(por Gonçalo Luís Barra, Julho de 2011 )
Meu Amor, se eu te tivesse ouvido hoje, que bem me saberia este sono que me impele, mas não escutei a tua brisa fresca, a tua voz de mel..., envio-te um beijo apenas, um pássaro de desejo, que pouse à tua beira esta noite e te segrede, que mais do que te querer, te sofro em mim, cada momento que não te abraço, cada momento sem fim...
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Se de manhã abrisse a janela e te visse ao meu lado, era porque o Sol tinha vindo morar comigo, se eu te pudesse acompanhar, nesse ardente instante, olhar para ti e perder o equilíbrio no estar brilhante, dir-te-ia a arder e todo eu suor, que tu na minha vida és tudo, tudo o que vivi que foi melhor, por isso se adorar-te é perder-me, desaparecerei de encontro a ti, brilhante luz, calor perene...
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Esta noite se sonhares comigo lembra-te
De me dares a mão e subirmos a avenida
De deixares o sorriso iluminar-me a vida
De me levares ao jardim à flor escondida
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Hoje fiz tremer a terra com a minha mão
Semeei uma tempestade no meu ventre
Desci mar numa onda de espuma quente
Num lampejo de céu e estertor de trovão
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A noite vem hoje, mais breve que ontem, e o estio deixa a secura das acácias verter a sua goma, e nessas cápsulas de sol, ficam pérolas douradas do que fomos, fragmentos de vida, fixados na tela onde a pintamos, o que seremos, depois do Verão, depende do que se lembrar a nossa mão, da alquimia posta na têmpera com que revelarmos os dias, sonhemos, pois, com formas fortes, e cores reais, para nos pintarmos aos dois.
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O dia apareceu menos que perfeito, um lobisomem que acordou ainda com malhas de pelo de lobo no peito, com pedaços de noite e amanhecer a pender do azul, mas tu amanheceste em mim límpida e corrente, e banhaste fresca a minha face, abri os olhos em ti e vi, no teu espelho de água, apenas o céu, e a infinita vida que te enfeita, meu amor, meu mar do Sul
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Hoje para mim o dia nem começou, vivi à luz da noite toda a manhã, não dormi..., e nem sequer já vivo estou sem te ouvir, sinto a tornar-me num boneco de cortiça, indiferente à temperatura do ar, ao bater do dia-a-dia, e detenho-me como um relógio exausto, sem o fôlego dos teus dedos que o anime, num torpor desidratado de pinha caída à beira da vida.
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Se hoje à noite viste cair uma estrela, devia ser a minha alma derrubada pelo frio celeste. No festival das ilusões cadentes, o gelo pega-se-me à boca, aos olhos, fere-me o nariz e já nem sei bem respirar, arrasto apenas o ar que tenho nos pulmões, e vou a pique, enrolado, aos trambolhões, sem a tua mão que me ampare, sem o teu olhar que no meu fique.
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Hoje não teve manhã, e não terá noite, todo foi entardecer, numa gruta ensombrada de livores e palidez, cortada de espasmos invisíveis no espelho que o meu olhar já não suporta, e a mão já morta não segura, apenas pende dela escrita a profecia, de que o amor é morte, e a morte é cura, já que a vida, sem te ter, é bem mais dura.
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Vieste pétala de rosa, colar-te com o vento à minha boca, e como te sinto perto e olorosa, pétala de vida e sangue, vem depressa que já estou exangue, flor inteira, cobrir-me o corpo num abraço, e faz-me, leve como pena, e voa, leve como pássaro.
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O teu olhar feito de contas de vidro e avelãs, passou a fina nesga entre nós, e acastanhados ficaram dois mais dois acasalados, quatro olhos abraçados, como beijos, perguntas respondidas com memórias e desejos, de vidas separadas ver meãs, as mãos os gestos, as palavras, numa esperança dois olhares, a sonhar acordados.
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Quando amanhecer e te apressares, sorri, e nem por um momento penses no trabalho, pensa nas folhas ternas salpicadas de orvalho, lembranças daqui a pouco amanhecidas, ali, nas ramagens onde juntos fomos vidas, e pegadas somos, pela areia e pelos ares.
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Esta noite é a do gato, caçarei nos sete sonhos, sete noites sem te ver, sete setas que me matam, manhãs tantas que me acordam, sete vidas sem viver, garras que me penduram, à tortura de não ter o teu pecado por dia, sete beijos feitos notas que não toco, sete luas de magia que naufragam neste dia.
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