ELIAS Norbet, Introdução à Sociologia, Lisboa, ed. 70, 2005 (Ca. 200 pp. e 15 euros)
“Da interpenetração de inúmeros interesses e intenções individuais – sejam elas competitivas ou opostas e hostis – algo vai decorrendo que, ao revelar-se, se verifica não ter sido planeado nem reequerido por nenhum individuo. No entanto apareceu devido ás intenções e actos de muitos indivíduos. E isto, na verdade, representa todo o segredo da interepenetração social – da sua obrigatoriedade e regularideade, da sua estrutura, da sua natureza processual e do seu desenvolvimento; isto é o segredo da sociogénese e da dinâmica sociais “ [Uber den Prozess des Zivilization (1969) II, p. 221) (p.12)
“Embora não planeado e não imediatamente controlável, o processo global de desenvolvimento de uma sociedade não é de modo algum incompreensível. Por detrás dele não há quaisquer forças “misteriosas”. É uma questão de consequências decorrentes de interpenetração de acções de inúmeras pessoas, cujas propriedades estruturais já foram ilustradas por meio de modelos de jogo. À medida que se entrecruzam as jogadas de milhares de jogadores interdependentes, nenhum jogador isolado ou grupo de jogadores, actuando sozinhos, poderão determinar o decurso do jogo, por muito poderosos que sejam.
(…) Lidamos com estados de equilíbrio entre duas tendências opostas para a auto-regulação dessas configurações: a tendencia para se manter como antes e a tendencia para a mudança” (p.161)
“Ao estudar a humanidade é possível fazer incidir um feixe de luz primeiro sobre as configurações formadas por muitas pessoas separadas.
(…) A cristalização que hoje fazemos destes conceitos poderia levar-nos a acreditar que o “individuo” e a “sociedade” denotam dois objectos que existem independentemente enquanto na verdade se referem a dois níveis diferentes mas inseparáveis do mundo humano”
(..) Muitas vezes os cientistas abusam do direito que têm de pôr a circular novos conceitos que exprimem novas ideias. Ora isto pode bloquear certos canais de comunicação tanto dentro da disciplina em questão como entre esta e outras disciplinas. No entanto (…) há uma razão para introduzirmos aqui o conceito de “configuração” (…) O conceito de configuração serve de simples instrumentos conceptual que tem em vista afrouxar o constrangimento social de falarmos e pensarmos como se o “indivíduo” e a “sociedade” fossem antagónicos e diferentes.
(…) Se quatro pessoas se sentarem à volta de uma mesa a jogarem, formam uma configuração. As suas acções são interdependentes. Neste caso ainda é possível curvarmo-nos perante a tradição e falamos do jogo como se este tivesse uma existencia própria. É possível dizer: “O jogo hoje à noite está muito lento!” Porém, apesar de todas as expressões que tendem a objectivá-lo, neste caso o decurso tomado pelo jogo será obviamente o resultado de acções de um grupo de indivíduos interdependentes.
(…) Mas este decurso não tem substância. não tem ser, não tem uma existência independente dos jogadores, como poderia ser sugerido pelo termo “jogo” (…) Por configuração entendemos o padrão mutável criado pelo conjunto dos jogadores” (p.141,2)
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