CHARLIE
Charlie é uma graça!
Somos bons amigos, porque nos identificamos muito... sabe!
Quer dizer, ele é calmo; eu também.
Não gosta de fazer nada com pressa, nem eu! Pressa pra quê?
Pra ficar com a pressão alta? Eu, heim!
Roma não se construiu num só dia. O que não der para fazer hoje, fica para amanhã. Fazer o quê?
Charlie me entende melhor do que qualquer pessoa. Quando me sinto triste, ou só... lá vem ele: pé, antepé... me fazer um chamego.
Às vezes, fica horas... a meu lado, calado, sem perceber o tempo passar.
Ah! Charlie! Deu muito encanto à minha vida, sabia? -- eu lhe digo.
Ele me sorri com seus olhos, infinitamente verdes...
Cheios de amor para dar!
E, quando ele me olha, parece ler no fundo da minha alma.
Parece que ele sabe como me sinto e do que eu gosto.
Por exemplo, ele sabe que eu não perco a novela das oito.
Assim que eu ligo a televisão e me sento no sofá da sala,
pula no meu colo, e deita a cabeça esperando pelo cafuné...
É um malandro esse Charlie!
Imagine que, outro dia, ele saiu de casa, sem me avisar.
-- Charlie!... Charliiiiiiie... -- Eu chamei. Você ouviu? Nem ele!
Fui dormir, preocupada.
E assim que amanheceu o dia, eu acordei me lembrando dele.
-- Onde será que ele se meteu? -- pensei.
Percorri a casa toda, nem sinal!
Instintivamente, fui até o jardim.
Sabia que ele gostava de ficar ali, distraído, observando a dança
alegre das borboletas pousando de flor em flor... Ele bem que tentava tocá-las, mas as borboletas eram tão ágeis como belas...
E, no jardim, agora, só vi as margaridas brancas, ainda molhadas
pelo orvalho da manhã. No ar, um cheirinho gostoso de mato!
Nisso, eu vi o Charlie, saindo do prédio, ao lado. Não estava só. Vinha ao lado da minha vizinha... todo sim senhor!
-- Posso saber o que significa isso? -- Botei a mãos na cintura,
zangada.
-- Sabe o que é... -- minha vizinha, sem graça, explicou:
-- O seu Charlie é tão simpático, que eu o convidei para me visitar. Conversamos, jantamos... aí, ele ficou com um sono danado e acabou dormindo. Bem... mas agora ele já está aí. É todo seu!
-- Que isto não se repita!
Charlie me olhava encabulado, sem saber o que responder.
-- Onde foi parar o seu medo de altura? -- E olhei na direção do 15. andar do prédio, de onde ele viera.
Mas, depois, a zanga passou.
Ele é um gato! Atencioso, gentil...
Eu não consigo ficar brava com o Charlie!
Só de vez em quando...
É quando eu preparo a comida dele... ele dá uma cheirada, deixa tudo no prato; e vai pra a rua, todo charmoso, de preto e branco... Pra verificar o que é que tem de interessante nos sacos de lixo!!!!
Chariliiiiiiiiie! -- Furiosa, eu chamo.
É um malandro esse Charlie!.... mas eu o amo!
NAIR LUCIA DE BRITTO
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