1/13/2008

POLÍTICA 2

NEGRI, António e SCELSI Adeus Sr. Socialismo, Porto ed. Âmbar, 2007.
“Como se consegue governar uma multidão? Procuro trabalhar esta questão maquiavélica para perceber consequentemente como pode a multidão revoltar-se. (p. 170)
Selci: Não te parece que não só estamos numa fase em que o interlocutor de amanhã é construído como, também, hoje, o do passado deixou de ter ligitimidade para falar e que entre estes cenários poderia existir uma tal destruição generalizada das garantias sociais que nos conduzisse a uma situação ao estilo de Dickens, a uma modernidade caracterizada por uma grande pobreza disseminada de megapólis compostas de plebes que vivem em situações incríveis?”
Negri: Acredito pouco na repetição destes cenários de miséria” (p. 170)

“A criança quando nasce é pobre, à volta dela investem-se discursos, afectos, relações; a criança é um discurso que nasce, a criança é o início do comum, mesmo se indesejada. O enjeitado sempre foi uma figura lindíssima deste ponto de vista” (P. 198)

“O fim do welfare deixa à autonomia social da multidão o enorme espaço para a reconstrução do comum: é face a estes problemas que as organizações da chamada esquerda já não sabem o que dizer ou fazer”

“A religião entra em campo para encobrir o vazio da política perante a plenitude da vida. É claro que a religião intervém de forma não democrática, que o fanatismo expresso à volta da intangibilidade divina do vital esconde, no nevoeiro do mistério, a possibilidade de práticas humanas de amparo e modificação do ser vivo. A religião mais uma vez situa-se contra a ciência. Mas tudo isso acontece precisamente porque a religião substitui a Democracia, reprimindo o saber e a alegria de transformar o mundo que só os laicos conhecem” (P. 198)

“O comum é a Rede, a série de bens materiais que permitem reproduzir-nos e produzir, movermo-nos e/ou fazermo-nos transportar de um lado para o outro da cidade, etc. Em suma, aquela série de coisas que nos permitem construir linguagem (bibliotecas, livros, tecnologia, informática open, instrumentos de comunicação enquanto tal). O comum +e a série completa de instrumentos de permuta entre sujeitos que se tornou rede de valor de uso, subsumido na liberdade. A Esquerda é nova e democrática quando se aplica à gestão do comum e na construção igualitária de redes de cooperação cada vez mais amplas. Enquanto isto não se consolidar como programa não pode haver nova Esquerda. De facto o que é hoje a Esquerda? Não é mais do que uma forma, entre outras, de gestão do capital e da estrutura capitalista do poder. (P. 133)

“As fronteiras que os migrantes atravessam são(-lhes) reconstruídas no interior dos países capitalistas” (p. 106)

“O problema (da Esquerda) é reinventar a produção em torno da livre participação do produtor. O produtor não pode senão ser livre e democraticamente capaz. O imigrado também. O problema grave reside em reinventar a produção projectando novas formas de cooperação e associação em torno de grandes projectos produtivos”.

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