11/20/2008

EUROPA 6

Bruckner, Pascal, O Complexo de Culpa no Ocidente, Pub. Europa-América, 2008 (208 pp. e ca. 17.90 euros)

“Um autêntico comércio espiritual está em curso: designam-se clérigos que zelam pela sua manutenção (…) É a esta escalpelização auto-infligida que dou o nome de dever de penitência. (…) é uma máquina de guerra com várias funções: censura, tranquiliza, distingue.
Em primeiro lugar proíbe ao bloco ocidental, eternamente culpado, julgar ou combater outros regimes, estados ou religiões. Os crimes do passado intimam-nos a ficar calados (…) Definem-se assim dois ocidentes: o bom,o da velha Europa que se curva e se cala, e o mau, o dos Estados Unidos que intervém e se intromete” (pp.12,3)

“E tal como Pascal pedia à razão para “acolher o seu inimigo”, uma democracia deve, sob pena de enfraquecer, englobar o seu contrário sem se deixar destruir por ele, explorar em seu proveito os valores hostis ao seu desenvolvimento – o furor, a intransigência, o fanatismo – avançar por entre perigos que podem matá-la mas também fortalecê-la. (…) A América tem a capacidade assombrosa de conviver com uma boa dose de anarquismo estrutural, de extremismo e caos que nos mataria na Europa” (p.75)

O verdadeiro crime da velha Europa não é apenas o que ela fez noutros tempos: mas sim o que ela não faz hoje: a sua inacção nas Balcãs durante os anos 90, o seu espectadorismo escandaloso no Ruanda, o seu silêncio na Chechénia, a sua insensibilidade perante o Darfur, o Sudão Ocidental e, de uma forma geral a sua complacência, o seu ajoelhar-se, ou o seu «criadismo» para retomar um termo de Aimé Césaire, face às potencias actuais” (p.95)

“Elas [as democracias – N. de Kriu] são responsáveis pela perpetuação da própria democracia. (…) A Europa, se quiser ter a mais ínfima influencia deverá edificar a par com o seu grande vizinho [os E.U.A.- N. de Kriu] um novo bloco (…) A todos os partidários do grande cisma, que reclamam o divórcio e vêem no oceano Atlântico um lago metafísico que separa duas filosofias irredutíveis, impõe-se responder que essa rivalidade deve ser convertida numa emulação entre blocos (…) é necessário temperar o arrebatamento americano com a ponderação europeia e a razão europeia com o dinamismo americano” (pp. 202,3)

Sem comentários:

Enviar um comentário

Arquivo do blogue