10/18/2009

gripe A por Teresa Forcades i Vila.


Uma reflexão e uma proposta, com referências bibliográficas, por
Teresa Forcades i Vila, monja beneditina do Convento de Montserrat em
Barcelona, médica especialista em Medicina Interna e doutorada em
Saúde Pública.

Teresa Forcades i Vila* - 11.10.09
Dados científicos

Os dois primeiros casos conhecidos da nova gripe (vírus A/H1N1,
estirpe S-OIV) diagnosticaram-se na Califórnia (EUA) no dia 17 de
Abril de 2009 [1].

A nova gripe não é nova por ser do tipo A, nem tampouco por ser do
subtipo H1N1: a epidemia de gripe de 1918 foi do tipo A/H1N1 e desde
1977 os vírus A/H1N1 fazem parte da época da gripe anual [2]; a única
coisa que é nova é a estirpe S-OIV [3] [4].

Cerca de 33% das pessoas maiores de 60 anos parecem ter imunidade a
este tipo de vírus da nova gripe [5].

Desde o seu início até 15 de Setembro de 2009, morreram com esta gripe
137 pessoas na Europa e 3.559 em todo o mundo [6]; há que ter em
atenção que anualmente morrem na Europa entre 40.000 e 220.000 pessoas
devido à gripe [7].

Como já disseram publicamente reconhecidos profissionais de saúde –
entre eles o Dr. Bernard Debré (membro do Conselho Nacional de Ética
em França) e o Dr. Juan José Rodriguez Sendin (presidente da
Associação de Colégios Médicos do Estado espanhol) –, os dados desta
temporada, pela qual já passaram os países do hemisfério Sul,
demonstram que a taxa de mortalidade e de complicações da nova gripe é
inferior à da gripe anual [8].

Irregularidades que têm de ser explicadas

Em finais de Janeiro de 2009, a filial austríaca da empresa
farmacêutica norte-americana Baxter distribuiu a 16 de laboratórios da
Áustria, Alemanha, República Checa e Eslovénia, 72 kg de material para
preparar vacinas contra o vírus da gripe da anual; as vacinas tinham
de ser administradas à população destes países durante os meses de
Fevereiro e Março; antes que qualquer destas vacinas fosse
administrada, um técnico de laboratório da empresa BioTest da
República Checa decidiu, por sua conta, experimentar as vacinas em
furões, que são os animais que desde 1918 são utilizados para estudar
as vacinas para a gripe; todos os furões vacinados morreram.

Investigou-se então em que consistia exactamente o material enviado
pela casa Baxter e descobriu-se que continha vírus vivos da gripe das
aves (vírus A/H5N1) combinados com vírus vivos da gripe anual (vírus
A/H3N2). Se esta contaminação não tivesse sido descoberta a tempo, a
pandemia que sem base real as autoridades sanitárias globais (OMS) e
nacionais estão a anunciar, seria agora uma espantosa realidade; esta
combinação de vírus vivos pode ser particularmente letal porque
combina um vírus vivo com cerca de 60% de mortalidade mas pouco
contagioso (o vírus da gripe das aves) com um outro que tem uma
mortalidade muito baixa mas com uma grande capacidade de contágio (o
vírus da gripe sazonal) [9].

Em 29 de Abril de 2009, quando apenas tinham passado 12 dias sobre a
detecção dos dois primeiros casos da nova gripe, a Drª Margaret Chan,
directora-geral da OMS, declarou que o nível de alerta por perigo de
pandemia se encontrava na fase 5 e mandou que todos os governos dos
Estados membros da OMS activassem planos de emergência e de alerta
sanitária máxima; um mês mais tarde, 11 de Junho de 2009, a Drª Chan
declarou que no mundo já tínhamos uma pandemia (fase 6) causada pelo
vírus A/H1N1 S-OIV [10]. Como pode fazer tal declaração quando, de
acordo com os dados científicos expostos acima, a nova gripe é uma
realidade mais benigna que a gripe sazonal e, além disso, não é um
vírus novo e ao qual parte da humanidade está imune?

Pôde declará-lo porque no mês de Maio a OMS tinha alterado a definição
de pandemia: antes de Maio de 2009 para poder ser declarada uma
pandemia era necessário que por causa de um agente infeccioso morresse
uma proporção significativa da população. Esta exigência – que é a
única que dá sentido à noção clínica de pandemia e às medidas
políticas que lhe estão associadas – foi eliminada da definição
adoptada no mês de Maio de 2009 [11], depois dos EUA se terem
declarado em «estado de emergência sanitária nacional», quando em todo
o país havia apenas 20 pessoas infectadas com a nova gripe, e nenhuma
delas tinha morrido [12].

Consequências políticas da declaração de «pandemia»

No contexto de uma pandemia é possível declarar a vacinação
obrigatória para determinados grupos de pessoas ou, inclusivamente,
para o conjunto dos cidadãos [13].

O que é que pode acontecer a uma pessoa que decida não se vacinar?
Enquanto a vacinação não for declarada obrigatória não lhe pode
acontecer nada; mas se chegasse a declarar-se a vacinação obrigatória,
o Estado tem a obrigação de fazer cumprir a lei impondo multa ou
prisão (no estado de Massachussetts dos EUA a multa para estes caso
pode chegar a 1.000 dólares por cada dia que passe sem o prevaricador
se vacinar) [14].

Perante isto, há quem possa pensar: se me obrigam, vacino-me e já
está, a vacina é mais ou menos como a sazonal, também não há para
todos…

É preciso que se saiba que há três novidades que fazem com que a
vacina da nova gripe seja diferente da vacina da gripe anual: a
primeira é que a maioria dos laboratórios estão a desenhar a vacina de
forma que uma só injecção não seja suficiente e sejam necessárias
duas; a OMS recomenda também que não se deixe de administrar a da
gripe sazonal; quem seguir estas recomendações da OMS expõe-se a ser
infectado três vezes e isto é uma novidade que, teoricamente,
multiplica por três os possíveis efeitos secundários, embora na
realidade ninguém saiba que efeitos pode causar, pois nunca antes se
fez assim. A segunda novidade é que alguns dos laboratórios
responsáveis pela vacina decidiram adicionar-lhe coadjuvantes mais
potentes que os utilizados até agora nas vacinas anuais. Os
coadjuvantes são substâncias que se adicionam às vacinas para
estimular o sistema imunitário. A vacina da nova gripe que está a ser
fabricada pelo laboratório Glaxo-Smith-Kline, por exemplo, contém um
coadjuvante, AS03, uma combinação que multiplica por dez a resposta
imunitária. O problema é que ninguém pode assegurar que este estímulo
artificial do sistema imunitário não provoque, passado algum tempo,
doenças auto-imunitárias graves, como a paralisia crescente de
Guillain-Barré [15]. E a terceira novidade que distingue a vacina para
a nova gripe da vacina anual, é que as companhias farmacêuticas que a
fabricam estão a exigir que os Estados assinem acordos que lhes
garantam a impunidade no caso das vacinas terem mais efeitos
secundários que os previstos (por exemplo prevê-se que a paralisia
Guillain-Barré venha a afectar 10 pessoas por cada milhão de
vacinados); os EUA já assinaram estes acordos que garantem, tanto às
farmacêuticas como aos políticos, a retirada de responsabilidade pelos
possíveis efeitos secundários da vacina [16].

Uma reflexão

Se o envio de material contaminado fabricado pela Baxter não tivesse
sido casualmente descoberto em Janeiro passado, efectivamente,
ter-se-ia dado a gravíssima pandemia potencialmente causadora da morte
de milhões de pessoas que alguns andam a anunciar. É inexplicável a
falta de ressonância política e mediática do que aconteceu em
Fevereiro no laboratório checo. Ainda mais inexplicável o grau de
irresponsabilidade demonstrado pela OMS, pelos governos, pelas
agências de controlo e prevenção de doenças ao declarar uma pandemia e
promover um nível de alerta sanitário máximo sem uma base real. É
irresponsável e inexplicável até extremos inconcebíveis o bilionário
investimento saído do erário público destinado ao fabrico milhões e
milhões de doses de vacina contra uma pandemia inexistente, ao mesmo
tempo que não há dinheiro suficiente para ajudar milhões de pessoas
(mais de 5 milhões só nos EUA) que por causa da crise perderam o seu
trabalho e a sua casa.

Enquanto não forem clarificados estes factos, o risco de este Inverno
serem distribuídas vacinas contaminadas e o risco de poderem ser
adoptadas medidas legais coercivas para forçar a vacinação, são riscos
reais que em caso algum podem ser desvalorizados.

No caso da gripe continuar tão benigna como até agora, não faz
qualquer sentido a exposição ao risco de receber uma vacina
contaminada ou o de sofrer uma paralisia Guillain-Barré.

No caso de a gripe se agravar de forma inesperada, como já há meses
anunciam sem qualquer base científica um número surpreendente de altos
dirigentes – entre eles a Directora-Geral da OMS –, e repentinamente,
comecarem a morrer muito mais pessoas do que é habitual, ainda terá
menos sentido deixar-se pressionar para ser vacinado, porque uma
surpresa assim só poderá significar duas coisas:

1. Que o vírus da gripe A que agora circula sofreu uma mutação;
2. Que está em circulação outro (ou outros) vírus.

Em qualquer dos casos a vacina que se está a preparar agora não
serviria para nada e, tendo em conta o que aconteceu em Janeiro
passado com a Baxter, podia ser, inclusivamente, que servisse de
veículo de transmissão da doença.

Uma proposta

A minha proposta é clara:

Além de manter a calma, tomar precauções sensatas para evitar o
contágio e não se deixar vacinar, coisa que já propõem muitas pessoas
com senso comum no nosso país [Espanha].

Apelo a que se active com carácter de urgência os mecanismos legais e
de participação cidadã necessários para assegurar de forma rotunda que
no nosso país não se poderá forçar ninguém a vacinar-se contra a sua
vontade, e que os que decidirem livremente vacinar-se não serão
privados do direito de exigir responsabilidades nem do direito de
serem economicamente compensados (eles ou os seus familiares), no caso
da vacina lhes causar uma doença grave ou a morte.

Notas:
[1] Zimmer SM, Burke, DS. Historical Perspective: Emergence of
Influenza A (H1N1) viruses. NEJM, Julio 16, 2009. p. 279
[2] 'The reemergence was probably an accidental release from a
laboratory source in the setting of waning population immunity to H1
and N1 antigens', Zimmer, Burke, op. cit., p. 282
[3] Zimmer, Bunker, op. cit., p. 279
[4] Doshi, Peter. Calibrated response to emerging infections. BMJ
2009;339:b3471
[5] US Centers for Disease Control and Prevention. Serum
cross-reactive antibody response to a novel influenza A (H1N1) virus
after vaccination with seasonal influenza vaccine. MMWR 2009; 58:
521-4.
[6] Dados oficiais do Centro Europeu para o controlo e prevenção de
doenças (www.ecdc.europa.eu).
[7] Dados oficiais do Centro Europeu para o controlo e prevenção de
[8] Cf. Le Journal du Dimanche (25 juliol '09): Debré: 'Cette grippe
n'est pas dangereuse'; cf. La Razón (4 septiembre '09): Rodríguez
Sendín: Cordura frente el alarmismo en la prevención de la gripe A
[9] Cf. Virus mix-up by lab could have resulted in pandemic. The Times
of India, sección de ciencia, 6 marzo 2009.
[11] Cohen E. When a pandemic isn't a pandemic. CNN, 4 de mayo '09.
[12] Doshi Peter Calibrated response to emerging infections VMJ 2009;339:b3471
[13] Falkiner, Keith. Get the rushed flu jab or be jailed. Irish Star
Sunday, 13 septiembre '09.
[14] Senate Bill n. 2028: An act relative to pandemic and disaster
preparation and response in the commonwealth. 4 agosto '09. Cf. Moore,
RT. Critics rage as state prepares for flu pandemic. 11 septiembre
'09. WBUR Boston.
[15] Cf. Vaccination H1N1: méfiance des infirmières.
[16] Stobbe, Mark. Legal immunity set for swine flu vaccine makers.
Associated Press, 17 Julio '09.



Texto publicado no sítio da Coordenadora Antiprivatização de Saúde
Pública, Madrid, (www.casmadrid.org), em Setembro de 2009.


* Teresa Forcades i Vila, monja beneditina do Mosteiro de San Benedito
em Montserrat, Barcelona, é doutorada em Saúde Pública, especialista
em Medicina Interna pela Universidade de Nova Iorque, autora entre
outros livros de «Los crimines de las grandes compañias
farmaceuticas».


Tradução de José Paulo Gascão

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