11/09/2009

Histórias de Filmes 3 por Nair Lúcia De Britto


O PAGADOR DE PROMESSAS

(Brasil – 1962)


O Pagador de Promessas” foi a obra que consagrou Anselmo Duarte como diretor. Foi indicado para o Oscar, em 1963, como Melhor Filme Estrangeiro. E também foi o primeiro filme a receber o Palma de Ouro, no Festival de Cannes, na França.


Dias Gomes sempre demonstrou atenção para com as causas sociais em seus textos, e foi quem escreveu o roteiro. Ele conta a história de José (Leonardo Villar), um homem simples, dono de um terreno no sertão do Nordeste, onde morava com sua mulher, Rosa (Glória Meneses).


Zé do Burro”, era o apelido dele, devido a grande estima pelo seu burro que “tinha alma de gente”.


Durante uma forte tempestade, o galho de uma árvore atinge a cabeça do animal, deixando-0 doente. Zé, desesperado, procura a ajuda de Pedro Zeferino, rezador famoso na região, pelas várias curas realizadas. Junto ao rezador, Zé faz uma promessa à Iansã (Santa Bárbara). Se a santa salvasse o seu burro, ele doaria suas terras aos pobres e carregaria uma cruz, tão pesada como a de Jesus, desde sua terra-natal até a Igreja de Santa Bárbara, em Salvador, para oferecer ao padre.


Curado o burro, lá vai o Zé tratar de cumprir sua promessa. E assim começa o filme, com o Zé carregando sua cruz, ao lado da fiel companheira. Depois de muito sacrifício, ele chega à Igreja e conta sua história ao padre.


Mas o padre se recusa terminantemente a aceitar a cruz, proibindo-o de introduzi-la na Igreja, devido as “circunstâncias pagãs”.


Zé se justifica: “Seu vigário, me desculpe, mas eu tentei de tudo. Preto Zeferino é rezador afamado na minha zona!” E lhe conta como ele curou vários animais com “duas rezas e três rabiscos no chão”.

Mas o padre retruca: “Você fez muito mal meu filho. Essas orações são do demo!”

Como pode ser?! - Zé não se conforma. - “Se a oração fala de Deus!”


A confusão se forma quando os seguidores do Candomblé se aproveitam da situação para protestar contra o preconceito religioso da Igreja Católica.

Os jornais de Salvador também resolvem reclamar pela reforma agrária. Enfim, a simples promessa de um homem humilde transforma-se num tremendo tumulto.


A Polícia chega, e durante o confronto entre os policiais e os manifestantes, o inocente Zé acaba por perder a vida. Revoltados com o triste episódio, os manifestantes entram à força na Igreja e introduzem a cruz.


Sobre a obra que escreveu, Dias Gomes comentou: “O Pagador de Promessas é a história de um homem que não quis conceder e foi destruído. Seu tema central é, assim, o mito da liberdade capitalista. Baseado no princípio de liberdade de escolha, a sociedade burguesa não oferece ao indivíduo os meios necessários ao exercício dessa liberdade; tornando-a, portanto, ilusória”.

O Candomblé é a religião dos negros africanos que foi introduzida no Brasil, com a chegada deles a este país, para serem explorados como escravos; fixando-se principalmente na Bahia e em Pernambuco.


O Candomblé tradicional das regiões africanas, porém, é diferente dos chamados Candomblés de caboclos, que sofreu a influência das culturas indígena e mestiça, partir do século XIX.


O Candomblé tradicional era o recurso utilizado pelos escravos para se manterem fiéis às suas tradições e à cultura de seu país de origem. Na sua religião eles buscavam forças para suportar todo o sofrimento que lhes era imposto pelos brancos.


Dias Gomes quis destacar nesse filme o problema da intolerância para com o diferente. “A intolerância, o sectarismo, o dogmatismo fazem com que vejamos como inimigos aqueles que estão do nosso lado”.


O objetivo de todas as religiões é aperfeiçoar o homem como ser humano a fim de que seja digno de chegar até Deus. “Toda religião que não torna o homem melhor, não atinge o seu objetivo.”


Prêmios:

Indicado para o Oscar, como Melhor Filme Estrangeiro – EUA- 1962

Palma de Ouro (Festival de Cannes – França – 1962

Prêmio Especial do Juri (Festival de Cartagena – Colômbia – 1962)

Golden Gate, na categoria de Melhor Filme e Melhor Trilha Sonora (Festival Internacional de São Francisco – EUA – 1962)


ANSELMO DUARTE


Nasceu em Salto, interior paulista, no dia 21 de abril de 1920. Na sua terra natal, ele trabalhava no “Cine Pavilhão”, onde molhava a tela na qual o filme seria projetado. Um dia, leu o anúncio de Orson Welles, buscando pessoas para participarem do filme “It's All True”, que estava sendo rodado no Brasil, em 1942. Seguiu então para o Rio de Janeiro e iniciou como ator.

Em 1949 já era considerado o galã da Atlântida, onde atuou em inúmeros filmes. Ganhou o prêmio de melhor ator por sua atuação em “Um Pinguinho de Gente”, da revista “A Cena Muda”, do Rio.


Interpretou o personagem Trindade, na televisão, na novela “Feijão Maravilha” (1979). Sua estréia como diretor foi no filme “Absolutamente Certo” (1957).

Após ganhar o Palma de Ouro, Anselmo Duarte e sua equipe foram recebidos com um desfile público, em carro aberto, assim que ele desembarcou no Brasil.

Todos seus filmes recordam uma época ingênua e adorável que deixou saudades. Assim, como agora, deixa muita saudade o rapaz bonito e gentil de tantos filmes românticos que fez suspirar os corações das mulheres do nosso Brasil.


Ele nos deixou em São Paulo, no dia 7 de novembro de 2009.


Ao Anselmo Duarte, a minha homenagem!...



Fonte de pesquisa: Enciclopédia Universal Ilustrada Melhoramentos, Folha Online, Wikipédia e Dicionário Enciclopédico TUDO, da Editora Nova Cultural.

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