6/24/2009

POEMA 14 de João Carlos Martins

nunca foi o corpo

Nada correu como o previsto.

Quando cheguei, não sabia de ti.

Procurei-te até à exaustão nos lugares e nas pessoas do costume.

Ninguém sabia o teu nome e eu não estava seguro do nome que sabia.

Agora, procuro-te em corpos tão cansados como o meu.

No fim, quando a respiração abranda, descubro que nada encontrei.

Em ti não era o corpo.

Nunca foi o corpo.

Pela minha cama passaram corpos mais empenhados.

Pela minha cama passaram corpos mais absolutos.

Não deixaram quaisquer vestígios.

Apenas uma vaga noção de comparações.

Tentaste. Tu tentaste. O corpo nunca foi o teu forte.

Fora do teu corpo, estão os teus olhos. E as tuas mãos.

As tuas mãos estiveram sempre perto. Ainda as sinto.

Cada vez me lembro menos dos olhos.

O que eu não consigo esquecer é como eles sempre me viram tão feliz.

Destes e doutros dias, tenho-os todos numa mão.

Mas deixo cair alguns. Apanho-os um a um.

Encontro-te nalguns dos mais luminosos que estão no chão.

É nesses dias que encho o coração.

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