3/11/2008

ENTRANHA 9 Cara Estética dos Trezentos...

Se, como se diz, o Teatro reflecte mais do que qualquer outra arte a sociedade, nela se há-de então repercurtir a cara estética das lojas de trezentos.
Explico os motivos assim como os exemplos:
Com a democratização novos grupos sociais tiveram acesso ao ensino e ao consumo. Todavia, descendendo de meios com baixos recursos económicos, nunca tiveram durante a sua infância e mesmo formação – a escola democratica ja foi suficentes vezes associada com uma “caserna” para tornar a referi-lo – acesso a qualquer lugar de luxo ou de maior qualidade. (A escola poderá compensar isto por sucessivas visitas a museus mas todos sabemos hoje que a Escola portuguesa pós 25 de Abril falhou o seu objectivo).
Assim, todas as gerações, duas até á data, criadas na jovem democracia portuguesa tiveram como referencia de serviço publico um restaurante macdonnald’s e por loja de consumo a dos trezentos mais próxima.
Como resultado a estética que impera no teatro hoje é igualmente a das caras lojas de trezentos. Não só porque os criadores que nelas expôem receberam a sua influencia como também porque o publico está disposto a receber tal estética. Além de que todos sabemos quanto o prazer de agradar arrasta para o conformismo o mais bem intencionado.
Assim, tivemos em Lisboa, por vias diferentes mas, por cooincidencia?, ambas as produções em teatros geridos por entidades públicas – o Trindade e o Nacional – duas peças, cuja cenografia é devedora do que aqui chamo “a cara estetica dos trezentos”: Terramoto e Medeia.
Em Terramoto tal estética foi visível na pelintrice bem vestida dos figurinos, na cenografia feita de caixotes, nos fumos mais que vistos e coloridos de vermelho – o vermelho é a primeira cor que vem ao imaginário pequeno-burguês para qualquer coisa de “mais especial”.
Em Medeia nos chão que se ilumina (cujo contributo dramatúrgico é nulo mas contribui para a tal estética do bonitinho) no brilho sintético do sangue, nas canções do coro, cuja música evocava o musical ligeiro (a tragédia grega tinha a emmeleia mas segundo consta o seu estilo era contido e nobre) na utilização, enfim de todo o género de efeitos paradigmáticos das bugigangas que acendem e apagam que alguns emigrantes vendem hoje pelas ruas.
Cara estética de trezentos!

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