captado na escola do Cerco mostra aproxima-se mais do crime do que da brincadeira. E os crimes, pensava eu, não são de bom-gosto nem de mau gosto. Para mim, estavam um pouco para além disso – o que é, aliás, uma das características encantadoras dos crimes. Se, como diz Margarida Moreira, o que se vê no vídeo se enquadra no âmbito da brincadeira de mau gosto, creio que acaba de se abrir todo um novo domínio de actividade para milhares de brincalhões que, até hoje, estavam convencidos, tal como eu, que o resultado de uma brincadeira é ligeiramente diferente do efeito que puxar de uma arma, mesmo falsa, no Bairro do Cerco, produz.

O mais interessante é que Margarida Moreira, a mesma que agora vê uma brincadeira de mau gosto no que mais parece ser um delito, é a mesma que viu um delito no que mais parecia ser uma brincadeira de mau gosto. Trata-se da mesma directora que suspendeu o professor Fernando Charrua por, numa conversa privada, ele ter feito um comentário desagradável, ou até insultuoso, sobre o primeiro-ministro. Ora, eu não me dou com ninguém que tenha apontado uma arma de plástico a um professor, mas quase toda a gente que conheço já fez comentários desagradáveis, ou até insultuosos, sobre o primeiro-ministro. Se os primeiros são os brincalhões e os segundos os delinquentes, está claro que preciso de arranjar urgentemente novos amigos.


1/06/2009

TESTEMUNHOS 16 "NO ME CALLO!"


BART, Jones, NO ME CALLO! A biografia explosiva de Hugo Chávez, Parede, Ministério dos Livros, Editores, 2008  (Ca. 530 pp. e 33 euros)

“O Governo afirmava que a RCTV desempenhara um papel activo num golpe contra o presidente, em 2002, e as suas actividades – por exemplo, com jornalistas e políticos, defendendo na televisão que o presidente deveria ser deposto – nunca seria autorizada nos Estados Unidos: a Comissão Federal das Comunicações tê-la-ia encerrado imediatamente. No entanto, quando a RCTV mais tarde saiu do ar depois de o Governo ter recusado a renovação de licença, Chávez foi alvo de um ataque a nível mundial” (p.11)


“Chávez foi eleito em eleições livres e imparciais e ganhou mais três referendos para escrever e aprovar uma nova Constituição. Nas cadeias não havia presos políticos. Não havia partidos da oposição ilegalizados. Não foram alvo de censura nenhum jornal, nem estação de rádio, apesar de, na sua maioria, se oporem violentamente a Chávez. Foi respeitada a propriedade privada.(…) «Nem mesmo os seus críticos mais constantes podem impugnar a fundamentação democrática do poder de Chávez» escrevia o Newsweek, quando o elegeu «o Latino-Americano do ano». (p.306)

 

“À sua volta, os adversários do Consenso de Washington neo liberal estava a ascender ao poder (…) Começou com a eleição de (…) Lula da Silva, o primeiro presidente do Brasil oriundo da classe operária. Foi seguido por Néstor Kirchner, na Argentina (…) Tabaré Vazquez, o primeiro socialista eleito presidente no Uruguai. (…) Evo Morales(…) o primeiro nativo indígena eleito presidente da Bolívia 

(…) Morales (…) cresceu numa família tão pobre que, quando era criança, corria atrás dos autocarros para apanhar as cascas de laranja e bananas que os passageiros atiravam das janelas. Por vezes era tudo o que conseguia arranjar.” (pp. 477,8)


“Chávez (..) Introduziu a ideia de solidariedade em vez da competição (...) O exemplo mais óbvio foram os Acordos que assinou com vários países por toda a América Latina (…) Em troca Chávez recebeu de tudo, desde médicos cubanos a vacas argentinas e arroz das Caraíbas” (p.502)

 

“Chávez comentou que (…) esperava que alguém como Barack Obama ganhasse. «Alguém com quem, pelo menos, seja possível dialogar” (p.535)  

1/04/2009

Fernando Pessoa (texto enviado por João-Paulo Azevedo)


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não
esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela
vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no
recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter
medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para
ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

Fernando Pessoa 

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