1/09/2013


Hobbit, filme de  Peter Jackson, 2012

Hobbit não gostaria de ter abandonado a sua casa e diz a X que este só se mete em aventuras precisamente porque perdeu o seu lar. Ou seja, desde que nada obrigue ao risco, não há como ficar na sala de estar, sentado frente à TV. Esta a moral que se retira da leitura ideológica de Hobbit, herói contra vontade, tal como são todos os heróis de uma sociedade  que, apesar de inserida numa civilização fundada no sacrifício (os pregos da cruz cristã não constam que fossem de chocolate!)  aspira, sobretudo, ao conforto, à facilidade e à abolição do pensamento.

Por outro lado – ou pelo mesmo? – Hobbit é um objeto que deve o seu estatuto a uma soberba técnica e nesta reside o seu sucesso, isto é, Hobbit resulta de um pensamento profundo  mas exclusivamente aplicado à descoberta de soluções técnicas. Profundidade ausente do filme  a outro nível, pois que este se desenvolve numa mesma superfície  na qual se sucedem diversas aventuras ou onde o aprofundamento se faz apenas a nível físico pelas diversas entradas nos buracos da terra e nunca da psicologia.

Entretenimento - mas não “gaia ciência”, pois Hobbit é irrelevante  a nível pedagógico, ou mesmo contraproducente pelas razões acima descritas – Hobbit insere-se nos produtos  que  pressupõem – ou para os quais é útil pressupor – a divisão do ser humano em duas partes inconciliáveis: uma, atenta às subtilezas da vida e aos seus diferentes matizes e uma outra parte que, da mesma vida, só lhe interessa a rama e o verniz.  

Ou como os soberbos media mediatizam/relativizam o seu utilizador.

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