12/30/2008

Natal... ou a ti que desapareces... (por: Gonçalo Barra)

... também as ondas se diluem no mar, e continuamos a chamá-las ondas, e também as marés se levantam e se esgueiram, e continuamos a chamá-las marés, e assim como água que somos, também nós nos espraiamos e encristamos, como, também,  o Sol nascente e poente, esse o nosso "vero pater", se espalha pelas nuvens e pelo leito do Tejo, como um espelho, para se reconcentrar no Zénite, impiedoso e altivo, porém, sempre cativo da incerteza até ao solstício, até ao Natal, ao renascimento confirmador do "Sol Invictus", e aí procuramos nós assumir a sua luz, descobrir as nossas feridas e fraquezas, e colmatá-las de alimento corpóreo e emocional, buscando a essência, o espírito do tempo que nos permita surpreender o futuro, esse negrume que sempre nos está engolindo, assim, como pó de estrela que comunica com o original, vamos nós confirmando a vitória do Sol, a imensa Luz Divina que a todos, sem diferença, quer cobrir, é a esperança do "Sol Omnibus Lucet" que nos perpassa, e na esperança vamos encontrando a nossa própria e funda fronteira, e na sua ausência as prisões cujos muros nós próprios alimentamos, o Natal sabe a isto, a esperança, a sangue novo, lustrado em cada copo de vinho velho, de velhos saberes e sabores, e sabe muito a felicidade, pois neste brilho eis que nos encontramos, e nos vamos reconhecendo, e essa humana certeza é o verdadeiro prémio de acreditar em tudo o que não se vê, como um lugar a que podemos chegar, e aí nós nos temos encontrado, neste nosso espaço de partilha e fuga, neste lugar de itinerância migratória que definimos como amizade, aí me encontro agora e ao que sabe? A vinho, a vinho velho e a vida, a vida nova.
 
Salue!

1 comentário:

  1. Anónimo1/3/09 17:47

    O Natal não é quando um Homem quer?....ou a ti que nunca estivéste...


    Não quererás dizer
    Nessa tua embriaguez divina
    que o Natal é quando um Homem quer
    Purgar tudo o que não fez na vida?

    E que o vinho que bebes
    de velhos sabores e saberes
    cobre-te de penas leves
    por novos amores e prazeres?

    Conhecerás então a gratidão
    sem vender sonhos alheios
    de quem te entrega o coração
    que entrelaças sem premeios?

    E secretamente o silêncio
    Proibido e só nosso
    Rasga-se para o Mundo imenso
    Porque calá-lo não posso.

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