CASTORIADUS, Cornelius, Uma Sociedade à Deriva, Entrevistas e Debates 1975/1997, 90 Graus Editores, 2006
"A nossa época é esta, em que se inventou esse termo supremamente ridículo de "pós-modernismo" para esconder a esterilidade ecléctica, o reino do facilitismo, a incapacidade de criar, a evacuação do pensamento em proveito de comentários, no melhor dos casos, do jogo verbal, da eructução. Época de parasitismo e de pilhagem generalizada. O que passa pelo último grito de "pensamento" e de "fisolofia política" será considerado, estou convencido disso, com compaixão dentro de uma ou três décadas. Porque no fundo que nos dizem? Que a história se deteve ou, melhor, que acabou. Desde a Antiguidade Grega a Europa definiu-se também pela filosofia e dizem-nos: fim da filosofia, resta apenas "desconstruir". Há vinte e oito séculos que a Europa se define pelas suas lutas visando modificar a instituição da sociedade, as suas lutas sociais e politicas, a sua criação política e dizem-os: a política (a verdadeira, a grande) acabou. A república parlamentar ou presidencial (o que se chama de "democracia", uma vez que se perdeu o respeito pelas palavras) eis a forma encontrada da sociedade. É verdade que restam algumas reformas por fazer: rever por exemplo, o regime dos abonos de família dos guardsa florestais. Mas no essencial a tarefa política, a tarefa instituinte da sociedade está concluída. Reagan, Thatcher, Kohl, Mitterrand/Chirac pelos séculos dos séculos.
Não podemos deixar de nos tornar, perante a evocação de semelhante pesadelo, irresistivelmente optimistas. Porque na perspectiva em causa há quase uma contradicção interna. Estamos a falar de figuras que são subprodutos, parasitas dos regimes contemporâneos, de figuras que, em caso algum, teriam sido capazes de os criar (do mesmo modo que os "desconstrutores" de hoje só podem viver pelo facto de os filósofos terem existido). E não serão sequer capazes, a prazo, de os conservar. Regimes esses produzidos pelas lutas dos povos em vista de objectivos bem mais radicais: objectivos de verdadeira autonomia. A filosofia, o verdadeiro pensamento, não acabou, quase poderíamos dizer que está a começar. E a grande política está por recomeçar. A autonomia não é simplesmente um projecto, é uma possibilidade efectiva do ser humano. Não se trata de prevermos ou decretarmos o sue advento ou apagamento, trata-de de trabalhar por ela. Atravessamos uma época baixa, nada mais." (p. 217/8)
" O ser não tem sentido, somos nós que criamos o sentido por nossa conta e risco (até mesmo sob a forma de religiões...)" p. 320
"A autonomia - a verdadeira liberdade - é a auto-limitação necessária, não só nas regras de comportamento intra-social, mas nas regras que adoptamos no nosso comportamento em relação ao meio ambiente" (p. 321)
"A nossa época é esta, em que se inventou esse termo supremamente ridículo de "pós-modernismo" para esconder a esterilidade ecléctica, o reino do facilitismo, a incapacidade de criar, a evacuação do pensamento em proveito de comentários, no melhor dos casos, do jogo verbal, da eructução. Época de parasitismo e de pilhagem generalizada. O que passa pelo último grito de "pensamento" e de "fisolofia política" será considerado, estou convencido disso, com compaixão dentro de uma ou três décadas. Porque no fundo que nos dizem? Que a história se deteve ou, melhor, que acabou. Desde a Antiguidade Grega a Europa definiu-se também pela filosofia e dizem-nos: fim da filosofia, resta apenas "desconstruir". Há vinte e oito séculos que a Europa se define pelas suas lutas visando modificar a instituição da sociedade, as suas lutas sociais e politicas, a sua criação política e dizem-os: a política (a verdadeira, a grande) acabou. A república parlamentar ou presidencial (o que se chama de "democracia", uma vez que se perdeu o respeito pelas palavras) eis a forma encontrada da sociedade. É verdade que restam algumas reformas por fazer: rever por exemplo, o regime dos abonos de família dos guardsa florestais. Mas no essencial a tarefa política, a tarefa instituinte da sociedade está concluída. Reagan, Thatcher, Kohl, Mitterrand/Chirac pelos séculos dos séculos.
Não podemos deixar de nos tornar, perante a evocação de semelhante pesadelo, irresistivelmente optimistas. Porque na perspectiva em causa há quase uma contradicção interna. Estamos a falar de figuras que são subprodutos, parasitas dos regimes contemporâneos, de figuras que, em caso algum, teriam sido capazes de os criar (do mesmo modo que os "desconstrutores" de hoje só podem viver pelo facto de os filósofos terem existido). E não serão sequer capazes, a prazo, de os conservar. Regimes esses produzidos pelas lutas dos povos em vista de objectivos bem mais radicais: objectivos de verdadeira autonomia. A filosofia, o verdadeiro pensamento, não acabou, quase poderíamos dizer que está a começar. E a grande política está por recomeçar. A autonomia não é simplesmente um projecto, é uma possibilidade efectiva do ser humano. Não se trata de prevermos ou decretarmos o sue advento ou apagamento, trata-de de trabalhar por ela. Atravessamos uma época baixa, nada mais." (p. 217/8)
" O ser não tem sentido, somos nós que criamos o sentido por nossa conta e risco (até mesmo sob a forma de religiões...)" p. 320
"A autonomia - a verdadeira liberdade - é a auto-limitação necessária, não só nas regras de comportamento intra-social, mas nas regras que adoptamos no nosso comportamento em relação ao meio ambiente" (p. 321)
Sem comentários:
Enviar um comentário