3/07/2008

ALTERNATIVA 2

In; http://www.ecoblogue.net/index.php?, 20.20 horas de 2008/03 /05
"Mas vão surgindo focos de resistência, um pouco por todo o mundo dito desenvolvido. O “downshifting”, ou “simplicidade voluntária”, consiste num movimento nascido nos Estados Unidos da América, formado por pessoas que aceitam viver com menos. Fartos de jornadas de trabalho que pouco tempo deixam para o lazer e a vida familiar, muitos “yuppies” acabam por se demitir do emprego que os escraviza para aceitar um emprego com uma menor carga horária. O passo que se segue é o “downsizing”, isto é, a redução do consumo. Viver com menos implica para estes trabalhadores mudar para uma casa mais pequena, trocando uma McMansão por um apartamento, trocar de carro e cortar nas despesas supérfluas (jóias, produtos de cosmética, consolas, “home cinemas”, etc.).
Os adeptos da simplicidade voluntária têm de enfrentar os constrangimentos que decorrem de viverem numa sociedade consumista e orientada para o trabalho. Uma pessoa que rejeita o materialismo de forma tão radical será facilmente rotulada como louca ou como membro de uma seita religiosa. É ainda comum estes trabalhadores serem acusados de tentar disfarçar o seu falhanço no mundo do trabalho. Nada que preocupe quem vive a vida com um sorriso na cara, é claro.
Muitos movimentos em todo o mundo foram ainda mais longe, pondo em causa todo o consumo. Os “freegans” (palavra que resulta de juntar “free” - gratuito – e “vegan”) adoptam um estilo de vida baseado na minimização do consumo. Fartos de um sistema económico que é agressivo para com as pessoas, os animais e o meio ambiente, os “freegans” chegam ao ponto de revirar caixotes do lixo, cultivar hortas urbanas e ocupar casas para reduzir ao mínimo as despesas e assim trabalhar o mínimo possível. Associado a este movimento surgiu ainda o “Freecycle” como plataforma para a troca directa de produtos utilizando a Internet ou lojas onde as pessoas podem levar o que quiserem sem pagar no fim.
Para quem ainda não está preparado para viver uma vida de sem-abrigo, existe ainda a opção de criar um núcleo de “compacters” (compactadores), pessoas que se comprometem a comprar apenas os produtos de primeira necessidade, recorrendo a mercados de usados ou de troca directa sempre que possível. O movimento The Compact defende o apoio ao comércio de proximidade, a redução do desperdício e a simplificação das vidas, contando já com dezenas de comunidades nos EUA.
Mais insólita ainda é a “Church of Stop Shopping”, do Reverendo Billy. Regularmente, Bill Tallen e o seu grupo de “acólitos” invadem espaços comerciais cantando músicas religiosas que apelam ao não-consumo. Recriando o ambiente das igrejas evangélicas pentecostistas, este grupo formado por um actor profissional e voluntários apela aos valores cristãos para por em causa de forma sarcástica o consumismo presente na sociedade americana.

A tartaruga ultrapassa a lebre
Outra fonte de resistência à sociedade do consumo é o movimento “slow”, que leva à prática o velho ditado “depressa e bem não há quem”, defendendo uma redução de intensidade no ritmo das nossas vidas como forma de contrariar a lógica alienante do super-stresse. O ponto de partida foi o movimento “slow food”, criado em Roma em 1986 na sequência de protestos contra a abertura de um McDonald's. Em 1999, a cidade de Greve, na Toscana (norte da Itália), tornou-se a primeira "città slow" (cidade lenta), tendo como modelo as comunas italianas do século XII. A moda pegou e hoje há dezenas de cidades na Europa, (inclusive cidades portuguesas) que aderiram a este clube restrito, tendo que respeitar as seguintes regras: não podem circular carros nos centros, não são admitidos super ou hiper-mercados nem restaurantes “fast food”, os alimentos são produzidos localmente, a energia consumida é de origem renovável e a cidade não pode ter mais de 50 mil habitantes.
Na mesma linha de pensamento, a Sociedade para a Desaceleração do Tempo, fundada na Alemanha há 15 anos, promove a reflexão sobre a relação da humanidade com o tempo. Esta sociedade, que reúne milhares de pessoas todos os anos para discutir formas de desacelerar, cunhou até o termo “eigenzeit” (tempo próprio) para traduzir a ideia de que todo o ser vivo tem o seu próprio ritmo. Como forma de exprimir esta ideia, a Sociedade para a Desaceleração do Tempo vende aos seus associados relógios que apenas têm o ponteiro das horas.
Mais divertidos ainda são os japoneses do Clube da Preguiça. Os membros deste clube adoptaram a preguiça como mascote e, tal como a preguiça tem apenas três dedos, também eles têm três princípios: amor, paz e vida. Recentemente, opuseram-se à participação do Japão na guerra do Iraque com o lema “Make slow love, not fast war” (Façam amor lento, não guerra rápida).
No Reino Unido nasceu a Slower Speeds Iniciative, uma iniciativa conjunta de associações cujo fim é defender a redução da velocidade de circulação nas cidades. Forçando os automóveis a circular a velocidades reduzidas não só reduzimos o ruído e melhoramos a segurança rodoviária como melhoramos as condições para o transporte por meios não poluentes, como a bicicleta. Dois designers franceses levaram mesmo à prática este conceito de forma ousada, criando um modelo para um carro lento que pudesse circular no centro de Paris a 15 km/h.

Reclamando o tempo
Não é por acaso que a maior parte dos movimentos anti-consumismo ou pelo direito à preguiça surgem nos EUA. No país onde o capitalismo atinge o seu auge, até o direito a férias está em risco. Segundo a Take Back Your Time, uma associação que luta pelo direito a férias, o tempo de férias médio é mais baixo nos EUA que em qualquer outro país industrializado. Como não existe uma lei que estipule o direito a férias, o abuso é generalizado, pelo que esta associação procura apoios junto da indústria do turismo para pressionar os governantes.
A defesa de vidas mais simples e ritmos de vida mais ajustados às necessidades humanas deveria fazer parte das reivindicações de todo o movimento sindical. Esta não é apenas uma luta secundária protagonizada por adolescentes desiludidos com a vida, é uma prioridade para todos os trabalhadores que vêem o seu tempo a ser usurpado pela máquina capitalista. Defender jornadas de trabalho mais reduzidas, férias maiores e a simplificação da vida é combater a ideologia produtivista que está na base da destruição do planeta.
Quando perguntaram a um líder da AFL-CIO o que queriam os trabalhadores ele respondeu “mais”.
Hoje está na hora de mudar a palavra de ordem para “menos”.


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