7/28/2008

EUROPA 5

MANENT, Pierre, A Razão das Nações, Reflexões sobre a Democracia, Lisboa, Ed. 70, 2008 (88 pp., ca.9 euros)
“O império europeu tem de comum com o império americano o ser magnetizado pela perspectiva de um mundo onde qualquer diferença colectiva deixará de ser significativa (…) europeus e americanos estão separados pela partilha de uma mesma representação (…) O deslumbramento com a unidade humana torna-lhes cada vez mais difícil ver o estado presente do mundo, inclusive nas áreas europeia e americana. Ocupados a construírem duas torres de Babel gémeas, não vemos que a separação entre grupos humanos não pode ser inteiramente ultrapassada e que essa infeliz impotência é a condição de liberdade e de diversidade humanas.” (p.14)

“Voltou o tempo do despotismo esclarecido, designação exacta para a soma de agencias, administrações, tribunais de justiça e comissões que, na desordem mas com espírito unânime, nos dão cada vez mais meticulosamente a regra.
Acabo de sugerir que em nome da democracia, mais precisamente dos “valores democráticos” institucionalizámos a paralisia política da democracia” (p.51)

“Mas que as democracias europeias sejam obrigadas a tratar os seus cidadãos muçulmanos, respeitando escrupulosamente os seus direitos – direitos de cidadão – não significa de modo algum que elas sejam obrigadas a conceder a uma nação muçulmana o “direito” de vir a fazer parte da sua comunidade de nações

(…) que forma devemos dar à Europa se queremos que ela ultrapasse a sua passividade (…) O desafio convenientemente avaliado conduz-nos, creio, a não acolher a Turquia (…) É claro que o facto de se tratar de um grande país muçulmano teria consequências enormes sobre a liberdade de acção da União, tanto no seu interior como no exterior, e é, portanto um dos principais factores (…) que a deliberação deverá ter em conta” (pp.56,7)

“O Califado é uma fórmula política – o termo regímen não lhe convém – de tal forma indeterminada que a vida política muçulmana conhece uma divisão particularmente marcada entre a legitimidade e a necessidade. É possível ver-se ai uma das grandes causas das dificuldades do Islão em praticar efectivamente a democracia: por um lado a Lei indiscutível exclui ou limita severamente muitas liberdades pessoais que a democracia reclama; por outro a enorme latitude de conduta dos príncipes, ou dos chefes, é incompatível com o respeito pelas leis democráticas. Há ai um quiasma debilitante do qual o Islão tem enorme dificuldade em libertar-se.” (pp.64,5)

“O império é uma forma típica da política antiga. Poder-se-ia dizer que “tornamo-nos modernos” em termos encontrado uma alternativa ao império. O que caracteriza o desenvolvimento político dos europeus é o seu esforço por se governarem a si próprios e (…) tomar consciência de si, a partir de uma matriz imperial dupla: o Império Romano e a Igreja Cristã, “romana” porque começou por revestir a forma imperial. No termo do processo nações cristãs [sublinhado do autor - N. de Kriu] (…) Basta-nos aqui verificar que o Islão não conheceu uma tal transformação (…) Donde a infecundidade política dos tardios movimentos nacionais, ou nacionalistas, em termos do Islão; donde o recurso à ideia de “Nação árabe” que designa precisamente o que falta. Estamos assim em presença de um imenso império ou antes de um imenso rasto imperial sem imperador, de uma imensa superfície sensível (…) ora “nacionalista” ora “fundamentalista” (pp. 65,6)

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