Derrotar o dragão, ganhar o reino…
Na nossa memória residem as histórias em que os vencedores se tornam reis e recebem como prémio a princesa.
A revolução portuguesa de Abril gerou os seus heróis e este terá sido o último
período na nossa história recente em que o herói passou dos feitos que o
celebrizaram para a possibilidade de presidir à comunidade: Otelo, candidato à
presidência e Eanes ganhando-a, foram exemplo. Hoje os possíveis candidatos a presidentes são
ex-ministros (Guterres, Santana), dirigentes de organismos com importância
social (Nóvoa, Carvalho) ou uma vedeta mediática (Rebelo Sousa). Além é claro, de aventureiros que, sem outro
calibre que o da ousadia e vontade de domínio, mas com poder económico ou
apoiados por partidos, venham ainda a
apresentar-se a combate, exibindo quase sempre a espada da justiça, a que
miticamente mais recolhe. (Neste
horizonte talvez se venham a perfilar Amaral e Martinho.)
Entre os atuais candidatos não há uma única mulher, (embora
Roseta esteja disponível), Carvalho está demasiado perto do PC (que continua estalinista)
e a Nóvoa e Sousa ninguém lhes conhece decisões públicas em
situações conturbadas – ou mesmo pacíficas. E isto quando os tempos são de luta
entre uma europa obediente à alta finança e os povos prejudicados pelo jet-set
Bruxelense.
De facto os heróis escasseiam e a cinzenta paisagem europeia só
coloriu um pouco nos últimos tempos, a nível nacional, com o aparecimento do
Livre, que obrigou a mudar o tom da política em Portugal – levando o PS a
assumir igualmente eleições primárias – e, no estrangeiro, pela votação no
Syriza. Porque mais democracia é o que, aqui e agora, se precisa a fim de que
se ouçam os desempregados, os que não colhem dividendos de ações, os que,
afinal só podem contar com o seu (cada vez mais inseguro) local de trabalho,
como fonte de rendimento. E um presidente – ou presidenta – para que possa
ajudar esta grande maioria necessita de, além das curriculares qualidades que
já todo o mundo propaga, possuir ainda em
grande escala as seguintes competências:
·
Gostar
de gerir situações de instabilidade (decorrentes nomeadamente da eleição de
partidos sem maioria), e gerar consensos quando toda a gente se abespinha;
·
Ser
capaz de ver soluções para além daquelas que todos apresentam – e portanto ser inovador;
·
Ter empatia pelas classes mais depauperadas para
apoiar, em caso de necessidade, David contra Golias;
·
Ser
alguém de “mãos limpas”, isto é, não se ter envolvido com anteriores governos –
os quais, melhor ou pior, todos gaiteiramente contribuíram para a ruína
portuguesa.
Qual dos atuais candidatos é virgem, derrotou o dragão e merece
a princesa (ou príncipe)?
Sem comentários:
Enviar um comentário