O mundo coisa esparramou-se hoje no terreiro do paço
e a multidão coisa acorreu a ver as coisas animais mais as coisas alimentares.
No meio de intenso ruído – não música – suor e ainda gritos “olha aqui o porco!”
“Vê além a vaca!” tudo se tresmalhava
por entre cheiros a estrume, adubo e polícia. A excepção a esta exposição coisa
era Lisboa e o Tejo, as suas cores, enquanto no asfalto famílias inteiras, de
perna escarrapachada e cueca a ver-se, destapavam catrefas de taparueres com
comida requentada. Piquenique, não era? E o cantor-digestivo ao cair da noite -
bela receita. Por entre corredores de gente esgaseada pela vida e anúncios “Vá ao mega-piquenique, não falte,
etc.” serpenteei de cela em cela, de talhão em talhão – “olha aqui a melancia e além o melão” - aprendendo que o girassol é uma planta e não
um mamífero. Sim, este mundo coisa, rural
ou urbano que importa, há-de chegar
também ao fim e dá vontade de dizer – não fosse eu ateu embora religioso! – que,
na expulsão do Paraíso, o pior não foi a condenação ao trabalho mas a
plastificação da vida.
Libertação, precisa-se!
CMelo
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