9/21/2008

TESTEMUNHOS 9

SOLJENITSYNE, Alexandre, O Declínio da Coragem, Discursos de Harvard, Junho 1978, Lisboa, Ed. Rolim, s.d. (ca. 51 pp. e ca. 9 euros)

“É talvez o declínio da coragem o que mais chama a atenção dum estrangeiro no Ocidente de hoje. A coragem cívica não só desertou globalmente do mundo ocidental mas também de cada um dos países que a compõem (…) e, bem entendido, da Organização das Nações Unidas. Este declínio de coragem é particularmente sensível na camada dirigente e na camada intelectual dominante e daí vem a impressão de que foi de toda a sociedade que a coragem desertou. (…) Os funcionários públicos e intelectuais patenteiam este declínio, esta fraqueza e esta irresolução, tanto nos seus actos como nos seus discursos e, mais ainda, nas suas considerações teóricas que fornecem com toda a complacência, para provarem que esta maneira de agir, que alicerça a política dum Estado na cobardia e no servilismo, é pragmática, racional e justificada, seja qual for o plano intelectual, ou mesmo moral, em que nos coloquemos. Este declínio da coragem que, aqui e ali parece ir até à perda de todo e qualquer vestígio de virilidade, encontramo-lo (…) nos casos em que esses mesmos funcionários sofrem súbitos acessos de valentia e intransigência para com governos sem força de países fracos, que ninguém apoia, ou para correntes condenadas por todos e que, manifestamente, não têm qualquer possibilidade de poder ripostar, ao passo que sentem a língua secar-se-lhe e as mãos paralisarem-se-lhe diante de governos mais poderosos e das forças ameaçadoras (…) da Internacional do terror.
Será preciso lembrar que o declínio da coragem foi sempre considerado como um sinal percursor do fim? (pp. 15 a 17)

“Se me perguntarem se eu quero propôr ao meu país como modelo o Ocidente, tal como hoje se apresenta, devo responder com franqueza: não, não posso recomendar a vossa sociedade como ideal para a transformação da nossa (…) Uma sociedade não pode permanecer no fundo do abismo sem leis, como é o nosso caso, mas será irrisório manter-se à superfície lisa dum juridismo sem alma, como sucede convosco. Uma alma humana acabrunhada por muitas dezenas de anos de violência aspira a algo de mais elevado, mais quente e mais puro do que o que pode propôr-lhe a existência de massa no Ocidente, anunciada, como se fosse um cartão de visita, por uma pressão enjoativa de publicidade, pelo embrutecimento da televisão e por uma música insuportável. (…) O modo de vida ocidental tem cada vez menos probabilidades de vir a ser o modo de vida dominante” (pp. 33,4).

“Pusemos demasiadas esperanças nas transformações políticas-sociais e notamos que nos tiraram o que tínhamos de mais precioso: a nossa vida interior. A Leste, é a feira do Partido,(…) a Oeste a feira do Comércio” (p. 49)

“(…) esta viragem [da História – n. de Kriu] exigirá de nós uma nova altitude de vistas (…) em que a nossa natureza física terá deixado de estar entregue à maldição, como na Idade Média, mas na qual a nossa natureza espiritual terá também deixado de estar calcada aos pés como era na Idade Média” (p. 51)

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