5/24/2011

Petição à Câmara Municipal do Porto

Desde a criação formal da Associação Animais de Rua, que hoje tem âmbito de acção nacional mas nasceu na cidade do Porto, temos tentando colaborar com a Câmara Municipal desta cidade, no sentido de implementar de forma conjunta um programa CED (Capturar-Esterilizar-Devolver) nas colónias de gatos da cidade, em alternativa à captura e abate destes animais, que é o método seguido actualmente pela Câmara Municipal.



Infelizmente, apesar de todos os nossos contactos, a Câmara Municipal do Porto (CMP) tem preferido ignorar os nossos argumentos, e continua a capturar e abater estes animais - o que, para além de cruel e desumano, é comprovadamente ineficaz como método de controle populacional de gatos de rua e, aliás, não tem tido qualquer resultado prático apesar de ser usado há mais de 30 anos. Não conseguimos sequer obter por parte da CMP o compromisso de não abate dos animais esterilizados e controlados pela associação.



Acresce que a CMP acaba de lançar uma campanha exortando os munícipes a deixar de alimentar os animais que vivem nas ruas, parecendo acreditar que, dessa forma, conseguirá atingir o referido objectivo de controle populacional. (segue na base deste email o texto do panfleto divulgado pela CMP)



Ora, como sabemos, tanto a captura e abate como as proibições de alimentar os animais são ineficazes pelos motivos que são explicados com detalhe aqui http://www.animaisderua.org/informacoes/alternativas_falhadas_ao_ced e que foram devidamente explicados à CMP.



Em suma, a remoção permanente dos animais irá despoletar um fenómeno designado por efeito de vácuo e que leva os gatos residentes nas colónias limítrofes a ocupar o espaço deixado vazio pela colónia anterior e reproduzir novamente até ao limite da capacidade do espaço, num ciclo vicioso que leva apenas à substituição de animais e não ao controle do seu número.



Pedir às pessoas que deixem de alimentar os animais também não resulta, porque está mais do que provado que as pessoas que se preocupam com os animais de rua e que sempre os protegeram são absolutamente incapazes de lhes negar alimento e assistir ao seu sofrimento - basicamente, vê-los morrer à fome.



Portanto, está na altura de a CMP rever a sua posição e, à semelhança do que acontece já em virtualmente todos os países desenvolvidos e acontece também já a nível nacional nas Câmaras Municipais de Sintra e Cascais e na Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, com as quais a Animais de Rua estabeleceu protocolos de cooperação, a única forma de atacar este problema pela raiz, de forma ética e eficiente, será através do estabelecimento de campanhas de esterilização em massa.



Não se percebe como é que, sendo o Porto a cidade-berço da Animais de Rua, e uma das cidades onde a associação tem mais trabalho feito, a Câmara Municipal se mostra tão indiferente aos nossos esforços por desempenhar um trabalho que é um serviço público e que lhe competiria a si realizar.



Pedimos-lhe, por isso, que mostre a sua indignação junto da CMP e exija a revisão da política do município relativamente ao controle de colónias de gatos de rua. Acredite que a sua participação faz a diferença e só se conseguirmos uma adesão em massa por parte dos nossos apoiantes, conseguiremos ajudar os animais de rua da cidade do Porto! Por favor use todos os contactos da CMP (número de telefone, endereços de email e fax) para fazer chegar a sua opinião sobre este assunto.



É importante não nos limitarmos a demonstrar descontentamento mas apresentarmos uma solução alternativa concreta, que não envolve mais custos para a CMP e que traz resultados rápidos e comprováveis - a Animais de Rua apresenta a proposta do CED e apenas precisa que a CMP aceite a sua colaboração.



Contactos da CMP:



geral@cm-porto.pt, presidencia@cm-porto.pt



Tel. 222 097 000 Fax 222 097 100







Também podem ser deixados comentários no site da CMP, aqui:



http://www.cm-porto.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=cmp.stories/16690







Por favor envie o seu protesto em bcc para geral@animaisderua.org, para podermos registar o número de protestos enviados. Quantos mais meios de contacto usar, maiores serão as probabilidades de sermos ouvidos. Se puder, use também o fax ou telefone para além dos endereços de email.







Texto sugerido para munícipes do Porto:







Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto



Dr. Rui Rio







Enquanto munícipe da cidade do Porto e apoiante da Associação Animais de Rua, venho rogar-lhe que altere a política da Câmara Municipal relativamente ao controle populacional de animais errantes.







Os métodos de captura e abate e as proibições de alimentação de animais de rua são obsoletos, desumanos e comprovadamente ineficazes enquanto métodos de controle de populações de animais de rua, pelos motivos que a Animais de Rua explica com detalhe aqui http://www.animaisderua.org/informacoes/alternativas_falhadas_ao_ced



A remoção permanente dos animais irá despoletar um fenómeno designado por efeito de vácuo e que leva os gatos residentes nas colónias limítrofes a ocupar o espaço deixado vazio pela colónia anterior e reproduzir novamente até ao limite da capacidade do espaço, num ciclo vicioso que leva apenas à substituição de animais e não ao controle do seu número.



Pedir às pessoas que deixem de alimentar os animais também não resulta, porque está mais do que provado que as pessoas que se preocupam com os animais de rua e que sempre os protegeram são absolutamente incapazes de lhes negar alimento e assistir ao seu sofrimento - basicamente, vê-los morrer à fome.



O único método de controle populacional de gatos de rua que resulta, e que é usado já em todos os países desenvolvidos, é o CED (Capturar-Esterilizar-Devolver), através do qual os animais são capturados, esterilizados, desparasitados e tratados caso apresentem alguma patologia e devolvidos novamente ao seu meio, formando uma colónia controlada, silenciosa, sem maus cheiros, alimentada em recipientes adequados e limpos de forma a não colocar em risco a saúde e salubridade públicas, e cujo número de elementos diminuirá dramaticamente ao longo do tempo.



Enquanto munícipe desta cidade, não desejo ver o valor dos meus impostos ser aplicado de forma ineficiente e em políticas que causem sofrimento aos animais.



Enquanto apoiante da Animais de Rua, rogo à CMP que reconheça o serviço público que é realizado por esta associação na cidade do Porto e que está à vista de todos nós, e aceite a colaboração da associação na resolução de um problema que necessita de uma abordagem ética, eficiente e rigorosa. Trabalhando em cooperação com associações que têm know-how comprovado nesta área, será certamente mais fácil atingirmos o nosso objectivo comum de controle populacional de animais errantes no município do Porto.



Na expectativa de notícias sobre este assunto por parte da CMP, e sendo certo que não desistirei enquanto não obtiver uma resposta positiva, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos,



Nome completo



Endereço de email e profissão - opcional



Cidade







Texto sugerido para munícipes de outras localidades:











Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto



Dr. Rui Rio







Enquanto apoiante da Associação Animais de Rua, venho rogar-lhe que altere a política da Câmara Municipal relativamente ao controle populacional de animais errantes.







Os métodos de captura e abate e as proibições de alimentação de animais de rua são obsoletos, desumanos e comprovadamente ineficazes enquanto métodos de controle de populações de animais de rua, pelos motivos que a Animais de Rua explica com detalhe aqui http://www.animaisderua.org/informacoes/alternativas_falhadas_ao_ced



A remoção permanente dos animais irá despoletar um fenómeno designado por efeito de vácuo e que leva os gatos residentes nas colónias limítrofes a ocupar o espaço deixado vazio pela colónia anterior e reproduzir novamente até ao limite da capacidade do espaço, num ciclo vicioso que leva apenas à substituição de animais e não ao controle do seu número.



Pedir às pessoas que deixem de alimentar os animais também não resulta, porque está mais do que provado que as pessoas que se preocupam com os animais de rua e que sempre os protegeram são absolutamente incapazes de lhes negar alimento e assistir ao seu sofrimento - basicamente, vê-los morrer à fome.



O único método de controle populacional de gatos de rua que resulta, e que é usado já em todos os países desenvolvidos, é o CED (Capturar-Esterilizar-Devolver), através do qual os animais são capturados, esterilizados, desparasitados e tratados caso apresentem alguma patologia e devolvidos novamente ao seu meio, formando uma colónia controlada, silenciosa, sem maus cheiros, alimentada em recipientes adequados e limpos de forma a não colocar em risco a saúde e salubridade públicas, e cujo número de elementos diminuirá dramaticamente ao longo do tempo.



Não desejo ver o valor dos meus impostos ser aplicado de forma ineficiente e em políticas que causem sofrimento aos animais.



Enquanto apoiante da Animais de Rua, rogo à CMP que reconheça o serviço público que é realizado por esta associação na cidade do Porto e que está à vista de todos nós, e aceite a colaboração da associação na resolução de um problema que necessita de uma abordagem ética, eficiente e rigorosa. Trabalhando em cooperação com associações que têm know-how comprovado nesta área, será certamente mais fácil atingirmos o nosso objectivo comum de controle populacional de animais errantes no município do Porto.



Na expectativa de notícias sobre este assunto por parte da CMP, e sendo certo que não desistirei enquanto não obtiver uma resposta positiva, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos,



Nome completo



Endereço de email e profissão - opcional



Cidade







Texto do panfleto da CMP:



Saiba que



O excesso de alimento provoca o aumento descontrolado das populações de animais, mesmo as indesejadas, como os ratos e ratazanas. Os animais são transmissores de doenças e parasitas ao homem. Os riscos são maiores quando há animais em excesso e existe um contacto próximo com pessoas vulneráveis como as crianças, os idosos e os imunodeprimidos.



As pombas e as Gaivotas



As pombas e as gaivotas na Cidade são autosuficientes. Não necessitam que as pessoas os alimentem. As pombas e as gaivotas são responsáveis pela destruição do património edificado, dos monumentos, das habitações, dos pavimentos e pela conspurcação da via pública assim como dos automóveis.



Os gatos



Os gatos que vivem nas ruas têm uma vida bastante mais curta do que os que estão em casa com os seus donos, pois estão sugeitos a doenças, acidentes, lutas e maus tratos.



O número de gatos existente nas cidades depende da quantidade de alimento disponível, o excesso de alimento pode levar a que uma colónia de 5 gatos/Km2 cresça para densidades superiores a 100 gatos/Km2. São frequentes as reclamações associadas aos gatos da cidade, nomeadamente, infestações com pulgas, maus cheiros, estragos em automóveis, e conspurcação de logradouros e jardins com fezes.



Afinal a origem dos incómodos que temos sentido nos últimos anos está (nas ?) nessas atitudes diárias.



Cabe a todos nós retomar o equilíbrio entre a natureza e a cidade. Como agir



• Não alimente os animais (pombas, gatos, gaivotas) que encontra na cidade para que estes tenham a sua função na natureza e o seu número permaneça controlado.



• Mantenha o seu gato em casa ou numa área vedada e esterilize?o de forma a não aumentar o número de gatos indesejados que se tornam vadios.



• Esteja atento, os animais ingerem qualquer alimento disponível, incluindo lixos, o que lhes é prejudicial.



• Acondicione correctamente os seus resíduos, fechando a tampa dos contentores ou colocando o saco na rua apenas na hora da recolha.



• Não deite lixo nem alimentos para o chão.



Associação Animais de Rua — Esterilização e Protecção de Animais em Risco

http://www.animaisderua.org/

geral@animaisderua.org











5/16/2011

DESTAQUE

16 de Maio de 2011

Caros amigos,

A lei homofóbica de Uganda caiu! Parecia que seria aprovada na semana passada, mas depois da petição com 1,6 milhão de assinaturas entregue ao parlamento, das dezenas de milhares de chamadas telefônicas para nossos governos, das centenas de reportagens na mídia sobre nossa campanha e de uma manifestação global massiva, os políticos ugandenses desistiram da lei!



Estava prestes a ser aprovada -- extremistas religiosos tentaram aprovar a lei na quarta-feira, e então concordaram com uma sessão de emergência sem precedentes na sexta-feira. Mas a cada vez, no espaço de algumas horas, nós reagimos. Um enorme parabéns a todo mundo que assinou, ligou, encaminhou e doou para essa campanha -- com sua ajuda, milhares de pessoas inocentes na comunidade gay de Uganda não acordam nessa manhã enfrentando a execução apenas por causa de quem escolheram amar.



Frank Mugisha, um corajoso líder da comunidade gay em Uganda, enviou-nos essa mensagem:



"Corajosos ativistas LGBT ugandenses e milhões de pessoas ao redor do mundo ficaram juntos e enfrentaram essa horrenda lei homofóbica. O apoio da comunidade global Avaaz pesou na balança para evitar que essa lei fosse adiante. A solidariedade global fez uma enorme diferença."



O Alto Representante da Secretaria de Negócios Estrangeiros da União Europeia também escreveu para a Avaaz:



"Muito obrigado. Como vocês sabem, em grande parte graças ao lobby intensivo e esforço combinado de vocês, de outros representantes da sociedade civil, da União Europeia e outros governos, mais nossa delegação e embaixadas no local, a lei não foi apresentada ao parlamento esta manhã."



Essa luta não acabou.

(...)

Transformar as causas mais profundas da ignorância e do ódio por trás da homofobia é uma batalha histórica e de longo prazo, uma das grandes causas da nossa geração. Mas Uganda tornou-se uma linha de frente nessa batalha, e um símbolo poderoso. A vitória lá ecoa através de muitos outros lugares em que a esperança é extremamente necessária, mostrando que bondade, amor, tolerância e respeito podem derrotar ódio e ignorância. Novamente, um enorme obrigado a todos que tornaram isso possível.



Com enorme gratidão e admiração por essa incrível comunidade,



Ricken, Emma, Iain, Alice, Giulia, Saloni e toda a equipe Avaaz.

5/14/2011

HESSEL, Stephane, Indignai-vos. Lisboa: ed. Objectiva, 2011 (ca. 51 pp. E 5.13)







"A crise, apesar dos desastres que tem causado, paralisando o funcionamento da União, pode ter a vantagem de acordar a Europa para a necessidade absoluta de mudar de paradigma, fazendo avançar a Europa para uma estratégia conjunta que defenda o euro, com dimensão política, económica e cultural. Ou avança nesse sentido ou entra em decadência, perdendo o lugar que ainda tem na cena internacional”

Mário Soares (in prefácio)



“Ousam dizer-nos que o Estado já não consegue suportar os custos destas medidas sociais. Mas como é possível que actualmente não tenha verbas para manter e prolongar estas conquistas quando a produção de riqueza aumentou (...) Apenas porque o poder do capital, tão combatido pela Resistência, nunca foi tão grande, egoísta, com servidores próprios até nas mais altas esferas do Estado” (p. 21)



“Sarte ensinou-me a pensar: «Somos responsáveis enquanto individuos». Era uma mensagem libertária (...) temos de militar em nome das responsabilidade individual enquanto seres humanos “ (p.24)



“A pior das atitudes é a indiferença, dizer «como não posso fazer nada, desenvencilho-me como posso». Este tipo de atitude conduz à perda de um dos componenetes essenciais do ser humano (...) a capacidade da indignação e a consequente militância.” (p. 27)



“Hoje em dia a minha principal indignação é relativa à Palestina, à faixa de Gaza e Cisjordânia. (...) É essencial ler o relatório Richard Goldstone sobre Gaza”(p. 31)



“Estou convencido de que o futuro pertence à não-violência, à concliliação de culturas diferentes” (p 34)



“Em Março de 1980, três semanas antes da sua morte, Sartre declarou: «É preciso tentar explicar porque é que o mundo actual, que é horrível, é apenas um momento no longo desenvolvimento histórico, que a esperança foi sempre uma das forças determinantes das revoluções e insurreições, e como eu ainda sinto a esperança como a minha concepção de futuro.” (p. 36)

 
“Está mais do que na altura de a preocupação com a ética, a justiça e o equilíbrio duradouro se tornar preponderante” (p. 37)

 
“Criar é resistir"

5/07/2011

Gonçalo Luís Barra





Escrevo para me entrever e atrevo

A pensar que é para ti que escrevo






Pois pelo meio de ti me vejo
Quando o papel em branco me pede um beijo
E na arte de oscular me perco, horas fora de ti e tão perto






Que te sinto como vento na minha fronte
E na barca vou como Caronte
Ao lugar obscuro onde te encontro, onde és luar e eu sou monte.

4/27/2011

GALVÃO, Pedro (org), Filosofia Pública. Os Animais Têm Direitos? Perspectivas e Argumentos. Lisboa: Dinalivro, 2011 (ca. 238 pp. e 15 euros)



“Em parte por ser tão nova (ou pelo menos por quase não ter estado representada) na filosofia ocidental, a ética ambiental não encontra qualquer definição estabelecida nos glossários da terminologia filosófica. Aldo Leopold, no entanto, é reconhecido niversalmente como o pai ou o génio fundador da recente ética ambiental. A sua “ética da terra” tornou-se um clássico moderno (...) Leopold é de opinião (..) de que os sistemas éticos tradicionais do Ocidente não atribuiram estatuto moral aos seres não humanos (1) os animais e as plantas, os solos e as águas, que Leopold inclui na sua comunidade de beneficiários éticos, tradicionalmente não gozaram de qualquer estatuto moral, de quaisquer direitos (...) Um aspecto fundamental e novo da ética da terra de Leopold, portanto, é a extensão da considerabilidade ética directa das pessoas a entidades naturais não-humanas.” (pp. 131,2)





“a carne comprada nos supermercados, externamente empacotada e internamente embrulhada em petroquímicos, de animais engordados em fazendas e abatidos impessoalmente e, em geral, processada mecânicamente desde a inseminação artifical até ao forno de microondas é uma afronta, não só ao metabolismo físico e à saúde do corpo, mas também à consciência moral” (p.171)



“A ética da terra (...) À questão de saber o que comer, responde: não vegetais em vez de animais mas comida produzida orgânicamente em vez de comida produzida mecânico–quimicamente. (...) isto é, caçar e consumir animais selvagens e colher plantas comestíveis selvagens, vivendo assim dentro dos parâmetros do nicho ecológico humano primitivo” (p.47)



(1) John Passmore (“The Treatment of Animals”, Journal of The History of Ideas 36 [1975] 196-218) oferece um estudo bem fundamentado e revelador das ideias históricas sobre o estatuto moral dos animais no pensamento ocidental”

4/20/2011

PIMENTA, Irene Flunser, A Cada Um O Seu Luger - A Política Feminina no Estado Novo. Lisboa: Círculo de Leitores, 2011 (ca. 455 pp. e 19.90 euros)



“O abono de família começou por abranger em Portugal os trabalhadores por conta de outrém da indústria, do comércio, das profissões liberais ou ao serviço de organismos corporativos e de coordenação económica, deixando de fora os trabalhadores a domicílio e os rurais. Era atribuído ao «chefe de família» (...) com «bom comportamento» moral e profissional e «casado com famíia legitimamente constituída», ao trabalhador solteiro, viúvo, divorciado ou separado com família a cargo, mas só à mulher casada no caso de «invalidez ou desemprego do marido» (p. 108)


"Apesar da aparente valorização das tarefas públicas e privadas femininas, as mulheres no Estado Novo foram discriminadas através de leis que as colocavan sob a autoridade masculina, lhes proibiam inúmeras profissões e lhes atribuíram, sem alternativas, espaços específicos de actuação dos quais não podiam sair." (p. 395)



“Lembre-se que em 1941, apesar dos «prémios às famílias numerosas» mais de 150 crianças por mil morriam antes de atingir o primeiro ano de idade” (p. 406)

4/18/2011

ECONOMIA

Manifesto dos Economistas Aterrados - Crise e Dívida na Europa - 10 Falsas Evidencias - 22 Medidas para sair do Impasse. Lisboa: Actual Editores, 2011 (ca. 86 pp. e 5 euros)








“A Europa foi construída, durante três décadas, a partir de uma base tecnocrática que excluiu as populações do debate sobre a política económica. A doutrina neoliberal que assenta na hipótese – hoje indefensável – da eficiência dos mercados financeiros deve ser abandonada. É necessário abrir o espaço de políticas possíveis e colocar em debate propostas alternativas e coerentes, capazes de limitar o poder financeiro e de preparar a harmonização, no quadro do progresso dos sistemas económicos e sociais europeus. Isto supõe a partilha mútua de importantes recursos orçamentais obtidos através de desenvolvimento de uma fiscalidade evolutiva fortemente redistributiva. Também é necessário libertar os Estados do cerco dos mercados financeiros. Apenas deste modo o projecto de construção europeia poderá encontrar a legitimidade popular e democrática de que hoje carece. Não é realista supor que os 27 países europeus decidam, ao mesmo tempo, encetar uma tamanha ruptura face ao método e objectivos da construção europeia. A Comunidade Económica Europeia (CEE) começou com seis países; do mesmo modo a refundação da União Europeia passará inicialmente por um acordo entre alguns países que desejem explorar caminhos alternativos. À medida que se tornem evidentes as consequências desastrosas das políticas actualmente adoptadas, o debate sobre as alternativas crescerá por toda a Europa. As lutas sociais e as mudanças políticas surgirão a ritmos diferentes, consoante os países. Os governos nacionais tomarão decisões inovadoras. Os que assim o desejem deverão adoptar formas de cooperação reforçadas para tomar medidas audazes em matéria de regulação financeira, de política fiscal e de política social. Através de propostas concretas, estenderemos os meios aos outros povos para que se juntem a este movimento.


É por isso que nos parece importante esboçar e debater, neste momento, as grandes linhas das políticas económicas alternativas, que tornarão possível esta refundação da construção europeia.” (pp. 76,7)





“A crise é interpretada não como o resultado inevitável da lógica dos mercados desregulados mas sim como um efeito da desonestidade e irresponsabilidade de actores financeiros” (p. 27)






“Com o aumento do poder dos accionistas, impôs-se uma nova concepção de empresa e da sua gestão, pensada como estando ao serviço exclusivo da criação de valor para o accionista. E desapareceu assim a ideia de um interesse comum inerente às diferentes partes vinculadas à empresa” (p. 34)






“O aumento da dívida pública na Europa (...) não é (...) o resultado (...) de políticas sociais dispendiosas mas sim o resultado de uma política que favorece as camadas sociais privilegiadas: as «despesas fiscais» (descida de impostos e contribuições) aumentaram os rendimentos disponíveis daqueles que menos necessitam (...) que, desse modo, puderam aumentar ainda mais os seus investimentos, sobretudo em Títulos de Tesouro, remunerados em juros pelos impostos pagos por todos os contribuintes. Em suma, através da dívida pública estabeleceu-se um mecanismo de redistribuição invertido, das classes populares para as classes mais favorecidas, cuja contrapartida é sempre a renda privada.” (p. 51)










“A visão hoje dominante em Bruxelas e no seio da maioria dos governos nacionais é (...) a de uma Europa Liberal, cujo obejectivo está centrado em adaptar as sociedades europeias às exigências da globalização (...) A construção europeia configura-se deste modo como uma forma de impor aos povos as reformas neoliberais” (pp. 58,9)










“Esta corrida pela degradação social foi ganha pela Alemanha que conseguiu gerar importantes excedentes comerciais à custa dos seus vizinhos e sobretudo, dos seu próprios assalariados, impondo uma descida dos custos do trabalho e de prestações sociais que lhe conseguiu uma vantagem comercial face aos outros Estados membros, incapazes de tratar de forma igualmente violenta os seus trabalhadores” (p. 64)






“Enquanto os governantes de outros países da Zona Euro podem sempre financiar-se junto do seu Banco Central, os países da Zona Euro renunciaram a essa possibilidade, passando a depender totalmente dos mercados para financiar os seus défices. Num só golpe, a especulação financeira abateu-se sobre os países mais frágeis da Zona Euro: Grécia, Espanha e Irlanda. (P. 70)


4/15/2011

DESTAQUE - Agora que todos "descobrem" os erros do passado, devo citar-me para mostrar uma visão do Portugal d'alguns anos atrás... (in Ressurrreição, publicado em http://carlosgouveiamelo.blogspot.com/)




Cinco de Junho de 1984

A mediocridade no poder confrange e ainda por cima sai cara. Mas compreendo a táctica dos novos senhores: estrangulam economicamente a população fazendo-a aceitar já só o circo em vez de também o pão.









Dez de Outubro de 1984

A ruptura. Certos homens que se servem da política falam na ruptura do sistema. A nível dos serviços colectivos apenas assisti a uma melhoria: uma composição de metro que proporciona mais conforto. No resto do país desconheço. Tomar uma bebida num local onde nos atendam com educação não é possível, a não ser que se pague três ou quatro vezes mais. Os sítios deterioram-se, quer pela frequência de uma clientela cada vez mais empobrecida, a qual entretanto não foi educada e perdeu mesmo raízes, quer por remodelações que os transformam em lugares incaracterísticos.

Nas parangonas os jornais anunciam os milhares de contos atribuídos ao futebol.

O governo, em vez de se definir como conjunto de homens interessados em proporcionar instrução e um projecto nacional, trabalha contra si próprio, satisfazendo as necessidades do circo. É difícil manter a situação de observador a tal ponto são flagrantes a má governação e a falta de clarividência. Suportei cinco horas de espera numa fila para comprar impressos numa repartição e muitas pessoas terão entretanto faltado ao emprego.









Dezassete de Outubro 1984

O poder de compra decresce e, nas ruas, surgem formas inhabituais de ganhar a vida mais a prostituição a ganhar novas zonas. No metro, as pessoas levam os olhos no chão e, ao menor motivo, disputam-se. A tensão é grande e o transporte colectivo penoso, devido ao ambiente de desânimo e frustração. Incidentes sem importância degeneram em algazarra. A quantidade de pessoas mortas pela polícia já não é pequena, graças ao hábito de atirar ao corpo, quando uma salva para o ar bastaria. Não sei se é possível nova revolta para breve. As pessoas andam derrubadas e as manifes, que exibem bandeiras negras a simbolizarem a fome, tornaram-se quotidianas. Onde chegará o mal-estar?

Na compra de um simples selo o funcionário nunca tem moedas para o troco e os preços sobem a tal velocidade que raro é o bilhete de transporte, cinema ou mera entrada para uma piscina que não apresente o antigo preço riscado e o carimbo do novo ao lado. Ninguém acredita que no governo a eficácia presida a atribuição de cargos e a descrença no Estado é generalizada.

Político tornou-se sinónimo de trapaceiro, senão mesmo de ladrão.

A desconfiança e a falta de perspectiva alastram.







Vinte quatro de Outubro de 1984

Pego no jornal e um título evidencia-se: "Veneno ao jantar mata casal e dois filhos": outro suicídio colectivo, no caso perpetrado pela mãe que preparou uma refeição de insecticida para a família, a acrescentar ao pai que matou a mulher e o filho, etc. etc. Por entre as constantes passeatas e banquetes dos políticos o povo pobre desespera e mata-se.

Não lembra ao diabo que a esperança de Abril tenha frutificado neste país, nem tão pouco que esta gente, de semblante pesado e triste, desse outrora vivas a uma nova vida, discutindo na rua a polis e dançando contente.







Sem dia marcado em Outubro de 1984

As decorações transformam-se em novas-ricas e agressivas. A pequena-burguesia, até há pouco contida no proletariado, dá de braços com a televisão colorida e, não havendo a preocupação de educá-la, a tudo emporcalha. Há uma nova classe poderosa: a dos políticos. Mas na assembleia nacional falta com frequência o quorum. Uma sociedade em decadência porque nada a une e o ponto comum é a insatisfação que todos sentem. Isto é, exceptuando os que governam.







6 de Julho de 1988

As coisas, ao nível onde me situo, o do pequeno-burguês sem carro que toma o pequeno-almoço na pastelaria e apanha o transporte público para o trabalho, não funcionam.

De um lado, os que dirigem não imaginam o que seja esperar transporte numa paragem sem resguardo, viver em bairros sem espaços verdes, andar aos zigue-zagues nos passeios por causa dos automóveis neles estacionados; do outro lado, escassamente viajados e que nunca se confrontaram com outros modos de vida, estão os que tudo isto sofrem, anestesiados por kilómetros de telenovelas e demais panaceias, (para não falar do branqueamento dos livros escolares, acerca das épocas em que, de facto, protagonizaram uma ameaça para os economicamente poderosos, dos quais chegaram a esfrangalhar o aparelho de Estado) e bombardeados ainda por uma cultura-"hamburger", que a todos desfalca precisamente do que serviria à construção de um Portugal culturalmente de si próprio, de uma democracia inovadora.











6 de Maio de 1996

Oração de um idiota: meu Deus, ajuda-me a ter um dia politicamente correcto.







Sem dia marcado, em Junho de 1996

Três prémios nacionais no espaço de dez dias – o da “Revelação” da Associação Portuguesa de Escritores e um 1º e 2º lugares (encenei dois grupos) num tal Encontro de Teatro Jovem, noutra aldeia talvez desse direito a um telefonema pedindo uma entrevista. Mas não tenho conhecimentos nos jornais e, pelos vistos, os jornalistas...

Que bom ficar incógnito!







30 de Ouubro de 1997

Em Portugal, mesmo depois da revolução o compadrio tem estragado ou impedido a formação de carreiras. Ao distinguido logo se prefere o amigo e o notável, por mérito, resvala de novo para o esquecimento.

Digamos que esta burguesia, aqui e agora, ainda não reconhece o trabalho, o labor paciente que faz o génio. Prefere-lhe o habilidoso, o esperto, o desenrasca.






























































4/14/2011

GOLDACRE Ben, Ciência da Treta. Lisboa: Bizâncio, 2009 (ca. 333 pp. e 17 euros)


“O maior problema de todos é a simplificação. Tudo nos media perde qualquer importância científica, numa tentativa desesperada de seduzir uma massa imaginária que não está interessada (...) A comunidade indulgente e bem financiada do «compromisso público com a ciência» tem-se revelado pior do que inútil, porque está também obcecada em levar a mensagem a todos, raramente apresentando um conteúdo estimulante às pessoas que já estão interessadas.” (p.328,9)



“Normalmente as notícias sobre a ciência inserem-se numa das três categorias: as notícias loucas, as notícias de «descobertas» e as notícias alarmistas. Cada qual destrói e distorce a ciência à sua própria maneira” (p.192)

4/11/2011

DESTAQUE  O caso da Islandia

"Mais uma vez os islandeses dizem NÃO!",  por Manuel Augusto Araújo



(...)  Os islandeses dizem novamente NÃO a um pagamento negociado com ingleses e holandeses em que estes, na mira de recuperarem algum já tinham aceite a desindexação da coroa islandesa do euro o que, com a desvalorização da coroa, representava o contentarem-se em receber menos 40% do começaram por exigir, com a arrogância normal do grande capital. Perdida essa batalha, foram aceitando novas formas, juro fixo, e prazos de pagamento, quinze anos. Mesmo assim o que estava a ser referendado correspondia a que cada família islandesa pagasse 150 euros por mês, durante quinze anos.



O escândalo é exigir a um Estado, aos seus cidadãos contribuintes, que paguem as dívidas de um banco privado que se estabeleceu em Inglaterra e Holanda, com o acordo desses países e que, de especulação em especulação, foi á bancarrota. Quem é que devia fiscalizar as actividades desse banco? O governo da Islândia, claro nas actividades feitas no seu território. As entidades reguladoras inglesas e holandesas, nos negócios feitos nos seus países. Sabemos como essas coisas acontecem, não nos esquecemos do regulador Victor Constâncio e dos casos BPN e BPP. Conhecemos isso de ginjeira, nem nos admiramos se o banco tinha notação AAA, atribuído pelas célebres agências de ratting, como tinha o Lehmann Brothers em vésperas de falir.


(...)


As intimidações continuaram, vão continuar, cercando esse pequeno país. O FMI do primeiro NÃO afirmava que não os ia “ajudar”. Ajuda do FMI? Os islandeses devem achar que isso é uma boa piada e mandaram borda fora o governo de direita que se preparava para pedir a intervenção do FMI.

(...)


Queria a Comissão Europeia que a Islândia se submetesse a uma lei feita por medida e meses depois dos acontecimentos, para obrigar os contribuintes islandeses a pagar a especulação de um banco privado.
(...)


Os islandeses é que continuam irredutíveis. Durante toda a semana foram bombardeados pelas virtudes do novo acordo, pelas virtudes de, se o aceitassem, poder aderir à EU. Alvejados com sondagens que davam a vitória certa do sim. Só quase à boca das urnas é que as sondagens colocaram a hipótese de um empate. O resultado até agora conhecido, não foi como o do anterior referendo com a vitória do NÃO a alcançar 94 %. Mesmo com os panos quentes de condições mais favoráveis, a amplificação das ameaças, a manipulação informativa,mais uma vez, os islandeses, mais uma vez, não cederam.

 
Os analistas, (...) calculam que a recuperação económica da Islândia vá ser mais complicada e que patati, patata, isto quando até o FMI parece rendido às evidências. A Islândia, depois de estar á beira da bancarrota, tem boas perspectivas de crescimento, dizem os institutos ocidentais.

Por cá (...)
O FEEF/FMI é a Nossa de Fátima dos pastorinhos acantonados nos partidos que são os garantes dos burocratas de Bruxelas, a quem a Sra. Merkel puxa as orelhas, e das sumidades tecnocráticas fechadas nos seus gabinetes onde correm como baratas tontas e batem nos vidros como moscas atarantadas enquanto a realidade está lá fora, sempre em movimento.


Com gente desta pode-se mudar de governação, nunca se mudará de política.



O EXEMPLO DA ISLÂNDIA


por Lourdes Beneria [*] e  Carmen Sarasua [**]

Tradução de Guilherme Coelho


[*] Professora de Economia na Universidade Cornell.

[**] Professora de História Económica na Universidade Autónoma de Barcelona.


(...) Se tivéssemos noções claras do que é um crime económico e se houvesse mecanismos para os investigar e processar poderiam ter sido evitados muitos dos problemas actuais. Não é utopia. A Islândia oferece um exemplo interessante. Em vez de socorrer os banqueiros que arruinaram o país em 2008, os promotores abriram um inquérito criminal contra os responsáveis. Em 2009, todo o governo teve que se demitir e o pagamento da dívida da banca foi bloqueado. A Islândia não socializou os prejuízos como estão fazendo muitos países, incluindo Espanha, mas aceitou que os responsáveis fossem punidos e os seus bancos falissem.


Da mesma forma como foram criadas instituições e procedimentos para julgar os crimes políticos contra a humanidade, é hora de fazer o mesmo com os económicos. Este é um bom momento, dada a sua existência difícil de refutar. É urgente que a noção de "crime económico" seja incorporada ao discurso da cidadania e se compreenda a sua importância para a construção da democracia política e económica. Pelo menos vamos ver a necessidade de regular os mercados, para que, como diz Polanyi, estejam ao serviço da sociedade, e não vice-versa.
(original em www.elpais.com/)





29/Março/2011






































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