Hobbit, filme de Peter Jackson, 2012
Hobbit não gostaria de ter
abandonado a sua casa e diz a X que este só se mete em aventuras
precisamente porque perdeu o seu lar. Ou seja, desde que nada obrigue ao risco,
não há como ficar na sala de estar, sentado frente à TV. Esta a moral que se retira
da leitura ideológica de Hobbit, herói contra vontade, tal como são todos os heróis
de uma sociedade que, apesar de inserida
numa civilização fundada no sacrifício (os pregos da cruz cristã não constam
que fossem de chocolate!) aspira,
sobretudo, ao conforto, à facilidade e à abolição do pensamento.
Por outro lado – ou pelo
mesmo? – Hobbit é um objeto que deve o seu estatuto a uma soberba técnica e
nesta reside o seu sucesso, isto é, Hobbit resulta de um pensamento
profundo mas exclusivamente aplicado à descoberta
de soluções técnicas. Profundidade ausente do filme a outro nível, pois que este se desenvolve
numa mesma superfície na qual se sucedem diversas aventuras ou onde o aprofundamento
se faz apenas a nível físico pelas diversas entradas nos buracos da terra e
nunca da psicologia.
Entretenimento - mas não “gaia
ciência”, pois Hobbit é irrelevante a
nível pedagógico, ou mesmo contraproducente pelas razões acima descritas – Hobbit
insere-se nos produtos que pressupõem – ou para os quais é útil pressupor
– a divisão do ser humano em duas partes inconciliáveis: uma, atenta às
subtilezas da vida e aos seus diferentes matizes e uma outra parte que, da mesma vida, só lhe interessa a rama e o verniz.
Ou como os soberbos media mediatizam/relativizam
o seu utilizador.
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