Ratzinger
bate com a porta?
Ponha-se de parte a hipótese
de que, por de trás da resignação de Bento XVI, existe alguma razão além da
oficialmente anunciada.
Resta então que o papa
resigna porque se sente intelectualmente incapaz.
Cristo morreu na cruz e,
filho de Deus e doado por Este para exemplo humano, teve de assumir a sua
humanidade, mostrando a sua agonia. (A questão de que, estando condenado não
podia escolher a sua via, fica posta de lado quando se pensa que o destino de
Cristo foi marcado por seu Pai e, logo, não casual). Ou seja, por humildade
Cristo, e os seus sucessores, estarão obrigados a beberem o cálice da vida até
ao fim, não podendo invocar qualquer razão para o não fazerem. Esse o exemplo
que ficou de João Paulo II, papa que no seu pontificiado mostrou a pujança, e
logo a decrepitude, oferecendo da vida humana um quadro completo, natural e,
por fim, grandioso.
Ratzinger (que até ao
momento nem se disse portador de qualquer doença degenerativa) acha que não está capaz de governar e
resigna. Tal significa, ainda, que não
confia na cúria que o rodeia e teme seguir-lhe as
indicações porque, logicamente, outros papas terão igualmente sentido o avanço
da idade e, como reação, refugiado nas opiniões dos mais próximos
colaboradores, tornando-as suas. Ratzinger, impressionado certamente pela
traíção do seu mordorno, último golpe numa vida que, por importante, terá sido
muito “apunhalada”, não resistiu a mais
este e bate com a porta?
Traição à exemplar “via
dolorosa” de Cristo, afastamento crítico
do exemplo dado pelo papa seu antecessor,
(que diria João Paulo II do gesto de Ratzinger?), demonstração de vaidade
intelectual, a qual não permite a Ratzinger que se mostre sem ânimo, contributo
importante para laicizar/banalizar o papado, descofiança nos que o rodeiam e, the last but not the least”, desautorização
da vontade divina que o elegeu: eis o que lega Bento XVI ao resignar. A exemplo doutras monarquias que se “macdonalizaram”
para acompanhar os tempos – ou os súbditos – o gesto de Ratzinger torna também
mais acessível - e, logo, confortável - o papado.
Sem comentários:
Enviar um comentário