9/29/2008

TESTEMUNHO 13

KURNAZ, Murat, O Meu Inferno em Guantánamo – O testemunho de um prisioneiro, Porto, Ed. Âmbar, 2008 (284 pp. e ca. 20 euros)

“Quando regressei à gaiola não acreditei nos meus olhos: havia um novo prisioneiro [Abdul - N. de Kriu] (…) teria dezanove ou vinte anos (…) já não tinha pernas. As feridas eram muito recentes. Sentei-me na gaiola e quase não conseguia olhar para lá. (…) os cotos estavam cheios de pus. (…) Foi levado para interrogatório. (…) Ergueram-no e arrastaram-no pelo corredor, os seus cotos balançavam no ar e Abdul dava gritos horríveis “ (pp. 106/08)

“Abdul não era o único a quem tinham amputado uma parte do corpo. Assisti a isso muitas vezes em Guantánamo. Sei de um prisioneiro que se queixava de dores de dentes (…) não apenas lhe arrancaram o dente doente mas também oito dentes sãos (…) Muitos [prisioneiros] tinham pernas, braços ou pés partidos porque eram frequentemente espancados com bordões. Os ossos partidos também ficavam sem tratamento. (…) Vi um homem ser levado para o interrogatório. Quando regressou tinha o braço pendente, imóvel, apenas mantido preso ao corpo pela pele e pela carne. Nunca vi ninguém com gesso. Isso sara por si, diziam os guardas. (p.109)

“Uma vez consegui descobrir uma coisa dentro daquela gaiola (…) consigo ver o corredor através de uma fenda estreita. Teria sido melhor não ter feito isso. Porque quando os guardas chegaram com a comida e eu os estou a ver através da fenda, vejo como eles cospem na comida, antes de abrirem a portinhola e estenderem os pratos! Eles cospem em todos os pratos (…) Até àquele momento eu tinha-me alegrado quando vinha a comida. (p. 163)

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