7/27/2008

EROS 4 A Revolta das Bocas

Vinham da escola juntos, no mesmo passo e caminho, estudavam à mesma mesa e, imagine-se, até o cabelo cortavam um ao outro. Em casa de um deles, na casa de banho para sujarem o chão à vontade, ora barbeiras tu, ora barbeiro eu… Doces adolescências não fora o desejo. Pois que nunca se despedia dele sem imaginar como seria depor-lhe um beijo nos lábios, naqueles apetecíveis lábios… Mas não. Nunca o beijou – é verdade que a sua perna sentia a dele quando estudavam juntos e o estudo nesse morno amparo se fazia – mas nada sobre que algum dia falassem, referissem, enfim. Pois não teriam uma menina por namorada?
Sempre nas famílias assim fora.
Porém, alheias a tudo, surdas às conveniências, num certo serão, programado como de estudo em casa de um deles, elas, as bocas, levaram a coisa a peito e, enfurecidas pelo desejo, secas de revolta, simplesmente aproximaram-se. Ah que vitória, que…
Todavia, não houve beijo.
Iam-se a dá-lo, coladinhas uma à outra, quando a luz da mesa estoirou, e logo uma voz surgiu:
- Que há aqui?
Hoje, a resposta, não ofereceria dificuldade:
- As nossas bocas… mal se aproximam… explodem!
Por ecológica precaução, nunca mais se encontraram.

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