POLLAN, Michael, O Dilema do Omnívoro, Lisboa, Dom Quixote, 2009 (Ca. 432 pp. e 22 euros)
“O escritor inglês John Berger escreveu um ensaio intitulado «Why Look at Animals?» no qual sugeriu que a perda de contacto diário dos homens com os animais (…) nos deixou bastante confusos relativamente aos temas da nossa relação com outras espécies” (p. 313)
“A fábrica de animais dá-nos uma ideia dos horrores de que o capitalismo é capaz na ausência de limites morais ou reguladores. (…) Nestes lugares desprezíveis a própria vida é redefinida – como «produção proteica» - e com ela a noção de «sofrimento». (…) as explorações de ovos são as piores (...) Esse destino está reservado para a galinha poedeira americana, que passa a sua breve vida presa, com outra meia dúzia de galinhas, numa gaiola de arame farpado cujo chão poderia ser coberto com apenas quatro folhas deste livro. Esta galinha vê todos os seus instintos naturais frustrados o que origina uma série de «vícios» comportamentais como o canibalismo e o roçar o peito contra o arame até este ficar completamente depenado e a sangrar” (p. 324).
“Do ponto de vista de Joel [fabricante da cadeia Polyface Farm, empresa de criação de animais para alimentação onde as espécies expressam «plenamente as suas capacidades fisiológicas» N. de Kriu] a reforma começa com as pessoas que se dão ao trabalho e à despesa de comprar directamente a agricultores que conhecem (…) Joel acredita que a garantia de integridade só é possível quando comprador e vendedor se olham nos olhos (…) «Não acha estranho as pessoas preocuparem-se mais a escolher o mecânico ou o empreiteiro do que com a pessoa que lhes produz a comida?» (p.246).
«o funcionamento de uma quinta não se adapta a operações de grande escala pelas seguintes razões: diz respeito a plantas e animais que vivem, crescem e morrem» (cit. p. 220)
Mas não é sempre assim? Se olharmos para nós, o ouro do Brasil não atrasou definitivamente a industrialização? Até hoje (?)?
ResponderEliminarOs economistas do poder, ou que circulam como conselheiros dos políticos, conseguem sempre fazer passar discursos redutores sobre o modo como o público deve olhar para o desenvolvimento económico (entendido como promessa de bem-estar, logo, de felicidade). Transformando-os em axiomas pelos formadores de opinião (eles próprios do mesmo grupo de interesses sociais), ficam com as mãos livres para essas práticas de desigualdade, que acertam nos olhos das pessoas em tempos de crise. Embora, verdade seja dita, com a velocidade a que as crises se fazem e desfazem, muita gente deveria reflectir um pouco sobre este jogo, para não se queixar depois, isto é, as falhas no discurso e nas práticas vão-se revelando, não acontecem uma vez por geração. Dito doutro modo, toda a gente sabe que a D. Branca não é um negócio, é um esquema manhoso de alto risco, mas continua-se a "investir" no esquema da pirâmide como se fosse um depósito a prazo numa instituição respeitável.
E a economia não tem sido manuseada como um esquema destes nos últimos anos?
(Leitor identificado)